Em 2019, um relatório produzido pelo think tank norte-americano especializado em estratégia militar, Rand Corporation, descreve, com clareza, a tática de “imposição de custos” que vem sendo aplicada contra a Rússia. A instituição afirma que o objetivo é minar a economia russa, abalar sua estrutura política e restringir sua influência militar, especialmente nas regiões próximas. Nas palavras do relatório, os EUA devem buscar maneiras de “sobrecarregar e desequilibrar” o gigante eslavo para enfraquecer seu papel como “competidor paritário” em diversas áreas estratégicas.
De acordo com o relatório, que evoca a “competição estratégica de longo prazo” utilizada durante a Guerra Fria, o objetivo é alocar os recursos russos em áreas inofensivas ao imperialismo, desviando-os de investimentos que fortaleceriam seu poder militar e econômico. Assim, os EUA procuram expandir sua própria produção energética para reduzir as receitas russas oriundas do gás e do petróleo, vitais para o orçamento do país. O think thank recomenda, ainda, a intensificação das sanções econômicas de forma coordenada com aliados, visando desestabilizar o governo russo internamente e provocar descontentamento popular. Em resumo, o que está em curso é uma campanha de sufocamento que pretende não só isolar, mas também colocar a Rússia em constante estado de tensão e desgaste.
A estratégia imperialista não se limita ao plano econômico, mas inclui também um componente político explícito, como o fornecimento de armamentos para a Ucrânia, que tem servido como linha de frente desse cerco à Rússia. Além disso, a organização sugere o apoio a territórios em conflito com a Rússia, como a Geórgia e a Moldávia, nos quais o apoio financeiro e logístico do imperialismo visa desestabilizar regiões de interesse russo e estabelecer governos alinhados aos interesses norte-americanos. A Transnístria, território de maioria russa que luta contra o domínio moldavo, é apontada como uma região onde a retirada das tropas russas representaria um “golpe ao prestígio russo”. No entanto, mesmo o think tank reconhece que tal manobra poderia aumentar os custos também para os aliados imperialistas, destacando os limites práticos dessa política de intervenção.
Esse modelo de interferência é notório em várias regiões onde o imperialismo e seus satélites atuam como instrumentos de desestabilização. Desde a Revolução Rosa na Geórgia em 2003, financiada por esses poderes, até o golpe do Euromaidan em 2014 na Ucrânia, vemos as chamadas “revoluções coloridas” funcionando como fachadas para assaltos aos países vizinhos do gigante eslavo, que visam isolar a Rússia e implantar regimes antirrussos nas fronteiras do país. É uma tática de “barrar o inimigo” que, longe de promover qualquer democracia, cria Estados satélites voltados a cumprir os desígnios econômicos e militares do imperialismo.
A Rand Corporation não se furta em recomendar também o estímulo à emigração de profissionais qualificados russos, com a intenção de prejudicar a economia a longo prazo e limitar a capacidade de inovação do país. Em um de seus trechos, o relatório sugere que incentivar a saída de mão de obra qualificada “poderia ajudar os EUA e prejudicar a Rússia”, ainda que esses efeitos sejam de difícil mensuração a curto prazo. Trata-se, na verdade, de uma “guerra fria” moderna, onde o imperialismo procura criar um círculo de instabilidade em torno da Rússia, usando esses países como fantoches e fomentando divisões regionais e internas.
Na dimensão ideológica, as medidas sugeridas pelo órgão norte-americano são igualmente brutais. O think tank recomenda o uso de meios de comunicação e ONGs para fomentar protestos internos e difundir acusações de “corrupção” contra o governo russo, com o objetivo de minar sua legitimidade. Contudo, reconhece que tais ações correm o risco de provocar uma reação enérgica por parte da Rússia, que poderia adotar políticas ainda mais severas ou até mesmo “diversionistas”, buscando um conflito direto como resposta.
Esse cerco político, longe de visar uma “defesa democrática”, tem como objetivo último transformar o Leste Europeu em uma zona de influência da ditadura mundial do imperialismo, arrastando os países vizinhos à Rússia para um papel submisso de peças em um jogo de poder. Transnístria, Geórgia e Moldávia são exemplos claros de como o imperialismo gera zonas de conflito para desestabilizar adversários, criando territórios vulneráveis que se tornam presas fáceis para os interesses dos monopólios norte-americanos e europeus.