Europa

Crise na França aumenta e Mélenchon pede impeachment de Macron

Partido anunciou que não aceitará nenhum governo que não seja chefiado por indicada da Nova Frente Popular

Em novo desdobramento da crise política que vive a França, a parlamentar do partido de esquerda França Insubmissa (FI) Mathilde Panot, disse na última sexta-feira (30), que seu partido votará contra qualquer indicação do presidente francês, Emmanuel Macron, ao governo do país imperialista que não seja liderado pela candidata da coalizão Nova Frente Popular (NFP), Lucie Castets. Mesmo sendo do direitista Partido Socialista, Castets teve sua candidatura rejeitada por Macron, que ao longo da semana passada, reuniu-se com parlamentares e líderes partidários para tentar formar um novo governo de direita, um processo complexo dado o resultado das eleições de julho, onde nenhum partido garantiu a maioria absoluta.

Com 182 das 577 cadeiras no parlamento francês, a NFP foi a coalizão que mais conquistou assentos na atual legislatura, o que por princípio, a tornaria responsável por indicar o primeiro-ministro. Macron, contudo, optou por quebrar a tradição de que a força mais bem votada indicasse o chefe de governo, alegando que não foi a esquerda que venceu as eleições parlamentares antecipadas, mas a “frente republicana”, que inclui os falidos partidos da direita centrista do qual o próprio presidente é parte.

Um dia depois, no sábado, o partido de esquerda começou a prometida campanha pelo impeachment de Macron, em retaliação pela recusa do chefe de Estado francês em indicar Castets ao cargo de primeiro-ministro. No X, o líder do partido Jean Luc Mélenchon anunciou que a proposta da sigla foi encaminhada aos deputados:

“A nossa proposta de resolução que visa iniciar o processo de impeachment do presidente Emmanuel Macron, nos termos do artigo 68 da Constituição, foi hoje enviada aos deputados para co-assinaturas.  Se Macron se recusa a submeter-se ao voto do povo, então devemos demiti-lo!”

No mesmo dia 30, em entrevista a uma rede de TV francesa divulgada no perfil oficial do X do partido esquerdista, Panot destacou o apoio popular à proposta do FI. “49% dos franceses são a favor da demissão de Emmanuel Macron se ele não respeitar os resultados das urnas”, disse a parlamentar, lembrando ainda que “na semana passada eram 44%. Quanto mais o tempo passar, mais aumentará a pressão popular sobre os parlamentares”. Embora dentro da margem de erro, o jornal l’Humainité destaca um percentual ligeiramente maior, com 51% dos frances entrevistados em uma pesquisa declarando-se favoráveis à renúncia do mandatário.

Com o avançar da crise, entre os defensores do fim do governo Macron, está o partido de extrema direita Reagrupamento Nacional (RN). Dias antes da proposta de na última segunda-feira (26), o deputado do RN Hervé De Lépinau pediu também a renúncia do Presidente da República, dizendo-se “irritado” com a atitude de Macron.

“Emmanuel Macron é parte do problema, mas também é parte da solução. Acho que ele deveria se afastar do poder. Ele renuncia: eba! Eleição presidencial antecipada. A vantagem da eleição presidencial é que a França tem apenas um distrito eleitoral. Portanto, quem obtiver o maior número de votos vence”.

Lépinau, no entanto, não é uma voz isolada em seu partido. Já no final de junho, a íder Marine Le Pen declarava publicamente que a única coisa que restava ao presidente francês era “renunciar para sair potencialmente de uma crise política”.

A tentativa desesperada de Emmanuel Macron de salvar seu governo, através da antecipação das eleições parlamentares em julho, mostra a decadência e o desespero de um regime que há tempos deixou de representar os interesses populares. Ao tentar neutralizar a extrema direita, Macron conseguiu, temporariamente, um controle que lhe permitiu continuar seu mandato. No entanto, o preço foi alto: para assegurar sua sobrevivência política, ele precisou golpear a esquerda, minando a legitimidade da NFP, coalizão que conquistou o maior número de cadeiras no parlamento. A manobra, ao invés de consolidar sua liderança, escancarou a falência do próprio regime que ele busca preservar.

Agora, o presidente francês enfrenta uma situação emblemática da decomposição causada pelo neoliberalismo e pela política imperialista em governos ao redor do mundo. Macron, ao invés de governar com base na vontade expressa nas urnas, recorre a medidas autoritárias, desconsiderando a escolha popular e se agarrando ao poder com manobras típicas de regimes em crise.

A França, uma das três principais potências imperialistas, encontra-se agora em um estado de crise permanente, alimentada por um governo que já não possui a legitimidade necessária para guiar o país. O resultado é um ambiente político volátil, onde a desconfiança nas instituições cresce e o próprio tecido social se desintegra.

A tentativa de neutralizar a extrema direita, enquanto golpeava a esquerda, não resolve o problema de fundo: a crise imperialista que devora a França. As manobras de Macron, que deveriam garantir a estabilidade, na verdade, só aprofundam a divisão e a polarização, deixando o país à beira do colapso. A rejeição da candidatura de Lucie Castets pela presidência é apenas mais um sintoma de um regime que não consegue mais manter as aparências e que, na verdade, se vê forçado a recorrer a medidas cada vez mais desesperadas para manter o controle.

O futuro do governo de Macron é incerto, mas tudo leva a crer que o país ainda enfrentará uma intensificação das tensões e um aprofundamento da crise. A decomposição de seu governo não é apenas o reflexo de suas próprias falhas políticas, mas sim de um sistema que já não consegue se sustentar e que, inevitavelmente, está caminhando para seu colapso. A França, sob o comando de Macron, não tem um futuro promissor pela frente, mas sim um horizonte de instabilidade e crise que, a cada dia, se torna mais evidente.

Essa crise permanente é o legado que o neoliberalismo e a política imperialista deixam. Macron pode ter conseguido prolongar sua permanência no poder, evitar o RN e afastar o FI do governo, mas o preço é a deterioração contínua do regime. Assim, o que se vê é um país à deriva, onde as manobras de curto prazo não conseguem mais mascarar a realidade de um governo que está em decomposição acelerada, arrastando consigo todo o país.

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