Recentemente, o regime sírio de Assad, com mais de 50 anos, foi derrubado pela ação imperialista. É natural que o imperialismo tenha simpatia pela sua criação; entretanto, essa simpatia é antinatural para grupos da esquerda brasileira, como o PSTU.
Regime nacionalista
Como toda política nacionalista, Assad tentava manobrar entre as pressões imperialistas e os países que buscam independência em relação a essas pressões, principalmente a Rússia e o Irã. Esse tipo de política tem sua força na mobilização popular, tornando sua derrocada inevitável sem essa mobilização.
Essa vacilação de Assad, típica da política nacionalista, somada à falta de mobilização popular, acabou inviabilizando a organização de uma resistência sólida, sendo um dos principais fatores responsáveis pelo sucesso do golpe articulado.
Nesta segunda-feira (16), Assad quebrou o silêncio. Do exílio em Moscou, escreveu uma carta: “Eu nunca busquei posições para ganhos pessoais, mas sempre me considerei como um protetor de um projeto nacional, apoiado pela fé no povo sírio, que acreditava nessa visão. Sempre mantive uma convicção inabalável no desejo deles e na capacidade de proteger o Estado, defender suas instituições e sustentar as escolhas até o último momento”.
Instrumento do imperialismo
Entre os grupos que derrubaram o regime de Assad, que contou com o apoio das forças da Turquia e de “Israel”, o principal foi o Hayat Tahrir al-Sham (HTS). O líder do HTS, Ahmed al-Sharaa, que já utilizou o nome de Abu Mohammad al-Julani, é um mercenário conhecido, com histórico de serviços prestados ao imperialismo.
Assumindo o regime pós-golpe, al-Sharaa dissolveu os grupos que realizaram a investida, unificando-os sob o comando do Ministério da Defesa. Ele também intimou os membros do alto escalão do antigo regime a se apresentarem no “Edifício de Segurança Militar” para julgamento.
“Solicita-se a todos que tragam todos os documentos e equipamentos que possuam, sob pena de ação em caso de descumprimento ou prestação de informações falsas ou incompletas”, afirma o comunicado.
Neste momento, seu esforço está voltado a aproximar o novo regime do imperialismo, solicitando a reavaliação de sua designação como organização terrorista e a abertura de relações diplomáticas com os principais países imperialistas. Enquanto al-Sharaa serve aos interesses do imperialismo, a Síria segue ameaçada de desmembramento de seu território, com áreas ocupadas ao norte pela Turquia e por “Israel”.
Agraciando a criação
Uma materialização dessa política ocorreu no sábado (14), com o secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, e, na segunda-feira (16), com diplomatas do Reino Unido em Damasco.
Sobre o caso, o ministro das Relações Exteriores britânico, David Lammy, declarou às emissoras: “O HTS continua sendo uma organização proibida, mas podemos ter contato diplomático, e por isso tivemos contato diplomático, como era de se esperar”. “Usando todos os canais que temos disponíveis – sejam diplomáticos ou, claro, canais orientados pela inteligência – procuramos lidar com o HTS onde for necessário”, completou Lammy.
O chefe de política externa da União Europeia, Kaja Kallas, também sinalizou a aprovação do regime, com base em condicionantes. Tal posição indica que o imperialismo trabalha para estabilizar a situação, garantindo seus interesses e admitindo a utilização de seus recursos de inteligência no novo regime.
Contramão
Que o imperialismo proclame a queda de um regime nacionalista, que em alguma medida se opõe à sua dominação, como a queda de uma ditadura é plenamente compreensível. Porém, não há como não causar estranheza o fato de um grupo supostamente de esquerda, como o PSTU, exaltar esse golpe imperialista como uma “revolução”.
Como conceber uma revolução cujas armas, em vez de estarem nas mãos dos trabalhadores, estão nas mãos de sionistas e outros mercenários pagos pelo imperialismo? Isso é possível apenas aos olhos de quem enxergou uma revolução no golpe de Estado de 2014 na Ucrânia ou vê a Rússia como um país imperialista.
A questão que coloco é: o PSTU está na contramão da esquerda e do movimento operário ou apenas a serviço do imperialismo?