Caribe

‘Democracia’ mataria os cubanos de fome

Imprensa cínica diz que problemas sociais de Cuba são motivados por sua 'ditadura'

No dia 4 de setembro, a Folha de S. Paulo publicou um editorial sobre Cuba chamado Regime arcaico de Cuba não se recupera da pandemia. A imprensa capitalista volta sua carga contra Cuba, com as velhas calúnias e distorções da realidade.

Logo no início do artigo, o editorial mostra a que veio: atacar a revolução e defender o neoliberalismo. Diz o texto: “como outras ditaduras surgidas ao longo do século 20, a cubana reforça uma afirmação célebre do economista Milton Friedman. Para o vendedor (sic) do Prêmio Nobel em 1976, a ideia de que seria possível haver liberdade política sem liberdade econômica é puro delírio.”

(A defesa do livre mercado é tão ferrenha que Friedman tornou-se vendedor de Prêmio Nobel, o que não está muito longe da realidade, já que os vencedores desse prêmio costumam ser todos vendidos mesmo para o imperialismo).

Se os cubanos decidissem aderir ao neoliberalismo e deixar de ser uma “ditadura”, eles estariam bem melhor. O exemplo usado nos faz concluir o seguinte: Cuba é uma ditadura, o Chile de Augusto Pinochet, não é. Afinal, o regime de Pinochet foi apoiado e sustentado por Friedman e todos os neoliberais. O editorial da Folha faz uma defesa velada da ditadura mais sanguinária da América do Sul.

No Chile, poderíamos dizer que a “liberdade econômica” só foi mantida graças à ausência total de liberdade política. A “ditadura cubana” é um passeio no parquinho infantil perto do que fez Augusto Pinochet e seu conselheiro Milton Friedman.

O principal do texto não é a defesa da ditadura militar neoliberal feita pela Folha. O que chama a atenção é o cinismo das colocações sobre a crise econômica em Cuba.

“Com o fim da União Soviética, Cuba passou por severa crise econômica nos anos 1990 e, desde lá, investe no turismo para mitigá-la. Após a renúncia de Fidel Castro, ensaiou-se uma distensão do controle econômico nem de longe suficiente para eliminar os problemas estruturais.” A insinuação aqui é a de que Cuba era totalmente dependente da URSS. O problema desse argumento é que o regime cubano existe até hoje e o dos soviéticos caiu já há 30 anos. Claro que a existência de um aliado tão grande como a URSS exercia certo apoio a Cuba, mas com todas as dificuldades, os cubanos mantêm seu regime revolucionário.

“Ao minar o turismo, a pandemia de Covid-19 piorou ainda mais a situação. Reportagem da Folha esteve na ilha e constatou um cenário de penúria.” Cuba conseguiu controlar o Covid com muito mais eficiência do que outros países, mesmo com todas as dificuldades. E mesmo com a inegável crise econômica pós-Covid, aí está o governo, apoiado pela maioria da população. Fosse como a Folha descreve, porque o regime não cai?

Não cai porque é uma “ferrenha ditadura” explicará a Folha. Primeiro, não há ditadura capaz de segurar uma situação econômica tão grave, segundo, e mais importante, essa “ditadura” deve ser a mais branda que já existiu.​​ A reportagem do jornal que esteve lá se preocupou bastante em mostrar a crise, mas não notou algo que qualquer pessoa que vai à Ilha percebe, que não há ditadura nenhuma.

Nas ruas, se fala o que quiser do governo. Os opositores estão na Ilha, as pessoas entram e saem do país.

A única explicação é a de que para a Folha, Pinochet e Friedman são democracias. Aí podemos, já que o regime cubano é o exato oposto disso, dizer que Cuba é uma ditadura.

E aí o editorial começa a listar todos os problemas, reais ou inventados, da economia de Cuba. Mas há um problema essencial que o editorial ignora, ou melhor, diz que é apenas um “pretexto para a ditadura”: o bloqueio econômico.

“O embargo mantido pela Casa Branca é contraproducente, já que não moveu Cuba rumo à democracia e fornece um pretexto à ditadura. Mas ele não é a causa da crise material e humanitária.” Eis o cinismo mais puro. O embargo, que impede que Cuba faça comércio com outros países e portanto dificulta a entrada de itens fundamentais para a economia do país é apenas um “pretexto”, ele “não é a causa da crise material e humanitária”.

O que seria a causa, então? A ausência do “livre mercado”, essa entidade que ninguém sabe exatamente o que é. Mas se é assim, porque os EUA, donos da Folha, não acabam com o embargo e deixa o governo cubano realizar o “livre mercado”?

O editorial desmente a si próprio. O embargo é, sim, a causa da crise em Cuba. O regime não pode participar livremente do mercado internacional, não pode receber mercadorias e não pode livremente decidir como essas mercadorias serão distribuídas no país, porque os EUA não querem.

Se o imperialismo acreditasse que Cuba mesmo que a culpa da crise é do regime, bastava acabar com o bloqueio. Não acaba justamente porque ele serve como um entrave para a economia do país. Deixem o “livre mercado” para Cuba e veremos como o regime, controlado democraticamente pelo povo (muito mais moderno do que a “democracia” norte-americana), desenvolveria o país. O embargo não é pretexto, é um crime cujo objetivo é matar o povo de fome. E os cubanos sequer podem denunciar isso para não serem acusados de ter um “pretexto para a ditadura”.

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