A travesti Tertuliana Lustosa, conhecida por mostrar as nádegas em uma aula na Universidade Federal do Maranhão (UFMA), declarou à golpista Folha de S. Paulo, que “a esquerda pode ser fascista”. Além disso, se colocou como vítima de um ataque moral promovido pela esquerda, ao mesmo tempo que defendeu o que chama de “traveco-terrorismo”.
Segundo Lustosa: “O fascismo não é exclusivo da direita (…) A esquerda também, às vezes, incorpora diversos elementos do fascismo.” A ideia de que existe um “fascismo de esquerda” é simplesmente absurda, mas frequentemente usada pela direita para atacar os setores mais combativos da esquerda, o que diz muito sobre a orientação política de Lustosa.
O fascismo, finalmente, é um instrumento de guerra da burguesia contra a democracia operária, partidos, sindicatos e organizações ligada à luta dos trabalhadores, não sendo possível, portanto, um “fascismo de esquerda”. Se alguém usa elementos fascistas, está claramente a serviço da burguesia.
O que Lustosa faz, ao repetir essa manipulação típica da extrema direita, é dar mais munição para aqueles que querem desmoralizar a esquerda classista.
Não contente, a acadêmica diz ainda: “Só de eu ser travesti já instrumentaliza a direita. Eles dizem que travesti é contra a Bíblia, enfim, a gente já sabe todo o discurso deles. E é muito triste que isso aconteça, mas acho que não fui eu que instrumentalizei a direita, eles que se instrumentalizam.”
A questão, no entanto, não é “ser travesti”. A direita se fortalece com o debate moral na medida em que a esquerda, em vez de procurar esclarecer os setores mais conservadores da população, tenta impor a sua política. Uma sociedade democrática deveria tratar essas questões com sensibilidade e não com provocações baratas que só servem para inflamar os instintos conservadores e empurrar ainda mais o povo para a demagogia barata da extrema direita.
Por fim, citando-a, a matéria de Folha de S. Paulo destaca: “Ela diz, por exemplo, querer ‘iniciar um debate levantado através da aula ‘Educando com o cu: traveco-terrorismo e descolonialidade de gênero na arte’, para pensar implicações do prazer e do corpo enquanto potências pedagógicas e artísticas.’”
O tipo de ação defendida por Lustosa é um espetáculo grotesco que não tem absolutamente nada a ver com nenhuma libertação. Ela traveste (sem trocadilho) o debate acadêmico em uma caricatura que só serve para provocar o moralismo da direita e desviar o foco dos problemas reais enfrentados pela população.
O que o trabalhador brasileiro tem a ganhar com esse tipo de “debate”? Nada. Lustosa e seus defensores se colocam como vanguarda de uma “descolonialidade” (palavra oriunda de um anglicismo que entrega a origem desse pensamento, a saber, os EUA), mas o que fazem é fortalecer a burguesia ao criar divisões artificiais entre os oprimidos. Em vez de lutar pela emancipação social e econômica das massas, defendem questões que só interessam a uma minoria demonstram total desprezo pelo povo pobre, explorado e trabalhador.
O fascismo não é algo que pode ser moldado para encaixar qualquer crítica. O verdadeiro fascismo, aquele que massacra os povos e impõe ditaduras, é organizado pela classe dominante. Ao acusar a esquerda de “fascista” e se colocar como vítima da reação negativa de uma ação impensada, Tertuliana está servindo aos interesses dos pais do fascismo, a própria burguesia.
Se esse é o objetivo da acadêmica, ela está no caminho certo, mas quando uma minoria muito pequena provoca uma maioria atrasada com a ferocidade com a qual os identitários provocam a religiosidade dos trabalhadores, as consequências podem ser muito negativas. É preciso considerar esse fato também. Criticar essas ações provocadoras e totalmente despropositadas não é fascismo, é lutar pela verdadeira libertação da classe trabalhadora.