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Partido dos Trabalhadores

Derrota em 2024 resultou do ‘antipetismo’ ou da frente ampla?

Edinho Silva, candidato de Lula à presidência do PT segundo O Globo, atribuiu a derrota nas eleições ao "antipetismo" e defendeu a continuidade da política de frente ampla

No último domingo (3), o jornal O Globo publicou uma entrevista com Edinho Silva, atual prefeito de Araraquara e, segundo esta mesma imprensa, o “favorito de Lula para disputar a presidência do PT no ano que vêm”. Nesta entrevista, foi discutida a derrota nas eleições municipais de 2024. O petista considera que o “antipetismo” favoreceu o “sentimento antissistema” e aposta na política de frente ampla para 2026. 

Mas seria o antipetismo, seja lá o que se entende por esse termo, o responsável pelo sentimento antissistema do povo brasileiro? Seria o bolsonarismo uma política antissistema? Será que a mesma política de aliança com a direita golpista que resultou numa derrota acachapante neste ano vai resultar em vitória nas próximas eleições? 

Segundo Edinho, teria sido “uma eleição muito difícil, numa conjuntura muito adversa para o campo progressista e democrático. Há um crescimento da direita que não é novo e se dá no mundo inteiro, desde a crise de 2008. No Brasil, ela ganhou força com as manifestações de junho de 2013, que mudaram a correlação de forças. É uma direita que se mobiliza nas ruas e nas redes, com grande capacidade de organização, que dá visibilidade a lideranças que investem no sentimento antissistema. Pessoas que acreditam que o estado não é capaz de mudar as coisas, que colocam a política em descrédito e geram uma grave crise na nossa democracia. 

Aqui deve-se esclarecer alguns equívocos que resultam em confusão sobre a atual crise política no Brasil e no mundo. A crise econômica mundial iniciada em 2008 realmente permitiu o crescimento da extrema-direita em vários países importantes. Isso porque o sistema capitalista dominado pelos bancos não pode conviver sequer com uma política mínima de bem-estar social e precisa atacar o sistema de previdência, os direitos trabalhistas, o salário mínimo, os programas sociais e os serviços públicos para sobreviver. É por esse motivo que Donald Trump nos Estados Unidos e Marine Le Pen na França, entre outras figuras da extrema-direita no mundo todo, têm se fortalecido. 

Mas a ideia de que as manifestações ocorridas em junho de 2013 mudaram a correlação de forças é falso. Em primeiro lugar, cabe destacar que essas manifestações eram dirigidas contra os governos de São Paulo, com Geraldo Alckmin (PSDB) à frente, Rio de Janeiro, com Sérgio Cabral (PMDB), e Minas Gerais, com Antônio Anastasia (PSDM). Foi a política de setores sectários da esquerda, como PSOL, e movimentos liderados por figuras como Guilherme Boulos que, ao proibir levantar as bandeiras da esquerda, permitiram que a burguesia capturasse as mobilizações por todos país para fins golpistas. Depois da ruptura democrática de 2016, com o golpe de Estado contra a presidente petista Dilma Rousseff, as bases dos partidos do “centro” político, responsável pela dominação da burguesia por via da “democracia”, se esvaziou em virtude da radicalização que sofreu com a campanha golpista. O regime, então, implodiu.  

Diferente do que considera o prefeito de Araraquara, Bolsonaro não é um candidato antissistema. A burguesia o apoiou em 2018 e pode voltar a apoiá-lo, se não restar outra alternativa, até porque, em grande medida, seu governo foi um governo dos banqueiros e privatizador, assim como os governos de FHC (Fernando Henrique Cardoso). É um erro de setores da esquerda defender, ao invés de denunciar essas instituições do Estado e o regime político falido da burguesia. Essa política os distância dos setores populares e permite o crescimento do bolsonarismo no interior de suas bases. 

Ao ser questionado sobre se a eleição de Lula teria sido uma reação, Edinho considerou que sim, mas considerou que o PT tem dificuldade de lidar com o eleitor que vota Bolsonaro porque nós defendemos o Estado. E sem os instrumentos que o Estado cria, a gente não combate a desigualdade. Enquanto isso a direita ataca o Estado, Judiciário, ataca as instituições… E como não tem responsabilidade com a transformação, fica em vantagem para dialogar com antissistema. Agora, sair disso é uma construção política. Nós vamos ter que construir alianças. Tem que dialogar com o campo democrático e fazer reformas que possam melhorar a relação do Estado com a sociedade civil. 

O prefeito petista não compreende que o povo brasileiro tem uma história e que acumulou uma experiência política, que uma parte significativa da população não acredita nas instituições do Estado dominado pela burguesia. Essas mesmas instituições que comandaram o Julgamento do Mensalão contra lideranças do PT, que participaram do golpe de Estado para atacar os direitos trabalhistas, garantir o “teto de gastos públicos” e pilhar o patrimônio nacional, como é o caso da Petrobrás, também garantiram a vitória de Bolsonaro, ao impedir a participação de Lula nas eleições de 2018, depois de ter sido preso arbitrariamente na operação farsesca da Lava Jato, para destruir a previdência dos trabalhadores e colocar a economia nacional a serviço dos banqueiros com a “independência do Banco Central”. Por que o povo deveria acreditar nas instituições do Estado que para garantir lucro aos capitalistas que promovem a miséria, fome, desemprego, destruição da indústria e entrega do patrimônio nacional? 

