Filiado ao Partido Liberal (da família Bolsonaro), o deputado General Girão (RN) protocolou um requerimento à Comissão De Relações Exteriores e de Defesa Nacional pedindo uma “moção de repúdio” por parte do órgão da Câmara ao militante do Partido da Causa Operária (PCO), Ieri de Sousa Braga Junior. Conforme a redação do pedido, o bolsonarista quer “a aprovação, no âmbito desta Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional, da Moção de Repúdio à conduta do Sr. Ieri de Sousa Braga Junior, de exibir em sua vestimenta, em reunião pública oficial da Câmara dos Deputados, o símbolo e o nome do grupo HAMAS, em flagrante oposição ao princípio constitucional de relações internacionais do ‘repúdio ao terrorismo’”, diz o requerimento em seu preâmbulo.
Mais adiante, no corpo do texto, Girão destaca que o episódio ocorreu “durante reunião pública oficial da Câmara dos Deputados”, com o militante revolucionário trajando “o símbolo e o nome, inclusive representado com letras do alfabeto latino, do grupo extremista [grifo nosso] ‘HAMAS’ – notório por suas práticas terroristas e antissemitas e por sua gênese oficialmente contrária à solução pacífica dos conflitos –, em flagrante oposição aos princípios constitucionais de relações internacionais”.
O trecho grifado reforça que o malandro parlamentar sabe perfeitamente bem que ao contrário do que dizem os sionistas, o partido Movimento Resistência Islâmica (Hamas, na sigla em árabe) não é reconhecido como organização terrorista, seja pelo Estado brasileiro, seja pela Organização das Nações Unidas (ONU). O fato foi lembrado por Braga, que a este Diário Causa Operária (DCO) declarou:
“O Hamas não é um grupo terrorista, nem a ONU e nem o Brasil consideram o Hamas um grupo terrorista. Nós estamos no Estado brasileiro, somos cidadãos brasileiros e nacionalistas, portanto, acreditamos que aqui a lei que vale é a lei brasileira e no Brasil, não existe nada que condene o Hamas ou a defesa do partido palestino”, disse.
Este simples dado da realidade já invalida o requerimento, mas deixando claro que o episódio é uma verdadeira ofensiva aos direitos democráticos da população, em especial a liberdade de expressão, o general da reserva prossegue em seu esdrúxulo pedido:
“O Hamas é também contrário a diversos princípios constitucionais das relações internacionais brasileiras, como o princípio da ‘solução pacífica dos conflitos’, da ‘prevalência dos direitos humanos’, da ‘defesa da paz’. Portanto, lamentável a apologia à bandeira e à ideologia nefasta deste grupo extremista dentro desta Casa Legislativa, democrática e pacífica.”
Trata-se de uma farsa grotesca. Além de Girão, também assinam a nota os deputados Luiz Philippe de Orleans e Bragança (PL-SP), Coronel Telhada (PP-SP), Marcel van Hattem (NOVO-SP) e Mario Frias (PL-SP) e todos têm como principal líder, ninguém menos do que o ex-presidente Jair Messias Bolsonaro, um homem que se notabilizou pela defesa da Ditadura Militar e da tortura, temas recorrentes de sua carreira política.
Ainda em 1999, o à época obscuro parlamentar do baixo clero defendeu, em entrevista ao programa “Câmera Aberta” da rede Bandeirantes de televisão, que o economista Chico Lopes, ex-presidente do Banco Central, fosse torturado no mesmo plenário em que a exibição da camisa do Hamas chocou os sionistas:
“Dá porrada no Chico Lopes. Eu até sou favorável que a CPI, no caso do Chico Lopes, tivesse pau de arara lá. Ele merecia isso: pau de arara. Funciona! Eu sou favorável à tortura, tu sabe disso” disse o então deputado Jair Bolsonaro.
Além desse episódio, Jair Bolsonaro é um contumaz defensor da Ditadura Militar, o que invalida frontalmente o cinismo da “sociedade pacífica e democrática” defendida por Girão e pelos parlamentares bolsonaristas. Filho do ex-presidente, o também deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), já defendeu publicamente que o STF fosse fechado não por uma reforma do Judiciário debatida e democraticamente deliberada, mas por uma quartelada igual ao Golpe de 1964, com “um cabo e um soldado”, disse à ocasião.
A moção argumenta que o Hamas é um grupo com “práticas terrorista”, mas os próprios parlamentares pertencem a um grupo político acusado de fomentar um suposto ato terrorismo, que seriam manifestações do dia 8 de janeiro de 2023. O militante do PCO alvo da moção de repúdio ironiza a medida adotada pelos bolsonaristas: “teatrinho para dar uma resposta ao que o sionismo achou ruim”, disse Braga.
“Hoje eles se colocam contra a liberdade de expressão que outrora disseram defenderam. Para mim, isso desmascara a farsa da defesa da liberdade de expressão pela direita”.
Tendo a defesa da liberdade de expressão como um princípio, o PCO destoou de todas as organizações da esquerda brasileira e também dos partidos da direita por denunciar a perseguição contra os bolsonaristas, seja pelas declarações, seja pela verdadeira ditadura comandada por Alexandre de Moraes para criminalizar os manifestantes de 8 de janeiro. Em todas as ocasiões em que as perseguições ocorreram, o Partido considerou a defesa das liberdades democráticas como um fenômeno cuja importância situava-se em um patamar superior à oposição política ao bolsonarismo.
O mesmo não pode ser dito dos adversários, que como destacado por Braga, usavam apenas uma fachada de defesa da liberdade, operação para a qual contaram com a ajuda providencial da esquerda pequeno-burguesa, cuja falta de princípios fez com que o engodo do bolsonarismo como suposto defensor da liberdade fosse empurrado à população. Os bolsonaristas defendem as posições alegando serem mera defesa de ideias, e que também são defensores das liberdades democráticas, como a liberdade de expressão, porém o que revelam diariamente é que não passam de “oportunistas”, como acusou Braga, sem nenhum compromisso sério com a liberdade de expressão ou qualquer outra liberdade democrática.