Os sionistas afirmam que Deus deu a terra de Canaã, que seria um território semelhante ao mapa da Palestina criado em 1917, para o Povo de Israel. Apesar do argumento religioso ser absurdo por si só, pois se realmente isso estivesse escrito no texto sagrado, não daria direito da população nativa de palestinos ser massacrada; é ainda pior quando se descobre que Deus não deu a terra para o povo de Israel, mas sim para Abrãao e seus descendentes, ou seja, para os palestinos, não para os europeus.
As primeiras citações estão no livro de Gênesis: (12:1-7) Deus chama Abraão e promete dar a terra de Canaã à sua descendência: “então o Senhor apareceu a Abrão e disse: ‘à tua descendência darei esta terra’. E Abrão edificou ali um altar ao Senhor, que lhe havia aparecido”; (13:14-17) após a separação de Abrão e Ló, Deus reafirma a promessa: “toda a terra que você está vendo darei a você e à sua descendência para sempre”. Abraão nasceu em Ur dos Caldeus, na antiga Mesopotâmia, atual Iraque. Depois de chegar a Canaã viveu na cidade de Hebrom, ela existe até hoje na Cisjordânia ocupada pelos sionistas.
Os sionistas afirmam que são os donos da Palestina, pois são os descendentes de Isaque, filho de Abraão. Mas eles ignoram de onde surgiu o povo árabe, são os descendentes de Ismael, filho de Abraão. Para afirmar que a terra de Canaã não seria de Ismael os sionistas usam este trecho:
“E disse Abraão a Deus: ‘Que Ismael viva sob a tua bênção!’ Então Deus respondeu: ‘Na verdade, Sara, sua mulher, dará à luz um filho, e você o chamará Isaque. Com ele estabelecerei a minha aliança, uma aliança eterna para a sua descendência depois dele. Quanto a Ismael, ouvi o seu pedido: eu o abençoarei, farei dele fértil e multiplicarei muito a sua descendência. […] Mas a minha aliança eu a estabelecerei com Isaque'” (Gênesis 17:18-21).
Este trecho não é o suficiente para convencer que a promessa feita para Abraão não vale para Ismael. Deus apenas fala que sua aliança será com Isaque, mas não cita a terra de Canaã. Os sionistas interpretam que por isso a terra não seria também de Ismael, apenas uma interpretação.
Enquanto isso, o outro livro sagrado, o Corão, coloca Abraão com extrema importância: “e quando Abraão e Ismael levantavam os alicerces da Caaba, dizendo: ‘Nosso Senhor, aceita isto de nós. Em verdade, Tu és o Oniouvinte, o Onisciente’“ (Surata Al-Baqarah, 2:127).
No fim, o texto sagrado dos judeus afirma que a terra é de Abraão e seus descendentes, e depois afirma que um descendente específico tem a aliança, mas não cita a terra de Canaã. Ou seja, a palestina foi dada para todos os descendentes de Abraão, sejam os judeus do Oriente Médio, sejam os árabes. Os sionistas afirmam que está claro que a terra é para os descendentes de Isaque, mas isso está totalmente aberto para debate.
Os palestinos são descendentes de Isaque e de Ismael
Passando para a parte propriamente histórica. Quem são os sionistas que afirmam que a terra de Canaã é sua? Os europeus que se converteram ao judaísmo milênios depois de que deus teria feito a promessa para Abraão. Por isso eles são brancos como qualquer europeu. Basta ver a imagem do primeiro gabinete de guerra após o início da invasão de Gaza e 2023. Netaniahu, Galant e Gantz parecem que são governantes da Polônia.
E quem são os palestinos? Como um povo real, e não um povo inventado pelos sionistas, são a mistura de todas as populações que habitaram aquela terra, ou seja, uma mistura enorme. Primeiro os próprios cananeus, os egípcios já estavam muito presentes nesse momento, a eles se somaram as tribos de Israel, os assírios, os babilônios, os persas, os gregos, os romanos, os árabes, os europeus nas cruzadas, os árabes novamente, os turcos e por fim os ingleses. São 4 mil anos de história que formaram o povo palestino.
Os descendentes de Isaque são uma das bases da formação do povo palestino. Os descendentes de Ismael também vieram com a conquista árabe. Ou seja, do ponto de vista histórico, os palestinos são bem mais próximos dos descendentes de Abraão, do que os europeus sionistas que imigraram no século XX com apoio dos banqueiros ingleses.
No fim, todo o argumento religioso é irrelevante, o que importa é a defesa dos oprimidos, que são os palestinos. Mas é interessante que nem mesmo o embasamento religioso funciona para defender a ocupação sionista. Isso sem citar a grande corrente do judaísmo que afirma que os judeus não devem migrar em massa para Palestina e muito menos formar um Estado.
Os palestinos, por sua vez, não usam o argumento religioso, eles apenas lutam pela terra que sempre foi sua e que foi ocupada por europeus em um projeto monstruoso do imperialismo.