Conforme destacado em artigo anterior, os sintomas da crise internacional do imperialismo são inúmeros: derrota acachapante dos EUA no Afeganistão em 2021; operação militar russa na Ucrânia desde fevereiro de 2022; golpes militares anticolonialistas na África em 2023; operação Dilúvio de Al Aqsa da resistência armada palestina em outubro de 2023 e o atual massacre dos palestinos na Faixa de Gaza; recente ataque iraniano a Israel (que teve até o momento resposta pífia).
É um momento bastante singular da história. O imperialismo moderno, que está em crise, é o maior poder já existente. Não houve, na história do mundo, um outro poderio dessa magnitude. O imperialismo, como se sabe, é um consórcio mundial, encabeçado pelos EUA, mas formado por Inglaterra, França, Japão, Alemanha etc. Além de um imperialismo de segunda linha formado por países pelas economias menos destacadas. Os impérios anteriores, não tiveram o nível de domínio e hegemonia que tem o atual. Muito menos os impérios mais antigos, como o romano ou o otomano, na medida em que não dispunham dos recursos sofisticados que tem o imperialismo moderno. Todos os impérios fracassaram porque, em algum momento, caíram em um parasitismo econômico muito grande. Vivemos hoje, inclusive, como se sabe, uma etapa de financeirização da economia mundial, que é um parasitismo típico.
Os EUA têm uma dívida pública de US$ 34 trilhões de dólares, que a cada 100 dias aumenta em torno de US$ 1 trilhão, aproximadamente, de acordo com dados do Departamento do Tesouro norte-americano. Ao mesmo, o seu principal concorrente econômico, a China, lidera há algumas décadas o crescimento da economia mundial e se tornou, em boa medida, a “fábrica do mundo”. A China, como se sabe, há décadas tem um ritmo de crescimento bastante superior ao dos EUA e o valor de seu PIB tende a superar o estadunidense em alguns anos. Em Paridade de Poder de Compra, inclusive, já superou, ou está próximo disso. A China está muito longe ainda de ter o PIB per capita dos EUA, porque abriga uma população de mais de 1,4 bilhão, contra 333 milhões dos EUA. Como o PIB per capita é uma divisão do PIB total pela população, no caso da China o produto tem que ser dividido por um número muito maior de “bocas”.
Esses acontecimentos refletem uma polarização ao nível internacional, entre o imperialismo e os países subdesenvolvidos, que acaba por se refletir internamente, como ocorre, por exemplo, em toda a América Latina. A polarização no Brasil, que é um país muito importante ao nível internacional, obviamente está relacionada também a essa polarização entre os países ricos e os subdesenvolvidos, concretizadas por esses focos de enfrentamento, mencionado acima.
A gravidade da crise do imperialismo traz o risco nada desprezível dos conflitos escalarem, conduzindo a uma conflagração de âmbito mundial. Os EUA, que são uma verdadeira máquina de guerra, aumentam sua agressividade a cada novo fracasso. Não diminuem a agressividade, pelo contrário. O orçamento militar dos EUA para este ano é de US$ 886 bilhões (mais de R$ 4,5 trilhões). Para assegurar seu domínio sobre o planeta, os Estados Unidos mantêm, segundo o Pentágono, 865 bases militares, em cerca de 130 países – o que representa 95% de todas as bases militares no estrangeiro. Manter o poder custa muito dinheiro, daí também a dívida colossal dos EUA. Por isso também esse país tem uma política predatória sobre os países subdesenvolvidos. Tem que gerar muito recurso para sustentar a máquina de dominação, incluindo a máquina de guerra.
Enquanto os EUA, sob o pretexto do “combate ao terrorismo e as drogas”, mantêm 95% das bases militares em todo o planeta, o conjunto das demais potências militares, ficam o restante. Claro que o conceito moderno de imperialismo está relacionado a esfera econômica, mas os gastos com defesa (no caso dos EUA os gastos com ataques) são também um indicador dessa condição. Incluindo os gastos com bases militares em todo o mundo. Os verdadeiros objetivos dos EUA com as bases militares é o domínio mundial das fontes de energia fóssil e outros recursos estratégicos, o controle das rotas marítimas e terrestres e a ampliação de suas áreas de controle ou influência geopolíticos.
Apesar de todo esse poderio militar, que custa caríssimo, já há algumas décadas os EUA têm conhecido a derrota. Se pegarmos um episódio recente, está muito vivo na memória a retirada vergonhosa dos norte-americanos do Afeganistão. Foram derrotados por um grupo muito mal-armado, muito mal organizado, mas firmemente decidido a derrotar os norte-americanos, que ficaram 20 anos no país e não fizeram nada de bom para sua população. A partir do acontecimento no Afeganistão, principalmente, o imperialismo entrou numa espécie de rota de crises políticas.