Sobre a tese de que a política de “frente ampla” teria atrapalhado o PT nas eleições de 2024, o petista disse que “até agora eu estava me vigiando para não gerar polêmica. Mas é um erro absurdo avaliar isso. Se a gente não tivesse uma política de alianças ampla, em 2022, o presidente Lula não ganhava. Foi a eleição mais polarizada da história do Brasil”. No que se refere ao resultado nas urnas ser um recado sobre a insatisfação com o governo Lula, Edinho considera que seria errado jogar essa responsabilidade sobre o governo e que a “situação que o presidente Lula assume, com o rombo fiscal, não deu a celeridade que poderia ter dado às políticas públicas.” 

O líder petista parece não ter memória. A política de frente ampla resultou numa insatisfação de diversos setores populares. A escolha de Geraldo Alckmin como vice-presidente fez uma parte significativa de setores organizados, como os professores de São Paulo, se não abandonar o apoio ao presidente Lula nas urnas, ao menos se afastarem de um apoio nas ruas para fortalecer sua campanha. Essa política foi um verdadeiro desastre que quase fez Lula perder a eleição. Uma suposta margem nas pesquisas de intenção de votos não apareceu no resultado do primeiro turno e fez Lula abandonar a política do organizador de derrotas Guilherme Boulos, a quem Edinho considera que “talvez seja a maior liderança da esquerda” dessa “nova geração”. Foi a mobilização popular que garantiu a vitória de Lula e não a frente ampla. Essa política tem servido, inclusive, para setores da esquerda, como o PSTU, atacarem o governo. 

A população que elegeu o presidente Lula esperava que o governo colocasse fim ao golpe de Estado de 2016. A eleição teve o significado de uma vitória parcial sobre o golpe e o bolsonarismo. O povo esperava que o governo revogasse medidas como o “teto de gastos”, a “independência do Banco Central”, as reformas da previdência e trabalhista, que o salário-mínimo voltasse a ser valorizado, que as privatizações fossem desfeitas. Mas, ao invés disso, Haddad lança mão de uma política econômica que atende somente aos interesses dos capitalistas e contra setores da população, como é o caso da reforma tributária, da taxação de importados na internet, dos cortes de programas sociais e da falta de reajuste nos salários dos servidores públicos. Nesse sentido, os resultados das eleições são muito mais do que um recado para 2026. 

Em relação à derrota da candidata do prefeito petista em Araraquara, Eliana Honain, atual Secretária de Saúde do governo, Edinho declara que na última semana da eleição estiveram na cidade Nikolas Ferreira, Michelle e Eduardo Bolsonaro, além de uma live com o ex-presidente, e que “Nenhuma outra cidade do interior de São Paulo viveu isso. Eles trouxeram a polarização para a cena… E o eleitor indeciso migrou para o bolsonarismo, assim como os candidatos de direita que não tinham força”. Assim, Edinho considera que perderam pelo voto contra o PT, que a polarização “catalisa o voto anti” e que o “[antipetismo] é presente e se tornou mais presente em 2024.” 

A explicação de Edinho para a derrota da campanha de maior orçamento no interior de São Paulo é exatamente a mesma das eleições presidenciais de 2018: o “antipetismo”. A vitória de Bolsonaro não teria sido resultado da capitulação diante da prisão ilegal e do impedimento arbitrário à participação de Lula nas eleições. Não teria sido o fato de aceitar a fraude nas eleições ao substituir o candidato que o povo queria votar por Haddad, em grande medida desconhecido e sem apoio popular. Agora, a derrota em Araraquara não seria da frente ampla, que reuniu PSDB, MDB, PSOL e outros setores desmoralizados. Tudo é culpa do “antipetismo” e não da falta de um programa independente da burguesia e de interesse popular.  

O prefeito se esquece do péssimo mote de campanha relativo ao isolamento social, apresentado equivocadamente como algo científico, uma medida impopular, adotada unicamente para blindar João Dória, que se elegeu governador defendendo o bolsonarismo, de manifestações contra seu governo. Será que os comerciantes se esqueceram do lockdown? Será que as pessoas se esqueceram das multas levadas por sair de carro? E os que foram reprimidos pela Guarda Municipal? E os professores que, depois de toda a campanha do “fica em casa”, foram obrigados a voltar para as escolas sem vacina no período mais crítico da pandemia? 

Se Edinho Silva realmente se tornar presidente do Partido dos Trabalhadores e conseguir impor essa política, não adiante dizer que foi o “antipetismo” em 2026. 

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