Nessa quarta-feira (28), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em pronunciamento feito no Palácio do Planalto, anunciou o indicado pelo presidente Lula para assumir a presidência do Banco Central. Sem causar surpresa alguma, Lula resolveu indicar o economista Gabriel Galípolo, que já vinha sendo apresentado como o único nome cotado para suceder a vaga hoje ocupada pelo neoliberal Roberto Campos Neto.
“O presidente da República me incumbiu de fazer um comunicado aqui, de que hoje ele está encaminhando ao Senado Federal, ao presidente [Rodrigo] Pacheco e ao senador Vanderlan, presidente da CAE [Comissão de Assuntos Econômicos], o indicado dele para a presidência do Banco Central, que vem a ser o Gabriel Galípolo, que hoje ocupa da diretoria de Política Monetária do banco”, anunciou Haddad.
A nomeação do presidente não é, contudo, suficiente para que Galípolo se torne o comandante da instituição monetária. Ele ainda precisará ter o nome aprovado pelo Senado Federal, que realizará uma sabatina com o indicado pelo presidente. Se aprovado, ele assumirá a presidência por um mandato de quatro anos.
Assim que o nome de Galípolo foi anunciado, o atual presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, saiu a público para parabenizá-lo. Galípolo já trabalha na instituição como diretor de Política Monetária do órgão, reunindo-se periodicamente com Campos Neto.
Em texto publicado pelo Banco Central, lê-se que “Campos Neto deseja a Galípolo muito sucesso nessa nova fase da sua vida profissional” e que ambos têm trabalhado de “forma harmônica e construtiva” desde o ingresso de Galípolo no órgão.
De acordo com reportagem do G1, a indicação de Galípolo foi bem recebida por “agentes do mercado financeiro”. Isto é, seu nome contentou os grandes bancos, que tinham em Campos Neto um completo serviçal. Segundo o mesmo artigo, “a atuação e declarações de Galípolo em mais de um ano de BC deram algum conforto de que ele comandaria o BC com um olhar técnico”. Ou seja, que seguiria a linha adotada pelo atual presidente do Banco Central.
Ao que tudo vem mostrando, a decisão de Lula será mais uma indicação que responde muito mais a atual correlação de forças do que propriamente aos interesses programáticos do presidente. É a repetição do que ocorreu no âmbito de sua segunda nomeação para o Supremo Tribunal Federal (STF) neste terceiro mandato, quando Lula abriu mão de indicar alguém de sua confiança, como Jorge Messias, e indicou o ex-juiz Flávio Dino. No caso do Banco Central, após vários atritos públicos com Campos Neto, Lula indicará alguém visto pelos capitalistas como uma espécie de continuador da política neoliberal.
“Após um ano no cargo, no entanto, Galípolo conseguiu afastar a impressão amarga de boa parte dos agentes econômicos. Em seus votos no Comitê de Política Monetária (Copom) e em declarações públicas, construiu a imagem de um decisor técnico — e que, por vezes, contrariava a vontade de Lula”, continua a matéria do G1.
Essa também é a avaliação de Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, que diz que a medida “significa que o presidente Lula não vai indicar alguém com um pensamento mais populista ou desenvolvimentista, como foi com Alexandre Tombini, durante o governo de Dilma Rousseff, que forçou uma redução dos juros”.
O compromisso de Galípolo com os capitalistas não é novidade para ninguém, muito menos para Lula. Embora tenha atuado no ministério da Fazenda do governo petista, Galípolo, ao ingressar no Banco Central, vem atuando em dobradinha com o presidente indicado por Jair Bolsonaro (PL), Roberto Campos Neto. Galípolo, por exemplo, vem defendendo abertamente a manutenção da taxa de juros, desafiando a política econômica do governo federal.
No início de sua carreira pública, Galípolo estava do lado oposto ao petismo. Em 2007, se tornou chefe da Assessoria Econômica da Secretaria de Estado dos Transportes Metropolitanos de São Paulo, na gestão do então governador José Serra (PSDB). No ano seguinte, assumiu o cargo de diretor de Estruturação de Projetos na Secretaria de Economia e Planejamento de São Paulo. Entre 2017 e 2021, foi presidente do Banco Fator, instituição especialista em privatizações.
A indicação de Campos Neto é, portanto, mais uma grave capitulação do governo Lula. É o reconhecimento da fraqueza do governo diante de seus inimigos. Depois de muita briga, Lula indica que nada irá mudar. Esse gesto não satisfará a direita. Pelo contrário: fará com que os inimigos do governo, ao vê-lo acuado, partam para uma ofensiva ainda mais dura.