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Universidade de Brasília

Cotas para trans: a universidade pública cada vez mais restrita

Aprovada pela UnB, medida serve apenas a uma minoria de classe média

O portal Em defesa do comunismo, ligado ao racha do PCB chamado PCBR, publicou, no dia 23, artigo intitulado UnB aprova cotas para pessoas trans, onde elogia a decisão da UnB, 11ª universidade a adotar a política de cotas para pessoas trans, dizendo ser um “importante passo”.

“Essa decisão é parte de um movimento maior de combate à discriminação e às desigualdades que ainda persistem no sistema educacional brasileiro. (…) Com isso, a universidade não apenas reconhece a urgência de ações afirmativas para grupos marginalizados, mas também se alinha com o princípio de uma educação popular, gratuita e de acesso universal.”

Segundo o PCBR, a medida da universidade seria um combate à discriminação e às desigualdades no sistema educacional. É incrível que os identitários não percebam que medidas como essa não combatem a discriminação, pelo contrário, a reforçam. Basta usar um pouco o cérebro para saber que para boa parte da população a medida vai parecer – e de fato é – uma imposição de uma minoria.

Dizer que isso é um “combate às desigualdades” é ainda mais absurdo. Tal medida não vai mexer um milímetro nas “desigualdades no sistema educacional”.

Uma pesquisa feita em 2021 pela UNESP-Botucatu mostrou que apenas 2% da população brasileira seria “transgênero ou não-binárias” – número esse que parece muito, muito aumentado. Independentemente da veracidade da pesquisa, não é difícil perceber que estamos diante de uma parte muito reduzida da sociedade.

Podemos concluir facilmente que a medida da UnB vai, na verdade, piorar a desigualdade no sistema educacional. Isso porque o já restrito acesso à universidade pública ficará ainda mais restrito, tendo uma parte das vagas destinadas a um setor ultra minoritário da população.

Quando o movimento negro defendida a cota para a população negra no início dos anos 2000, embora isso não fosse resolver o problema da exclusão social, certamente era uma medida que aumentava o acesso de um setor da população à universidade. A discussão sobre a efetividade das cotas para negros é legítima, mas fato é que os negros são a esmagadora maioria do país, ou seja, isso ajudaria a impulsionar, ainda que parcialmente, uma democratização na universidade.

No caso da cota para trans é o oposto disso. Não há nada de progresso nessa decisão. A seguir essa lógica de cotas, qualquer setor minoritário da população mereceria cotas.

Ao invés de aumentar a restrição ao acesso à universidade, que é o que faz na prática a medida da UnB, seria correto lutar pelo fim do vestibular e o livre acesso. Daí que é uma colocação totalmente absurda dizer que a UnB “se alinha com o princípio de uma educação popular, gratuita e de acesso universal”. Ao contrário do que diz o PCBR, a UnB está no sentido contrário disso.

O artigo continua, dizendo que os “estudos, produzidos por instituições acadêmicas e entidades de apoio e representação, apontam que a população trans está entre os grupos mais marginalizados no Brasil, com índices alarmantes de violência e discriminação no acesso ao trabalho e à educação.”

É fato que a população trans, entendendo aqui principalmente os travestis, sofrem com essa violência. Esse setor é tradicionalmente empurrado para uma situação degradante, boa parte na prostituição. Esse sem dúvida é um problema social que deve ser cuidado. Mas isso não tem nenhuma relação com estar ou não na universidade.

O que o identitarismo quer ao defender a cota para trans não é garantir que o travesti marginalizado entre na universidade porque este, com ou sem cota, está muito distante dela. O que os identitários querem é facilitar o acesso às pessoas trans de classe média, que se tornou mais comum devido justamente à propaganda ideológica identitária. No fundo, ninguém liga para o trans marginalizado.

Com a ideologia identitária infiltrada na esquerda pequeno-burguesa, está acontecendo uma fenômeno grotesco na universidade. Pelo texto do PCBR, parece que o movimento estudantil trocou a luta estudantil por uma pseudo luta pelos trans.

“A mobilização dos estudantes para travar a luta por suas reivindicações e levar adiante as suas pautas foi o que conquistou essa vitória. Desde faixas e cartazes colocados pela universidade até uma agitação direta entre os estudantes, os estudantes organizados foram capazes de unir os seus colegas na construção de diversos atos, incluindo a passeata em direção a reitoria, onde os estudantes permaneceram no prédio durante a votação, gritando palavras de ordem e gritos de guerra, demonstrando o apoio dos estudantes pela promulgação das cotas trans.”

Não que a gente acredite que a esquerda pequeno-burguesa seja esforçada, mas a impressão que passa é a de que o movimento estudantil não tem nada mais importante para fazer. A universidade deve estar maravilhosa, a qualidade do ensino etc. Só resta mesmo o esforço para defender a cota e o banheiro trans.

Com essa política, a esquerda vai terminar sem apoio nenhum. Depois não adianta reclamar e chamar o povo de fascista.

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