O imperialismo, por meio de seus capachos no Brasil, já está em campanha presidencial. Matéria na Folha de São Paulo neste 29 de dezembro, “Aécio diz que ventos mudaram e que é preciso unificar forças de centro em 2026”, reflete em boa medida os planos do grande capital: eleger um presidente neoliberal, fácil de manobrar, e que possa aplicar medidas duras contra a população sem que tenha pressão popular.
Segundo cita a matéria, Aécio afirma que “o movimento hoje não é de fortalecimento dos extremos, como foi nas duas últimas eleições [2018 e 2022]. O movimento hoje é de uma certa migração ao centro”. E a jornalista faz uma ressalva, de que a declaração se deu após as eleições municipais, em que os partidos do centrão saíram vitoriosos e que Lula e Bolsonaro teriam fracassado, o que não é verdade, não no caso deste último, que saiu muito fortalecido e provou ser um grande cabo eleitoral.
A matéria diz que Aécio “firma que o PSDB precisa conversar ‘sem preconceito com quem quer se livrar do radicalismo’. Ou seja, com setores que rejeitam Lula e Bolsonaro e mesmo com partidos que integram o governo do petista por pragmatismo e não convicção”.
Na verdade, a rejeição está mais para o lado de Lula. O PT se negou a se apoiar nas bases para eleger o presidente, preferiu acordos por cima e fatiar o governo para partidos fisiológicos que só não estão com Bolsonaro por oportunismo, ou porque ocupavam uma posição secundária com o ex-presidente.
A preocupação, tanto de Aécio quanto da Folha, é com os “extremos”. No entanto, não se pode chamar o PT, ou mesmo o governo Lula de extremos. Bolsonaro preocupa porque sofre pressão de uma base social e tem força política, o que o torna difícil de manobrar. O PT, apesar de toda a moderação, sofre uma grande pressão da classe trabalhadora.
Aécio afirma que, arriscando parecer utópico, tem esperança que os extremos percam força e diz: “aí temos que estar posicionados para reunificar essas forças no centro, aquelas mesmas que me fizeram quase vencer as eleições de 2014”.
Quanto ao fato de Aécio quase ter vencido, infelizmente, nesta ditadura judiciária em que vivemos no Brasil, não se pode opinar diretamente, uma vez que virou crime ter opinião sobre a lisura do processo eleitoral, digamos que a quase eleição do tucano teria sido “estranha”.
No que diz respeito aos extremos “perderem a força” a burguesia tem agido nas duas frentes: pressiona o governo Lula para a direita; assim como ameaça botar na cadeia os bolsonaristas. Há setores dentro da esquerda que capitularam e acreditam que o PT deve entregar ainda mais o governo na mão do “centro”. Existe um ataque do grande capital financeiro contra a economia brasileira que põe o Lula contra a parede, uma vez que ele busca apoio em sua base.
O “centro” é bolsonarista
Isso que Aécio e a Folha consideram “centro”, nada mais é que a velha direita de sempre. É aquela que vota em tudo com o Bolsonaro, que entrega o patrimônio público para o grande capital e que ataca em piedade os direitos trabalhistas. A sua grande vantagem é estar totalmente à venda para quem pagar melhor.
Segundo o tucano, o tucano diferencia o centro do centrão. Diz: “O PSDB é diferente porque o PSDB não participou nem de um governo, nem de outro. Somos o filho único nessa. […] Ainda acho que o PSDB é essencial ao Brasil”.
Não, o PSDB não é essencial para o Brasil, mas para o imperialismo, que sonha com um novo governo FHC, que destruiu nossa indústria, esmagou os trabalhadores, e rapinou o quanto pôde de nossas estatais.
Se o PSDB não participou de nenhum dos dois governos fosse verdade, Aécio teria que explicar o porquê de seu partido ter apoiado Bolsonaro. Aliás, os tucanos são diretamente responsáveis pelos governos Temer e Bolsonaro, uma vez que estiveram à frente do golpe de 2016, planejado e comandado pelos EUA.
O sonho de Aécio de fortalecer o PSDB pode não se realizar, o partido foi varrido pela polarização política no Brasil. Sua derrocada não tem nada a ver, como ele afirma com “A megalomania e o egocentrismo do ex-governador [João Doria]”.
Na matéia da Folha, Aécio discute a possibilidade de um Tarcísio ou um Eduardo Leite serem candidatos à presidência pelo centro, com a preferência por este último. Aécio afirma que “Leite tem altíssima qualidade. O nome dele vai ser sempre colocado. Mas ele tem que surgir como fruto de uma articulação política mais ampla que o PSDB”.
O governador gaúcho é um típico neoliberal, preferiu deixar o estado debaixo d’água e guardar o dinheiro para os bancos do que investir na infraestrutura. Leite também é um privatizador feroz, que tem a seu lado a vantagem de ter um apelo identitário.
Falso debate
O que chama a atenção nessa matéria de um jornal da grande imprensa, é o quanto ela está comprometida com os interesses do grande capital, do imperialismo, e como as cartas já estão sendo jogadas.
Para o próximo ano, podemos esperar ataques ainda maiores contra o governo Lula, especialmente do grande capital. A esquerda imperialista também deverá entrar no jogo, como fez em 2016, atacando o governo pela esquerda, e as ONGs deverão receber belos aportes financeiros para fazerem o trabalho sujo.
Aécio e Folha fazem um debate falso para mascarar a realidade, não existe uma luta entre extremos políticos, mas uma tentativa da burguesia de colocar no poder uma espécie de Javier Milei. No entanto, é a polarização social que vai dizer se isso será possível.