Ricardo Nêggo Tom publicou uma coluna no portal Brasil 247, chamada O capitalismo acabou com o futebol brasileiro, que revela as confusões da esquerda ao analisar o problema do futebol. Após a análise confusa, acaba por chegar a conclusões pessimistas do problema.
“Acabaram-se os jogadores, acabou o encanto, acabou a identidade, acabou o respeito pela nossa essência futebolística, acabou a vergonha, acabou o futebol brasileiro. Fim.”
Segundo o colunista, portanto, não há mais saída para o futebol brasileiro. Devemos colocar a viola no saco, como se diz, e partir para outra. Deveríamos abrir mão dessa cultura essencialmente brasileira porque ela já acabou, não valeria mais a pena nem lutar por ela.
Tal conclusão não é correta. Como diz mesmo o título do artigo, a culpa da crise pela qual atravessa a seleção é do capitalismo. Mas essa explicação é muito genérica para resolver todas as questões. Primeiro que, segunda essa lógica, o capitalismo acaba com tudo, o que não deixa de ser verdade. Ele tende a acabar com as artes, com as ciências, em suma, com tudo.
Se a conclusão do colunista fosse coerente, devemos decretar o fim de tudo que existe sob o capitalismo. Música? Acabou. Cinema? Acabou. Jornalismo? Acabou. Por isso a conclusão do colunista é errada. Identificar que o capitalismo destrói as criações humanas deve levar à conclusão de que será preciso lutar contra o capitalismo em todas essas esferas. Mas parece que só o futebol está definitivamente acabado. E essa conclusão serve exatamente aos interesses do capitalismo que ataca o futebol brasileiro e quer dizer o seguinte: povo brasileiro, desistam desse aspecto essencial de sua cultura.
Nêggo Tom nem percebe, mas o ângulo de sua crítica reforça a ideia de que o capitalismo venceu, nosso futebol morreu, e devemos entregar tudo de vez para os europeus.
Essa confusão acontece porque Nêggo Tom não identifica que capitalismo é esse que ataca o futebol. Para ele, o “capitalismo” são os personagens secundários da trama, mas ele não consegue identificar o personagem principal que é o imperialismo, seus grandes monopólios.
Ele critica a CBF e seu presidente. Sem dúvida são criticáveis, mas grosso modo, a CBF sempre teve à frente figuras grotescas e corruptas e, sempre capitalistas.
E aí, o principal alvo de sua crítica, o que para ele, portanto, seria o maior “capitalista” é o jogador Neymar. A esquerda precisa parar de fazer papel de trouxa e acreditar que Neymar é o maior capitalista do mundo. Não, ele não é. Neymar é um jogador rico, muito rico, mas não chega nem perto dos grandes capitalistas internacionais.
“Neymar é o símbolo máximo do atual futebol brasileiro. Tanto por ser tecnicamente o melhor jogador surgido no país nos últimos 15 anos, como por emprestar o seu nome para o sistema político, social e econômico vigente neste mesmo futebol. A ‘neymarização’ da maior paixão nacional é a principal causa do insucesso da seleção brasileira.”
Isso porque Neymar nem jogou a Copa América, por estar lesionado. A vontade de criticar o principal jogador brasileiro, porém, é irresistível. Neymar parece o único jogador do mundo que é milionário. Nêggo Tom ainda consegue dizer que “diferentemente de Messi, que conquistou a sua tão sonhada Copa do Mundo aos 45 do segundo tempo, e Cristiano Ronaldo, que entrega a alma jogando por sua seleção.”
A afirmação nem tem nenhuma base na realidade, basta ver como Neymar jogou a Copa, como ele deu o único título que o Brasil ainda não tinha, as Olimpíadas. Messi e Cristiano Ronaldo são milionários como Neymar e é isso. Ninguém é santo, ninguém é demônio. A comparação feita pelo colunista mostra que ele está reproduzindo a propaganda feita nos jornais imperialistas, que repetem esse tipo de bobagem à exaustão.
Antes de criticar Neymar por ser “capitalista”, é preciso identificar os verdadeiros capitalistas. Os monopólios poderosíssimos que controlam o futebol mundial, são responsáveis por tirar os jogadores brasileiros muito cedo daqui, ensiná-los e educá-los contra o nosso estilo de futebol, em suma, são esses monopólios imperialistas que estão destruindo o futebol. Essa ação é bem concreta, não se trata de um capitalismo abstrato, mas de uma política direcionada.
Neymar aqui é mais vítima do que vilão. Se ele é um direitista com ideias idiotas como a defesa da privatização das praias e do bolsonarismo, isso não muda absolutamente nada. E Nêggo Tom, um colunista acostumado a escrever sobre a questão dos negros, deveria levar em consideração que os jogadores brasileiros, todos negros e de origem pobre, são vítimas de tudo isso.
É justamente esse o ponto que faz os jogadores não renderem na Seleção. Eles estão dominados por uma pressão muito violenta e não conseguem jogar. Os jogadores brasileiros, todos de origem humilde, talvez sejam, do ponto de vista político, os que mais sofrem pressão no mundo. Essa pressão é produzida pelo imperialismo, que quer controlar o nosso futebol e convencer os brasileiros – como já convenceram Nêggo Tom – de que a Seleção e o futebol brasileiro já acabaram, não têm mais saída.