Coluna

Crise do império e massacre na Palestina

No Brasil há setores da esquerda que apoiam a eleição de Kamala Harris, como uma solução porque seria um “mal menor”. Mas esse “mal menor” é o que sustenta Netanyahu e "Israel"

*As opiniões do colunista não refletem, necessariamente, as opiniões deste Diário Causa Operária

A mais grave crise do imperialismo, está levando o sistema a resolver tudo pela via militar. Se estima que, desde o ataque às torres gêmeas, 11 de setembro de 2001, as guerras provocadas pelo imperialismo (no Iraque, Síria, Afeganistão etc.), já tenham matado entre 5 e 6 milhões de pessoas. Nunca houve uma transição de império sem guerra, como é conhecido na história. Porém o processo de decadência dos EUA, que é bastante acelerado, tende a custar muito caro ao mundo. Já está custando.
O fato de que esteja em crise não nos autoriza a subestimar o grande poder do imperialismo. Não houve na história um outro poderio dessa magnitude. O imperialismo, como se sabe, é um consórcio mundial, encabeçado pelos EUA, mas formado por Inglaterra, França, Japão, Alemanha etc. Além de um imperialismo de segunda linha, constituído por países com economias menos destacadas, mas vinculadas ao referido consórcio.
Os impérios anteriores, não tiveram o nível de domínio e hegemonia que tem o atual. Muito menos os impérios mais antigos, como o Romano ou o Otomano, na medida em que não dispunham dos recursos sofisticados que tem o imperialismo moderno. Todos os impérios fracassaram porque em algum momento, caíram em um parasitismo econômico muito grande e sem volta. Vivemos hoje, como se sabe, uma etapa de financeirização da economia mundial, que é um parasitismo típico. O caso do Brasil, país na periferia do sistema, ilustra bem essa situação: metade do orçamento federal é destinado aos serviços da dívida pública.
Os EUA têm uma dívida pública de US$ 34 trilhões de dólares, que a cada 100 dias aumenta em torno de US$ 1 trilhão, aproximadamente, de acordo com dados do Departamento do Tesouro norte-americano. Por outro lado, o seu principal concorrente econômico, a China, lidera há algumas décadas o crescimento da economia mundial e se tornou, em boa medida, a “fábrica do mundo”.
A China, como se sabe, há décadas tem um ritmo de crescimento bastante superior ao dos EUA e o valor de seu PIB tende a superar o estadunidense em alguns anos. Em Paridade de Poder de Compra, inclusive, já superou, ou está próximo disso. Ao mesmo tempo, a China vem construindo, há cerca de uns vinte anos, uma alternativa financeira à hegemonia do dólar no mundo. Nessa complexa engenharia financeira o Banco Popular da China tem aumentado as suas reservas de ouro, a ponto de ter comprado mais ouro do que todos os outros bancos centrais do mundo, em 2023. As reservas em ouro têm o objetivo, dentre outros, de lastrear e dar mais confiança às transações em Yuan, visando a adoção gradativa desta moeda, em substituição ao dólar.
O quadro internacional turbulento leva a uma polarização, entre o imperialismo e os países subdesenvolvidos, que acaba por se refletir internamente, como ocorre, por exemplo, em toda a América Latina. Por exemplo, a polarização política no Brasil, que é um país muito importante ao nível internacional, obviamente está relacionada também a essa polarização entre os países ricos e os subdesenvolvidos, concretizadas por esses focos de enfrentamento, mencionado acima.
Os EUA, que são uma verdadeira máquina de guerra, a cada novo fracasso político e militar, dobra a aposta. Está fazendo isso nas três principais frentes de embate internacional do momento: Palestina, Ucrânia e Venezuela. O orçamento militar dos EUA para este ano é de US$ 886 bilhões (quase metade do PIB do Brasil). Para assegurar seu domínio sobre o planeta, os Estados Unidos mantêm, segundo o Pentágono, 865 bases militares, em cerca de 130 países – o que representa 95% de todas as bases militares no estrangeiro. Manter o poder custa muito dinheiro, daí também a dívida pública colossal dos EUA. Por isso também esse país tem uma política predatória sobre os países subdesenvolvidos. Tem que gerar muito recurso para sustentar a máquina de dominação, incluindo a máquina de guerra.
Os verdadeiros objetivos dos EUA com as bases militares é o domínio mundial das fontes de energia fóssil e outros recursos estratégicos, o controle das rotas marítimas e terrestres e a ampliação de suas áreas de controle ou influência geopolíticos. O surgimento de Israel, inclusive, que é um país artificial, está ligado a esses interesses imperialistas, é um projeto imperialista. Viabilizado pelo império da época, a Grã-Bretanha, que, no final da segunda guerra mundial passou a bola para os EUA, potência da vez.
