A cerimônia na B3 na manhã dessa terça-feira (23) marcou a liquidação da Sabesp aos especuladores da banca internacional, que na Bolsa de Valores de São Paulo, concluíram o assalto ao povo paulista. Sob o governo de Tarcísio de Freitas (Republicanos), o estado de São Paulo perdeu a maior empresa de saneamento básico da América Latina para o parasitismo financeiro, em uma verdadeira “privataria”, responsável por movimentar R$14,8 bilhões, uma cifra que, embora pareça impressionante para alguns, representa um golpe contra São Paulo, o paulista e os brasileiros, finalmente.
Na cerimônia ocorrida no dia 23, os últimos lotes de 17% das ações da empresa foram distribuídos a investidores físicos e jurídicos da Bolsa, seguindo o plano eufemisticamente chamado de “desestatização”.
Em entrevista ao Brasil de Fato, Amauri Pollachi, especialista em saneamento e recursos hídricos e conselheiro do Observatório Nacional dos Direitos à Água e ao Saneamento (Ondas), destacou uma perda de pelo menos R$4,5 bilhões para os cofres públicos, uma vez que as ações foram vendidas por um preço muito abaixo de seu valor real. “São quase R$5 bilhões que o estado poderia ter embolsado se tivesse vendido as ações pela cotação atual”, disse Pollachi.
A cifra estimada por Pollachi, no entanto, ainda está subestimada. Para medir melhor o tamanho do rombo, é preciso lembrar que as ações da ex-estatal foram vendidas a R$67 cada, enquanto na Bolsa de Valores de São Paulo (B3) seu valor atual é de R$87.
De acordo com um estudo do Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente do Estado de São Paulo (Sintaema), o preço justo por ação deveria ser de R$103,90. Isso significa que o governo paulista abriu mão de cerca de R$8 bilhões ao vendê-las por R$67.
Na rede social LinkedIn, Roberto Nemr, sócio associado da Kipuinvest, chamou a atenção para a “Black Friday fora de época” promovida por Tarcísio de Freitas, denunciando o presente de R$3 bilhões ao mercado financeiro. “De todas as coisas absurdas que já vi na vida essa privatização da Sabesp a preço subsidiado foi a mais bizarra. Virou uma farra do boi de sob-demanda a preço fixo quando o certo seria aumentar o preço para ajustar a demanda fictícia. Coisas assim não acontecem em um país sério. Ponto extremamente negativo para Tarcísio e órgãos reguladores. Equatorial e PFs insiders ganharam bilhões em poucas semanas: dinheiro esse que saiu do erário público”, disse Nemr em seu perfil na rede social. A Sabesp registrou um lucro líquido de R$3,1 bilhões em 2023.
O controverso Grupo Equatorial (consórcio liderado por bancos como o norte-americano BlackRock, entre outros) arrematou 15% das ações da ex-estatal, por R$6,9 bilhões, enquanto outros R$7,9 bilhões foram arrecadados de investidores diversos. Anteriormente, o governo paulista detinha 50,3% da empresa, mas reduziu sua participação para 18,3%. Destes valores, o Palácio dos Bandeirantes (sede do governo paulista) embolsará 70% (R$10,4 bilhões), enquanto os 30% restantes (R$4,4 bilhões) serão destinados a um fundo de universalização dos serviços públicos de saneamento básico.
A privatização da Sabesp é, na verdade, uma operação de rapina. A promessa de ganhos de eficiência e melhoria nos serviços não se concretiza na prática. O exemplo de outros serviços privatizados demonstra que o mais comum é a piora na qualidade e o aumento das tarifas.
As próprias aquisições do Grupo Equatorial no Amapá e no Rio Grande do Sul demonstram a veracidade do problema da entrega dos serviços públicos à ganância dos tubarões do mercado financeiro mundial. A Sabesp, sob administração privada, terá de investir menos do que o governo previa, maximizando seus lucros às custas da população.
A desestatização da Sabesp foi justificada pelo governador Tarcísio de Freitas como um movimento vantajoso para o estado de São Paulo, porém, os números da “privatização” revelam uma realidade muito diferente. A venda das ações por um preço muito inferior ao valor de mercado representa uma perda colossal para o estado e um lucro fácil para os banqueiros.
Para sustentar sua política, o acordo promete reduzir as tarifas em 10% para a população mais pobre, 1% para os clientes residenciais e 0,5% para outras categorias, o que é uma farsa, facilmente percebida por qualquer um que conheça a justiça brasileira. Uma vez concluída a aquisição, os banqueiros cumprirão com as contrapartidas da “compra” enquanto os interessarem, deixando a cargo do Poder Judiciário a responsabilidade por obrigá-los a fazer qualquer coisa que se comprometeram. Poder Judiciário este que serve justamente para garantir os interesses dos mais ricos.
A entrega da Sabesp é um duro ataque ao patrimônio público brasileiro. A maior empresa de saneamento da América Latina foi entregue a um preço irrisório, favorecendo o mercado financeiro e prejudicando o povo paulista. Os investimentos prometidos e melhorias nos serviços não passam de uma ilusão, uma vez que a experiência com outras privatizações demonstra o contrário.
É imperativo que o povo paulista e as organizações de luta dos trabalhadores se mobilizem para reverter este projeto. A privatização da Sabesp deve ser vista pelo que realmente é: uma operação de “privataria”, um roubo do patrimônio público que precisa ser derrotado com a força da mobilização popular.
A luta contra a “privataria” é uma luta pela preservação dos direitos e do patrimônio do povo brasileiro. Com a clareza da dureza do ataque e suas consequências para a classe trabalhadora brasileira, as organizações de luta das massas, os partidos de esquerda e especialmente os sindicatos e a CUT devem enfrentar o governo e pressionar, de todas as formas, pela suspensão da entrega da Sabesp e sua manutenção como uma empresa estatal, 100% ligada aos interesses dos trabalhadores paulistas e, por isso mesmo, gerida por eles.