À emissora estatal israelense Kan, o primeiro-ministro de “Israel”, Benjamin Netaniahu, avisou que não desistirá do polêmico projeto de lei que obriga os judeus ortodoxos (“haredim”) ao alistamento militar obrigatório, alegando que sem a conscrição deste segmento da população israelense, o governo não resistirá. Para o sionista, a crise provocada pela oposição levará ao colapso da aliança Unidade Nacional, que conta com 8 das 120 cadeiras do Knesset, mas que tem Benny Gantz, Gadi Eizenkot, Gideon Sa’ar, Hili Tropper e Yifat Shasha-Biton no governo.
O anúncio de Netaniahu veio na sequência do aviso do presidente da Unidade Nacional, Benny Gantz, de que deixaria o gabinete de guerra caso o projeto de lei fosse aprovado. Além de Gantz, a imprensa israelense informa que o projeto tem a oposição de vários ministros do partido governista Likud.
“Se o projeto de lei for aprovado na terça-feira, Gantz e (o ministro sem pasta) [Gadi] Eisenkot deixarão o governo”, citou o líder da oposição e presidente do Yesh Atid, Yair Lapid, na segunda-feira (25). “É um desastre de segurança. Não há soldados suficientes. Hoje há mais soldados na Judéia e Samaria (Cisjordânia) do que em Gaza. Praticamente, a guerra real não está sendo conduzida no momento.”
Também na emissora Kan, Lapid atacou Netaniahu, dizendo que o primeiro-ministro israelense “era e continua sendo um coelho em salas fechadas”. “Eu lutei muito mais com os americanos do que ele como primeiro-ministro”, acusou Lapid.
Reflexo da crise nas Forças de Ocupação de “Israel”, alistamento militar obrigatório aos haredim desmascara a fragilidade do governo sionista. Apesar das inúmeras mortes de civis desarmados, “Israel” tem se mostrado impotente diante da resistência palestina, que liderada pelo partido Movimento Resistência Islâmica (Hamas, na sigla árabe), vem infligindo uma série de derrotas militares aos sionistas.
Paralelamente, Telavive vem enfrentando também ataques do Hesbolá contra o norte de “Israel” – responsáveis por deslocar pelo menos 100 mil israelenses da região fronteiriça entre o país artificial e o Líbano -, foguetes do iraquiano Kataib Hesbolá e também os houthis, que bloqueiam o acesso do imperialismo ao Mar Vermelho. Somado às múltiplas frentes que os sionistas precisam enfrentar, o êxodo populacional experimentado pelo enclave imperialista fez com que até o dia 7 de dezembro, os órgãos governamentais ligados à imigração calculavam que 370.000 pessoas haviam deixado ‘Israel’ desde o 7 de outubros, “incluindo 230.309 em outubro e 139.839 em novembro” (“Nearly half a million people depart Israel amid Gaza war: Report”, AA, Mohammad Sıo, 7/12/2023).
Com o próprio exército em colapso e a evacuação do país, o recrutamento dos haredim se tornou, de fato, uma questão vital para o sionismo. Embora informações realistas sobre a situação das forças armadas de “Israel” sejam inexistentes, a opção de Netanyahu por manter o alistamento forçado e com isso, abrir uma crise em seu governo, deixa claro que fragilidade do exército sionista é grande o bastante para justificar uma racha no país e isso, com uma campanha militar em andamento. Sem a conscrição dos ortodoxos, a capacidade israelense de enfrentar o levante de palestinos e demais povos árabes unidos à causa Palestina é ainda menor.
Atento aos eventos no Oriente Médio, o presidente nacional do Partido da Causa Operária, Rui Costa Pimenta, analisou os recentes desenvolvimentos da luta interna que ameaça implodir o governo israelense. Em seu programa de discussão política internacional transmitido todas às segundas no canal do Diário Causa Operária no Youtube (DCO), o dirigente marxista declarou:
“Estamos diante da possível eclosão de uma crise no governo Netanyahu. O governo está tentando aprovar no Parlamento sionista uma lei para o recrutamento obrigatório dos que eles chamam de judeus haredim, que são contra participar servir o exército.”
“Dois ministros falaram que se essa lei for para votação no Knesset, eles abandonarão o governo. O governo está diante de uma crise importante.”
Por outro lado, Netanyahu avisou que não tem volta na questão da lei e que sem ela [a conscrição], não tem governo. Isto mostra também que a situação das Forças Armadas sionistas é uma grave.”
“Estão lançando mão de recursos extraordinários para as Forças Armadas. Isso que o comandante [Robinson Farinazzo] falou, do pessoal que evacuou o norte de ‘Israel’, acho que podemos contar isso aí [o deslocamento] talvez na casa das centenas de milhares. Muito se fala que a fuga de cidadãos do Estado de ‘Israel’ seja muito grande também, para ele convocar esse grupo de judeus que tem uma objeção de consciência para servir as Forças Armadas.
Significa que muitos dos reservistas do Estado de ‘Israel’ foram embora do país. Não dá para você colocar na frente de combate um cara que tá nos Estados Unidos. É uma situação de muita gravidade”.
A crise envolvendo o alistamento militar forçado joga luz sobre a crise em que se encontra a invasão sionista. Somente esse fato já faria da operação de troca de reféns realizada pelo Hamas uma grande vitória, mas a julgar pelas proporções, a conquista do Hamas é ainda maior, levando à conclusão de que apesar de tanto horror e barbárie, a libertação da Palestina está muito adiantada.