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Coluna

Datena ou PSTU?

Um partido que se diz revolucionário — ou mesmo de esquerda e democrático — não deveria ter a mesma posição punitivista e sanguinária da burguesia

Comprei uma edição do Opinião Socialista, o de-vez-em-quandário do PSTU, numa banca de jornal e me deparei, logo na segunda página, com a manchete “O estuprador Daniel Alves é solto da cadeia”. Parei, refleti, voltei à capa… Fui conferir se eu não havia adquirido o jornal errado, se não estava, na verdade, folheando O Globo ou alguma publicação nova lançada pelo jornalista pinga-sangue José Luiz Datena.

Afinal, um partido que se diz revolucionário — ou mesmo de esquerda e democrático — não deveria ter a mesma posição punitivista e sanguinária da burguesia. Pelo menos, na teoria. No Brasil, vivemos no tempo em que a esquerda, numa competição com o bolsonarismo e a direita tradicional, compete para se provar a maior defensora da “punição exemplar”.

“Cancelam” pessoas a torto e a direito, acusam se nem mesmo saberem dos fatos, repetem tudo o que diz o jornalismo pinga-sangue da burguesia, que aproveita as mazelas e desgraças sociais para aumentar seus cofres, naquilo que alguns chamam de “populismo punitivista”.

Bom, eis que agora encontramos um novo tipo de esquerda revolucionária no Brasil: o “marxismo”-fascismo do PSTU, que esconde sua política reacionária e burguesa com fraseologias esquerdistas.

Peguemos o exemplo de Daniel Alves. O Opinião Socialista diz que o caso é a comprovação da “justiça dos ricos”. Por quê? Porque o ex-lateral da Seleção Brasileira foi extorquido pela Justiça imperialista da Espanha, pagou uma fiança de R$ 5,5 milhões e deixou a cadeia.

“Arrá!”, dirão os nossos “marxistas”-fascistas do PSTU, se achando espertos, pois lembraram do Hino da Internacional: “o crime do rico a lei o cobre”. E continuarão: “mais um rico criminoso solto, enquanto os pobres vivem o inferno na terra nos presídios”. É essa mensagem que querem passar quando afirmam que os advogados da suposta vítima do ex-jogador “qualificaram corretamente a situação: ‘a justiça foi feita para os ricos e poderosos’” (Opinião Socialista, n.º669, 21 de março a 3 de abril de 2024, ano 23, pág. 2).

Ora, é fato que o sistema carcerário é muito desigual e que os pobres se ferram exponencialmente mais do que os ricos. Afinal, que pobre teria R$ 5,5 milhões para pagar como fiança? 

O que nossos “revolucionários” se “esquecem” é que o caso de Daniel Alves foi repleto de abusos jurídicos — a começar pela sua prisão preventiva, como se fosse um estuprador em série, um dos mais perigosos criminosos do mundo. Um instrumento que deveria ser usado como exceção se tornou um mecanismo constante da justiça burguesa ao redor do mundo, em sua sanha repressiva de caráter fascista. Mas, para o PSTU, isso foi ótimo, pois um rico foi preso.

Agora, Daniel Alves exerce um direito democrático seu, o de pagar a fiança e responder às acusações em liberdade — algo que deveria ser um direito seu desde o princípio. Mas, não, “que absurdo”, dirão os “marxistas”-fascistas do PSTU, “ele tem que continuar preso, sem direito de responder em liberdade”.

Os nossos esquerdistas se esquecem que, ao exigir isso em nome de que o pobre não tem esse “privilégio”, o que estão estabelecendo é uma tentativa de igualar as condições do sistema prisional, só que o nivelando por baixo. 

Algo mais ou menos assim: “já que os pobres se ferram, ferremos todos!” Um raciocínio no mínimo curioso. Não seria melhor defender os direitos democráticos de todos, garantindo aos pobres massacrados as mesmas garantias que as pessoas mais endinheiradas?

Nada disso, para o PSTU, Daniel Alves tem que sofrer, tem que ser julgado exemplarmente e perder todo seu patrimônio — isto é, virar um indigente. Por isso criticam que o valor pago da fiança “representa menos de 2% do patrimônio do ex-atleta” (idem).

Essa não é uma concepção democrática, muito menos humanista, e não chega nem perto de ser revolucionária. Para esclarecer, vamos assumir que Daniel tenha estuprado, o que ainda não foi julgado em todas as instâncias; a posição do PSTU é: cometeu crime, fique mofando na cadeia e perca toda sua vida social. 

É o cancelamento fascista na sua plenitude. Se é para ser assim, por que o PSTU não se junta logo ao bolsonarismo e a Datena em defesa da pena de morte e do lema “bandido bom é bandido morto”?

Mais uma vez, os golpistas de esquerda estabelecem uma frente ampla com a direita. Agora em defesa do programa sanguinário contra os “criminosos”.

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