HISTÓRIA DA PALESTINA

Diário de um guerrilheiro palestino

Um guerrilheiro da FPLP conta como foi o início do ataque jordaniano a cidade de Amã para esmagar a resistência

O ataque do rei Hussein da Jordânia, a serviço do sionismo e do governo dos EUA, em setembro de 1970 é uma das maiores tragédias da história da luta do povo palestino. Ele é lembrado como Setembro Negro, uma das maiores traições da história. Um guerrilheiro da FPLP, que lutava na Jordânia, escreveu um diário que descreve exatamente qual era o clima político daquele momento.

O diário começa em 16 de setembro: “a tensão tem aumentado sem uma causa real e direta. Notei isso quando estava perto do Hotel Philadelphia, então fui perguntar sobre isso no escritório da Frente Popular nas proximidades, na borda do distrito de Jaufa. Z. estava lá. Ele também achava que nada aconteceria, mas acreditava que todos deveriam agir como se a batalha fosse estourar a qualquer momento.

O camarada A. me disse que muitos tanques foram vistos se reunindo em vários pontos ao redor da cidade desde a manhã. Segundo ele, tanques estavam vindo de Madaba, no sul, em direção à capital. O camarada A. acha que as horas da noite serão críticas, que então a explosão acontecerá e a batalha começará. Mas ele não me convenceu, e não conseguiu me explicar por que pensava assim. Rindo, ele me disse que meu problema é que uso a lógica para analisar o comportamento ilógico das pessoas.

Quando estava saindo do escritório de Jaufa, ouvi o Haj, que estava em seu uniforme, dizendo aos jovens: ‘Lubrifiquem seus Kalashnikovs, rapazes’.”

O quadro é muito interessante. Os guerrilheiros se organizam livremente na capital da Jordânia, Amã. Essa era a conjuntura assustadora para o Estado de “Israel”. Caso o movimento seguisse crescendo, e ele havia começado a crescer a partir de 1969, poderia facilmente juntar um contigente militar enorme e realizar uma operação militar de retomada da Cisjordânia ocupada. Naquele momento a ocupação era muito menos equipada do que é hoje. Outra preocupação era que o movimento palestino ganhasse tanta força que se tornasse um movimento contra o rei, um governo nacionalista da Jordânia seria ainda pior do a guerrilha palestina.

O diário segue no dia 17: “aproximadamente às cinco da manhã de quinta-feira, 17 de setembro, a artilharia do rei Hussein, posicionada nas colinas ao redor da cidade, lançou um ataque implacável a Amã. Logo, colunas de tanques tentaram entrar na cidade em pontos estratégicos, sendo um deles a estrada principal de Suelih, a oeste da cidade; essa estrada entra na cidade no distrito de Shmisani, onde muitos grupos de comandos tinham escritórios. (Os objetivos do exército nesta área eram superar os escritórios dos comandos, avançar no grande círculo de tráfego conhecido como Maxime e, em seguida, no campo de refugiados Hussein nas proximidades.)

Pela primeira vez, escrever neste livro se tornou muito difícil: agora é diferente—como esculpir uma lápide ou compor um testamento. Hoje foi aterrorizante. Estávamos com raiva. Estávamos tensos. Brigamos uns com os outros. Acho que isso foi por causa das explosões contínuas. Mas nossos jovens lutaram bravamente”.

Um cerco a capital com tanques de guerra realmente era difícil de imaginar. Mas foi o que aconteceu. O rei Hussein se mostrou como um enorme traidor da causa dos palestinos. A monarquia da Jordânia sempre havia colaborado com o imperialismo mas até esse momento nunca tinha feito nada tão agressivo contra os próprios palestinos. Essa mancha seria eterna na história da Jordânia.

O texto segue: “vi disparos intensos dos nossos canhões antitanque e bazucas RBJ. Nossos amigos relataram que cerca de cinquenta caminhões cheios de infantaria estavam dirigindo atrás de quarenta tanques Centurion e Patton e cerca de trinta veículos blindados meia-lagarta. Então, os homens do Fatá começaram a usar seus morteiros. Os tanques pararam de bombardear por quinze minutos. Por volta das seis horas, a infantaria atacou sob a cobertura de fogo dos tanques e começou a avançar sobre nossos escritórios em Shmisani. Os escritórios das organizações estão todos próximos uns dos outros: a sede das Forças de Libertação Popular, o Comando da Luta Armada Palestina, a Frente de Libertação Árabe, a Frente Popular para a Libertação da Palestina, o Exército de Libertação Popular e a Frente Democrática. O ataque foi contra todos eles, completamente simultâneo”.

O objetivo do governo jordaniano não poderia ficar mais claro. E então: “de repente, todos nos juntamos. Todas as barreiras entre as organizações desapareceram. Nos encontramos juntos em uma trincheira, atrás de uma parede, nos locais das ruínas dos escritórios. Todos nós, de diferentes grupos, estávamos trabalhando juntos sem hesitação. Esperamos até que a infantaria se aproximasse de nós. Não me lembro de que nenhum de nós tenha disparado. Então, de repente, todos abrimos fogo com nossas metralhadoras. Depois de dois minutos, os soldados do exército começaram a fugir. Nós os observamos correr sob a luz das bombas e da artilharia até alcançarem seus tanques e se esconderem. Às sete horas da manhã, os guardas na sede das Forças Populares em Shmisani estavam lutando bravamente. Eu nunca tinha visto pessoas lutarem dessa forma”.

Infelizmente a resistência foi incapaz de derrotar a Jordânia. Todo o imperialismo estava apoiando o governo para esmagar a resistência palestina. Os guerrilheiros então foram em grande maioria para o Líbano. Lá se iniciaria outra etapa da guerra pela destruição do Estado de “Israel” e a libertação da Palestina.

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