O PSTU publicou, no dia 2 de dezembro, em seu jornal Opinião Socialista o artigo Ofensiva rebelde surpreende a ditadura síria e toma Aleppo. Assinada por Fábio Busco, a matéria mantém uma política de alinhamento com o imperialismo no caso da sírio.
Segundo o PSTU, a ofensiva das forças apoiadas pelo imperialismo seria uma manifestação da “vontade popular” contra o regime de Assad.
“A ofensiva rebelde se apoia em primeiro lugar no ódio que a população síria sente em relação à ditadura Assad e seus apoiadores iranianos e russos.”
O povo sírio estaria contra o regime e seus apoiadores iranianos e russos e por isso a vontade popular estaria expressa nos “rebeldes” que tentaram tomar Aleppo. A primeira questão é saber como o PSTU tem tanta certeza disso. Na verdade, a própria matéria se contradiz.
Ela explica que a Síria está dividida, desde a guerra civil, por cinco forças militares estrangeiras: 1) as milícias apoiadas por Irã e Rússia, que são, na realidade, as forças que apoiam o governo Assad e dominam a maior parte do país, 60%; 2) as forças apoiadas pelos Estados Unidos, que controlam 27%; 3) Forças apoiadas pela Turquia; 4) o controle “israelense” das Colinas de Golã; 5) o grupo Daesh, ou Estado Islâmico, na fronteira com o Iraque.
Tal resumo está baseado no que diz o artigo do PSTU. Apesar de todas essas forças, incluindo as abertamente apoiadas pelo imperialismo norte-americano, o artigo acredita que o maior problema seria a “ditadura de Assad”. Mas nem mesmo o artigo se decide sobre isso:
“De qualquer forma, essa ofensiva em Aleppo está em sintonia com os anseios da ampla maioria da população síria pelo fim da ditadura, da ocupação estrangeira e da pobreza, às quais está submetida. Mas falta uma organização dirigente totalmente diferente do HTS, uma organização operária, democrática e revolucionária.”
Vejamos cuidadosamente esse parágrafo. Os anseios da população, segundo o artigo, seria pelo fim da ditadura, mas também da ocupação estrangeira. Apesar de o povo não querer a ocupação estrangeira, o PSTU optou por apoiar a ofensiva do Hayat Tahrir al-Sham contra o governo sírio. Por que escolheram esse grupo?
Aparentemente nem o PSTU sabe responder, pois mais à frente, o texto diz: “Nenhuma confiança no HTS!”.
“Não podemos aceitar que a ditadura Assad seja substituída por outra ditadura de grupos autocráticos, seja o HTS ou qualquer outro. A luta por liberdades democráticas para o povo trabalhador sírio caminha junto com a luta contra a ditadura Assad.”
Ao terminar de ler o artigo, temos a nítida impressão que o PSTU está totalmente desorientado na situação. Os rebeldes do HTS seriam a expressão do ódio do povo contra Assad, mas esse povo também não gosta da ocupação estrangeira, sendo o HTS apoiado pela Turquia, não conseguimos saber porque o “povo” estaria apoiando essa ofensiva.
No fundo, diante das forças em conflito, o PSTU não sabe que posição tomar. Mas há uma posição que ele rejeita totalmente: a das forças pró-Assad, isso sabemos. Sendo assim, uma coisa é certa, ao colocar Assad como o principal inimigo, o PSTU está alinhado com o imperialismo.
A total desorientação do artigo se dá porque simplesmente o PSTU ignora totalmente as coordenadas da luta de classes internacional.
Não seria tão difícil se o PSTU tivesse como princípio a luta contra o imperialismo, representado nesse caso em primeiro lugar pela ocupação norte-americana.
A Síria não está isolada. O conflito fundamental do Oriente Médio nesse momento se dá em torno do problema palestino. De que lado estão os EUA nessa questão? A favor do genocídio palestino. De que lado está Assad e os que o apoiam, a favor da luta do povo palestino.
As acusações de que o regime Assad não faz nada em relação à invasão “israelense” nas Colinas de Golã são levianas. Assad está sob um intenso ataque do imperialismo, com quase metade do país toamando por forças estrangeiras e o PSTU acha que basta exigir de um governo nessa situação que enfrente o Estado de “Israel”. Esse tipo de acusação serve apenas para confundir o panorama.
A primeira coisa a ser dita é que a ajuda de Irã e Rússia ao governo Síria não é uma ocupação estrangeira. Essa é uma calúnia contra as forças de resistência que montaram uma coalizão, inclusive superando divergências, para sustentar o governo Assad contra a ocupação imperialista. E porque sabiam que a queda de Assad significa o fortalecimento do imperialismo e consequentemente do sionismo.
Não tem como haver dúvida de que essa coalizão é a força que nesse momento enfrenta o imperialismo e, portanto, é a força mais progressista entre todas. O Hesbolá cumpre um papel crucial na luta do povo palestino; o Irã cumpre papel crucial na articulação do Eixo de Resistência que inclui os grupos da resistência palestina.
O PSTU ignora a realidade e afirma: todos são ruins, mas Assad e seus aliados são piores.
A pergunta que fica é: na Síria esses grupos são reacionários e na Palestina não? É uma ideia extravagante. Mas mesmo se fosse possível uma contradição dessa natureza, ainda assim não seria o caso em questão. Como dissemos, a decisão do Irã de direcionar parte dos esforças de sua Guarda Revolucionária e do Eixo de Resistência para apoiar Assad tem um cálculo muito preciso que é a necessidade de impedir que o imperialismo tome conta da Síria, o que seria um desastre para os povos da região, em particular para o povo palestino.
O PSTU ignora ou finge ignorar essa coordenada básica da luta política na região. Substitui o problema concreto por um amontoado de frases de efeito pseudo-revolucionárias como:
“Os ativistas comprometidos com os ideais das revoluções árabes (liberdade, pão e justiça social) têm que construir uma nova organização política, que impulsione os conselhos populares democráticos nas zonas liberadas, onde o povo trabalhador possa decidir o futuro da luta contra a ditadura”
Isso é realmente muito bonito, mas como o PSTU pretende chegar nesse ponto? Segundo o artigo, apoiando o “rebeldes”, o que significa que para chegar na democracia, o PSTU acredita que seria melhor que o imperialismo derrubasse Assad e derrotasse o Eixo de Resistência. Seria melhor enfraquecer a luta palestina fortalecer o imperialismo, para conseguir chegar no ideal democrático e revolucionário do PSTU. Uma coisa completamente sem sentido.
O caminho, como explicaram os marxistas que o PSTU diz seguir, é o contrário. Primeiro é preciso derrotar o imperialismo, a força mais reacionária da história, para abrir caminho para a conquista de direitos democráticos.