Além de estupros com cachorros, uma série de relatos de médicos americanos que atuaram em Gaza revelou mais uma prática cruel e devastadora cometida pelos israelenses: crianças sendo baleadas na cabeça durante a ocupação. Os depoimentos, publicados pelo The New York Times, destacam a gravidade dos crimes patrocinados pelo imperialismo e as consequências trágicas para as vítimas mais vulneráveis — no caso, as crianças palestinas.
Em março e abril de 2024, o cirurgião geral Dr. Feroze Sidhwa trabalhou em Khan Younis, uma das áreas mais afetadas de Gaza. Durante suas duas semanas de atuação, ele descreveu uma cena que o chocou profundamente. “Quase todos os dias, eu via uma nova criança, ferida na cabeça ou no peito por tiros, e quase todas elas morreram. Foram 13 no total”, relatou.
Esse cenário repetitivo e devastador, segundo o Dr. Sidhwa, parecia estar relacionado à presença de um atirador das forças israelenses posicionado perto de onde ele operava. Ao retornar aos Estados Unidos, o médico compartilhou sua experiência com um colega e ficou surpreso ao ouvir: “Sim, eu também, todos os dias.”
Esse padrão, descrito por diversos profissionais de saúde, reflete mais um caso no qual os palestinos são submetidos à brutalidade das forças de ocupação. Sidhwa, ainda em choque com o que presenciou, entrevistou 65 profissionais de saúde que trabalharam em Gaza. Desse grupo, 44 relataram ter visto crianças baleadas na cabeça ou no peito, e 57 concordaram em dar seus testemunhos publicamente.
O cirurgião bariátrico Dr. Mohamad Rassoul Abu-Nuwar contou sobre um dia particularmente sombrio no hospital de Khan Younis. Em apenas quatro horas, ele atendeu seis crianças, todas entre 5 e 12 anos de idade, vítimas de ferimentos de bala na cabeça. “Era uma imagem devastadora”, disse o médico, acrescentando que todas morreram em questão de horas.
De forma similar, o cirurgião plástico e reconstrutivo Dr. Irfan Galaria lembrou-se de um dia em que sua equipe tratou de quatro ou cinco crianças, com idades entre 5 e 8 anos, todas baleadas na cabeça. “Elas chegaram ao pronto-socorro ao mesmo tempo, e todas morreram,” afirmou.
Para além das mortes instantâneas, muitos dos casos envolviam crianças que, embora sobreviventes, enfrentavam danos cerebrais irreversíveis. O anestesiologista Dr. Ndal Farah, que também atuou em Gaza, declarou que várias das crianças baleadas tinham “danos cerebrais permanentes e incuráveis”, o que, segundo ele, era um fenômeno quase diário. “As chances de recuperação para essas crianças eram inexistentes”, concluiu Farah.
Além da violência direta, a desnutrição generalizada entre os palestinos foi outro aspecto destacado pelos médicos. Muitos profissionais relataram que as crianças atendidas estavam malnutridas, o que agravava a gravidade dos ferimentos. A enfermeira Merril Tydings, que atuou ao lado dos médicos, descreveu a situação como desesperadora. “Essas pessoas estavam morrendo de fome,” afirmou. Ela contou que os profissionais de saúde internacionais aprenderam a não comer ou beber na frente dos colegas palestinos, que não tinham acesso a alimentos ou água potável há dias.
A tragédia provocada pelo sionismo e patrocinada pelo imperialismo também atingiu os recém-nascidos. Segundo mais de 20 médicos, bebês saudáveis nascidos nos hospitais morriam logo após o nascimento, vítimas de desidratação, fome ou doenças que poderiam ser evitadas em circunstâncias normais. O impacto psicológico do massacre foi outro ponto central dos relatos. Entre os 65 profissionais entrevistados, 52 observaram um nível “quase universal” de sofrimento psicológico entre as crianças, muitas das quais exibiam sinais de depressão profunda. Algumas chegavam a expressar pensamentos suicidas. A pediatra intensivista Tanya Haj-Hassan compartilhou um caso que a marcou profundamente: um menino que havia perdido toda a sua família disse, com uma tristeza devastadora, “Todos que eu amo estão no céu. Eu não quero mais estar aqui.”
“Nós, americanos, estamos transformando Gaza em um deserto de horrores,” declarou o Dr. Sidhwa, culpando acertadamente o imperialismo pelo que é cometido em Gaza. Ele pediu que os EUA interrompessem imediatamente o fornecimento de armas ao “país” israelense, responsável por transformar a Faixa de Gaza em um “inferno na Terra.” “O horror deve acabar. Os Estados Unidos precisam parar de armar Israel,” escreveu ele em um artigo após sua volta.
Os hospitais, sobrecarregados e com recursos limitados, estão em uma corrida contra o tempo para salvar as vidas de civis feridos. No entanto, como evidenciado pelos relatos dos médicos americanos, as chances de sobrevivência para as crianças baleadas são quase nulas. Muitos dos que sobrevivem, segundo os médicos, ficam com lesões irreversíveis, comprometendo seu desenvolvimento físico e mental para o resto da vida. Além disso, a infraestrutura de Gaza, incluindo escolas, hospitais e redes de água, tem sido sistematicamente destruída pelos bombardeios, exacerbando ainda mais a crise. Com o bloqueio que limita a entrada de bens essenciais, a população vive em condições de extrema precariedade, sendo as crianças as mais afetadas.
Os relatos dos médicos americanos que testemunharam as atrocidades em Gaza mostram o caminho correto a ser adotado no que a imprensa burguesa chama de “conflito”: o caminho em defesa do povo e da luta palestina. Marcadas por traumas físicos e psicológicos profundos, essas crianças mencionadas enfrentam uma luta diária por sobrevivência em meio à violência contínua por parte do inimigo sionista. As declarações dos profissionais de saúde reforçam a urgência da vitória da resistência, que luta de armas nas mãos contra aqueles que dizimam suas crianças e seu país.