A França, um dos pilares do imperialismo, vive dias de tensão política e econômica que ameaçam abalar derrubar o governo do primeiro-ministro Michel Barnier e o presidente Emmanuel Macron. Empossado a menos de três meses, Barnier enfrenta uma moção de censura quase certa de ser aprovada nesta quarta-feira (4). A crise, desencadeada pela tentativa de impor um controverso orçamento de R$382 bilhões sem a aprovação parlamentar, expõe a fragilidade do regime francês e os desafios impostos pela conjuntura global.
Utilizando o artigo 49.3 da Constituição, Barnier forçou a aprovação da primeira parte de seu pacote fiscal, que inclui cortes drásticos de até R$255 bilhões e aumentos de impostos de R$127 bilhões. A manobra gerou indignação em todos os lados do espectro político.
Enquanto a extrema direita de Marine Le Pen e o Reunião Nacional (RN) prometem votar contra o pacote, a França Insubmissa, liderada por Jean-Luc Mélenchon, apresentou sua própria moção contra o governo.
A situação não favorece o premiê. Mesmo após ceder em duas das três demandas do RN, como a redução de impostos sobre eletricidade e assistência médica estatal, Barnier não conseguiu apoio suficiente. “Ele terá desonra e censura”, disparou Mathilde Panot, líder do partido de esquerda França Insubmissa. Por sua vez, Marine Le Pen declarou: “Assumiremos nossas responsabilidades, já que o senhor Barnier não quis atender às demandas dos 11 milhões de eleitores do Reunião Nacional”.
A repercussão foi imediata e negativa. As tensões políticas derrubaram o índice CAC 40 da bolsa de Paris em 1,04%, enquanto ações de gigantes como Societe Generale e Credit Agricole recuaram 2,37% e 1,89%, respectivamente. A montadora Stellantis sofreu o maior impacto, com uma queda de 8,16% após a inesperada renúncia de seu CEO. No mercado de títulos, o rendimento dos papéis de 10 anos da França subiu para 2,92%, aumentando o spread em relação aos títulos alemães para 0,88%, um nível próximo do maior em 12 anos.
A crise política, contudo, não é isolada. Ela reflete um regime cada vez mais enfraquecido após a dissolução da Assembleia Nacional em junho por Macron, quando a extrema direita alcançou avanços significativos no Parlamento Europeu.
O desgaste foi acentuado pela formação de uma frente ampla de partidos de esquerda que, apesar de ter conquistado a maioria relativa nas eleições subsequentes, não obteve o controle total do Congresso. Desde então, semanas de negociações resultaram na nomeação de Michel Barnier como primeiro-ministro, uma escolha contestada pela esquerda e que nunca foi consensual.
O impacto da crise transcende a política interna. O uso repetido de mecanismos constitucionais para driblar o Parlamento gerou preocupações entre banqueiros e especuladores internacionais sobre a capacidade da França de manter a estabilidade fiscal e política. “Nossa visão estrutural permanece negativa para a França”, afirmou a consultoria Jefferies, apontando que as medidas orçamentárias propostas tendem a agravar o endividamento do país.
A insatisfação popular também se manifesta nas ruas. De acordo com uma reportagem da Al Jazeera, manifestantes criticaram o governo por ignorar as demandas sociais em favor de ajustes fiscais severos. “Eles sempre encontram dinheiro para guerras, mas nunca para o povo francês”, reclamou um aposentado em Paris à reportagem da emissora catarense. Outro manifestante declarou: “o que estamos vendo é o fracasso total de um sistema que prioriza os lucros sobre as pessoas”.
A crise, entretanto, vai além das disputas orçamentárias ou da luta entre governo e oposição. Trata-se de um sintoma do colapso de um imperialismo incapaz de sustentar suas aventuras econômicas e militares. A guerra na Ucrânia e os conflitos no Oriente Médio têm drenado os recursos financeiros e políticos da França, aprofundando a instabilidade. O resultado é uma sociedade cada vez mais polarizada, um regime desgastado e um governo à beira do colapso.
Se confirmada a queda de Barnier, a França terá seu primeiro-ministro mais efêmero desde a Segunda Guerra Mundial, escancarando a incapacidade do imperialismo francês de responder às demandas de uma crise global que ele mesmo ajudou a criar.