Neste momento estamos assistindo também a operação militar russa na Ucrânia, que levou o império a uma encalacrada, porque a derrota parece inevitável, sendo apenas uma questão de tempo. Essa investida significou um tiro pela culatra, pois, ao final da guerra, não só a economia russa não foi destruída, como terá sido ampliado o poder geopolítico desse país. Aliás, com todo o bloqueio econômico que impuseram à Rússia, sua economia cresceu 3,6% no ano passado, contra 2,5% dos EUA. Ou seja, apesar da dureza do bloqueio, que visava desorganizar a economia russa, ocorreu o contrário. A Rússia redirecionou sua produção de petróleo e gás para a China e outros países e conseguiu crescer acima da média mundial.
Outro episódio indicativo da crise do império, foi a ação do Hamas e de outras organizações armadas da Faixa de Gaza, em 7 de outubro do ano passado, que foi inédita. Essa ação militar, que foi cuidadosamente planejada, desmistificou a ideia de invencibilidade das forças armadas israelenses. Na esteira desse processo vimos o caso do Irã, que atacou Israel. Ao contrário do que o império, e sua mídia comprada no mundo todo, quiseram transparecer, o bombardeio iraniano foi um dos principais acontecimentos políticos das últimas décadas. Foi um fato político de extrema relevância, que muda completamente as relações, não só naquela região, mas no mundo todo. Desde a Guerra do Yom Kippur, em outubro de 1973 (há meio século), os países inimigos de Israel, no Oriente Médio, não atacavam território israelense.
São grandes as possibilidades que o mundo ingresse em uma etapa mais profunda desse processo de crise do imperialismo como um todo. Não só nos EUA, que são a cabeça do império, mas também na Europa e Japão. Por exemplo, há neste momento um debate sobre a desindustrialização da economia europeia, com maior força, inclusive, na Alemanha, que é a principal economia do continente. Esse debate foi intensificado a partir do problema energético, trazido pela guerra na Ucrânia. Historicamente, a industrialização alemã e de outros países da Europa, se baseou muito na oferta de energia barata, vinda da Rússia. Com a guerra e o boicote econômico à Rússia, a contrapartida foi a perda dessa fonte barata de Petróleo e gás. Há empresas fechando na Alemanha, em função do alto custo da energia, que é 2,7 vezes mais caro que a média internacional. Ademais, a Alemanha tem custos de produção, além do de energia, acima de países concorrentes. Se a economia mais eficiente, e o país mais industrializado da Europa, atravessa essa crise, nos demais países do continente a situação é ainda mais grave.
A gravidade da crise do imperialismo traz o risco nada desprezível dos conflitos escalarem, conduzindo a uma conflagração de nível mundial. Os EUA, que são uma verdadeira máquina de guerra, aumentam sua agressividade em cada novo insucesso. O orçamento militar dos EUA para este ano é de US$ 886 bilhões (R$ 5 trilhões). A Rússia, que está impondo uma inevitável derrota aos EUA na Ucrânia, tem um orçamento de defesa de US$ 112 bilhões, 12,64% do orçamento dos EUA. O orçamento de guerra dos EUA é o maior do que o acumulado dos dez orçamentos seguintes no ranking.
Para assegurar seu domínio sobre o planeta, os Estados Unidos mantêm, 865 bases militares, em cerca de 130 países – o que representa 95% de todas as bases militares no estrangeiro. O custo anual dessas bases supera 100 bilhões de dólares, de um orçamento militar estadunidense de 886 bilhões de dólares para este ano, como assinalado. Na América Latina e Caribe, atualmente, os Estados Unidos operam em pelo menos 76 bases militares, sob a direção do Comando do Sul do Departamento de Defesa (o México não entra nessa conta).
No Brasil, por exemplo, tem o Centro Espacial de Alcântara, no Maranhão, que é um tipo de base dos americanos, que mesmo não pertencendo aos EUA, o exército deste país exerce total controle do local, como se fosse território norte-americano. Vale lembrar que, em março de 2019, o governo “ultrapatriota” de Bolsonaro assinou o acordo com os EUA que autorizam a exploração da base de Alcântara pelos americanos. O local onde está a Base de Alcântara é um dos melhores do mundo para se lançar foguetes ao espaço. Uma das vantagens da Base é a significativa economia de combustíveis propelentes, que são usados nos foguetes, diminuindo gastos em até 30%.