Em seu perfil na rede social X, Alberto Cantalice, um burocrata filiado ao Partido dos Trabalhadores (PT), afirmou que “a contradição fundamental e conjuntural no mundo hoje é a luta entre a democracia e o autoritarismo da extrema-direita”. Ao dizer isso, estabeleceu ainda que “não dá para ver o mundo com os olhos da guerra fria” e que a disputa entre o capitalismo e o socialismo não estaria “na ordem do dia”.
Cantalice é claro em sua formulação. Para ele, o mundo estaria dividido entre “democracias” e “ditaduras”. Mas o que seria uma “democracia”? A rigor, todo Estado expressa a ditadura de uma classe social sobre a outra. Não há, no mundo de hoje, nenhuma “democracia” em abstrato. O governo norte-americano, por exemplo, é a ditadura da indústria bélica, da indústria farmacêutica, da indústria petrolífera, contra o conjunto da população.
Se o governo norte-americano fosse verdadeiramente democrático, ele estaria financiando o genocídio na Faixa de Gaza, mesmo com manifestações quase que diárias contra a política do presidente Joe Biden? Se o governo norte-americano fosse verdadeiramente democrático, os Estados Unidos teriam sido o país onde mais morreram pessoas com coronavírus, mesmo dispondo de um parque industrial colossal para a pesquisa e o desenvolvimento de vacinas e medicamentos?
Não, os Estados Unidos não têm nada tem de democrático. Assim como nenhum país do mundo onde os monopólios são quem controlam o Estado. Assim como a França, o Reino Unido, a Alemanha, o Japão.
Se o Estado é a ditadura de uma classe sobre a outra, e se na atual etapa do capitalismo é a ditadura dos monopólios sobre o conjunto da população mundial, como determinar, então, o que seria uma “democracia”?
Um critério, ainda que não fosse preciso, seria considerar “democrático” o país em que o governo é apoiado por um setor expressivo da classe operária, em que o governo está em contradição e mesmo em conflito contra os grandes monopólios. Seria esse o critério de Cantalice?
Ele deixa claro que não. Em resposta a seu texto, um usuários das redes sociais afirmou: “se tudo isto é verdade, e acredito que deva mesmo ser, então é inexplicável o apoio que alguns setores do PT prestam à ditadura militar expansionista russa de extrema-direita“. O petista, por seu turno, replicou que “eu não apoio”.
A luta entre “democracia” e “autoritarismo”, curiosamente, não colocaria a Rússia do lado da “democracia”. Justo o país que está impondo uma das derrotas mais humilhantes que o imperialismo já sofreu em sua história. Justo o país cuja iniciativa militar incentivou os povos de todo o planeta a se rebelarem.
Fica claro, portanto, qual é o critério de Cantalice para determinar o que seria uma “democracia”: é aquilo que a grande imprensa diz que é. Assim, seriam “democracias” os países que estão apoiando o genocídio na Faixa de Gaza. Já um país como o Irã, que está financiando a revolução palestina contra “Israel”, seria uma “ditadura”.