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Estados Unidos

Democracia ditatorial: 48 anos de Bushs, Clintons e Biden

Desde 1976 não havia eleições sem que um representante das famílias Clinton, Bush ou Biden participasse das eleições

Há 48 anos, os Estados Unidos atravessavam um período político turbulento com o fim do padrão-ouro, a derrota no Vietnã e a crise do petróleo no Oriente Médio. Nas eleições daquele ano, foi eleito presidente o democrata Jimmy Carter, que tinha como vice Walter Mondale. Seus adversários haviam sido Gerald Ford, com Bob Dole como vice.

Desde então, a disputa presidencial nos Estados Unidos sempre contou com algum integrante das famílias Clinton e Bush ou Joe Biden, atual presidente norte-americano. 

Em 1980 e 1984, George H. W. Bush participou como vice de Ronald Reagan. Em 1988, como Reagan não podia mais se candidatar, Bush foi cabeça de chapa e venceu as eleições. Em 1992 concorreu e perdeu para Bill Clinton, que se reelegeu em 1996. Às vésperas da virada do milênio, os democratas foram derrotados em eleição cercada de incertezas pelo filho do presidente eleito em 1988, George W. Bush, que entraria para a história como o presidente em exercício durante os atentados às Torres Gêmeas em Nova Iorque, no dia 11 de setembro de 2001. Bush foi reeleito em 2004 e Biden, após décadas atuando como senador pelo estado de Delaware, foi eleito como vice-presidente na chapa de Barack Obama em 2008, que concorreu contra John McCain, uma vez que Bush já havia cumprido dois mandatos. Obama e Biden foram reeleitos em 2012 e, em 2016, Hillary Clinton foi derrotada por Donald Trump, em verdadeira reviravolta no estável regime político norte-americano. Para 2020, Biden foi o candidato democrata que derrotou o republicano que pretende se reeleger este ano em disputa contra Kamala Harris, atual vice-presidente.

As características praticamente familiares e personalistas da política norte-americana, que se estende da disputa pelo Poder Executivo para o Poder Legislativo, demonstram o tamanho da hipocrisia dos Estados Unidos ao se apresentar como defensor da democracia ao redor do mundo. Democracia essa que sempre reiteram: se sustenta sobre a rotatividade no poder. Rotatividade essa que é especialmente necessária quando o candidato eleito não representa os interesses imperialistas para seu país.

As famílias Clinton, Bush e Biden são como uma realeza norte-americana; uma nobreza num país que se orgulha de nunca ter sido regido por um regime monárquico como seus antigos colonizadores. São a personificação da “democracia ditatorial” que impera sobre a população norte-americana. Mas, mais do que isso, são figuras políticas de extrema confiança do imperialismo, ou seja, dos bancos e dos grandes monopólios.

Em 1976, o regime capitalista entrava numa fase de crise terminal da qual nunca se recuperou. A manutenção do regime passou a depender de um fino controle da política por parte dos grandes capitalistas e, por isso, vemos tantos rostos repetidos ao longo dessas décadas. Havia divergências entre os candidatos em disputa pelo Partido Republicano e Democrata, mas sempre foram superficiais; a política neoliberal, receita amarga do imperialismo para sobrevivência do sistema capitalista, nunca saiu de pauta.

Reagan deu início à financeirização da economia, desagregação do estado de bem-estar social e exportação de capital em volume sem precedentes para países atrasados, num duro golpe contra a classe operária norte-americana e europeia. Essa política teve sequência quase que direta no governo de Bill Clinton, até mais do que o do próprio vice de Reagan.

“Bush pai” comandou a Guerra do Golfo, enquanto seu filho organizou a “Guerra ao Terror” que por pouco não colocou todo o Oriente Próximo sob controle do imperialismo, região estratégica para o controle do mercado internacional de energia, isto é, petróleo. Obama resgatou os bancos da crise de 2008 e deu início à maior bolha financeira de todos os tempos ao mesmo tempo que manteve a política de dominação do Oriente Próximo, com destaque para atuação de seu governo na Síria contra Bashar Al-Assad.

Trump representou uma ruptura parcial nessa lógica, principalmente no que diz respeito à política internacional do imperialismo, essencial para dominação da economia global. Em 2020, então, no lugar de lançar um candidato mais competitivo, o imperialismo optou por seu velho guerreiro, Joe Biden, senador da guerra contra as drogas, vice-presidente do golpe de Estado na Ucrânia de 2014, para reestabelecer seu controle total sobre o principal regime político imperialista.

A substituição de Biden por Kamala Harris passou longe de ser protocolar. Não que Harris não seja representante dos interesses imperialistas, mas não tem a mesma confiança que Biden, funcionário exemplar desde os anos 1970. Clintons e Bushs se desgastaram ao ponto de seus nomes serem verdadeiros repelentes políticos. Será que Harris tem a determinação para seguir a receita imperialista como seus antecessores? Aguentará a pressão popular? Impossível prever, mas é certo que a crise é tamanha que os grandes capitalistas, muito habilidosos com suas apostas no mercado financeiro, não querem colocar suas fichas numa aposta incerta. Infelizmente para eles, as opções seguras parecem ter se esgotado.

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