Apesar de todo esse poderio militar, que custa caríssimo, já há alguns anos os EUA têm conhecido a derrota. Está muito vivo na memória a retirada vergonhosa dos norte-americanos do Afeganistão (em 2021). Foram derrotados por um grupo muito mal armado, mas firmemente decidido a derrotar os norte-americanos, que ficaram 20 anos no país e não fizeram nada de bom para sua população. A partir do acontecimento no Afeganistão, principalmente, o imperialismo entrou numa espécie de espiral de crises políticas.
Neste momento estamos assistindo também a operação militar russa na Ucrânia, que levou o império a uma encalacrada, porque a derrota parece inevitável, sendo apenas uma questão de tempo. Essa investida significou um tiro pela culatra, pois, ao final da guerra, não só a economia russa não foi destruída, como terá sido ampliado o poder geopolítico desse país. Apesar de todo o bloqueio econômico que impuseram à Rússia, sua economia cresceu 3,6% no ano passado, contra 2,5% dos EUA. Ou seja, apesar da dureza do bloqueio, que visava desorganizar a economia russa, ocorreu o contrário. A Rússia redirecionou sua produção de petróleo e gás para a China e outros países e conseguiu crescer acima da média mundial.
A ação do Hamas e de outras organizações armadas da Faixa de Gaza, em 7 de outubro do ano passado, que foi inédita, está inserida nesse contexto. Essa ação militar, que foi cuidadosamente planejada, dentre outras coisas, desmistificou a ideia de invencibilidade das forças armadas israelenses.
O fato é que o imperialismo é capaz de qualquer coisa para não ser ultrapassado em termos de domínio internacional, inclusive provocar uma guerra nuclear. Ele se consideram o povo eleito, como os sionistas. Quanto a isso, inclusive, há antecedentes: no Japão jogaram duas bombas em agosto de 1945, com a guerra já ganha, por crueldade, e para testar as bombas. Mataram mais de 210 mil civis, sem necessidade, sem contar que os efeitos radioativos duram até hoje.
Se estima que nesta guerra na Palestina já jogaram o equivalente (em termos de poderio de destruição) a 3 bombas atômicas (claro, com outros materiais). Os EUA não acabam com a matança na faixa de gaza porque não querem. São eles que alimentam os sionistas de dólares e de bombas. Entre a fundação de Israel em 1948, e 2023, Israel já recebeu US$ 260 bilhões dos EUA, sem contar com os US$ 20 bilhões que acabaram de ser aprovados pelo Congresso norte-americano.
Como os anglosionistas dominam os meios de comunicação no mundo, vendem a ideia de que quem não quer o acordo de paz são os palestinos. Hamas e as demais organizações são classificados como “terroristas”. Nessa interpretação, os palestinos seriam os culpados do próprio genocídio. Independentemente do que acontecer nos próximos meses na Palestina (infelizmente não será coisa boa), Netanyahu e os outros assassinos já perderam essa guerra. Em 10 meses de guerra, a máscara de Israel caiu por terra, como revelam os protestos realizados no mundo todo.
Além disso, Israel nunca teve em tantas dificuldades. Está sendo atacado em várias frentes: Gaza; no Norte, na fronteira com o Líbano; no Leste, na fronteira com a Síria na região das colinas de Golã; não diretamente contra Israel, mas aos Estados Unidos dentro do Iraque e da Síria. Frente a essa situação, a resposta do governo fascista de Israel é uma só: transformar a guerra num conflito regional, envolvendo, por exemplo, o Irã, possibilitando assim um maior envolvimento dos EUA.
No Brasil há setores da esquerda que apoiam a eleição de Kamala Harris, como uma solução porque seria um “mal menor”. Mas esse “mal menor” é o que sustenta Netanyahu e seus fascistas em Israel. O Partido Democrata divulgou agora as linhas principais do seu programa de governo e nele não tem nada sobre um cessar fogo na Palestina ou de deter o massacre. Os EUA poderiam parar a guerra, se quisessem. Na realidade a sustentação de Israel, armar Israel é a pedra angular da política exterior dos EUA. O “mal menor” é quem está provocando os três principais conflitos no mundo hoje: Massacre na Palestina, guerra na Ucrânia e a tentativa de golpe de Estado na Venezuela.

*Economista

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