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Alemanha

‘Conservadorismo’, o bicho papão da esquerda identitária

Um partido de esquerda bate de frente com a extrema direita na Alemanha, levando identitários enlouquecidos a acusar a organização de não ser verdadeiramente de esquerda

Na Europa há um único partido de esquerda que consegue competir com a extrema-direita, o BSW de Sahra Wagenknecht da Alemanha. O partido é conhecido por sua posição diferente sobre a OTAN, sobre a imigração na Europa e por não aderir ao identitarismo.

Diante da ascensão, o setor tradicional da esquerda mais alinhado com o imperialismo ataca o BSW. O portal português Esquerda.net publicou o texto “Wagenknecht, um nacionalismo típico”, escrito por Jorge Costa, para criticar o partido afirmando que não é realmente de esquerda.

O texto começa: “é da guerra que nasce a mutação Wagenknecht. Mais do que a última saudosista do muro de Berlim, é um produto deste nosso tempo: novamente, no turbilhão da guerra, há esquerdas que se renegam pelo nacionalismo”.

A análise que a guerra foi crucial é real, apesar da caracterização do partido ser incorreta. Quando o SPD, tradicional partido da esquerda alemã, se tornou o partido de apoio total a OTAN e da destruição da economia alemã, isso abriu margem para o crescimento de uma nova esquerda. A primeira crítica é que o partido não teria um programa de esquerda.

O enunciado sobre a propriedade é central, mas como protecionismo da burguesia industrial alemã: ‘uma política energética sensata começaria por considerar as necessidades das empresas médias alemãs [o Mittelstand], de modo a encorajar os proprietários e as suas famílias a mantê-las, em vez de as venderem a investidores financeiros’.”

Ou seja, se posicionar contra a destruição das empresas médias não seria uma política de esquerda, o que é absurdo. A esquerda sempre foi contra a destruição neoliberal da economia, pois os mais afetados no fim são os trabalhadores. O BSW também possui políticas tradicionais de defesa dos trabalhadores, como indica no trecho abaixo:

Sem vínculo aos interesses próprios do Trabalho, Sahra Wagenknecht assume o lugar do seu partido como ‘legítimo herdeiro tanto do capitalismo domesticado do pós-guerra como do progressismo social-democrata’. De modo mais simples, Sabine Zimmermann, líder do partido na Saxônia, explica que o BSW está ‘à esquerda da CDU e à direita do SPD’.

Como o partido se autodeclara é pouco relevante. A República Islâmica do Irã, por exemplo, é de longe o regime mais progressista do Oriente Médio. O alemão Partido Nacional Socialista, por outro lado, era de extrema direita.

Ao mesmo tempo, domesticar o capitalismo também é uma política tradicional da esquerda que não é revolucionária. É a política da antiga social-democracia da Europa, do pós-guerra. A principal tese do autor é que o BSW abdica das posições de esquerda e assim conquista votos da extrema direita:

O discurso de Wagenknecht pode juntar votos em uma conjuntura de deslocamento geral à direita. Mas esses votos são uma confirmação do deslocamento à direita, porque o programa que os une é uma pedagogia de conciliação de classes e uma capitulação sobre a propriedade social da economia. Wagenknecht limita-se a propor elementos de justiça fiscal e uma regulação estatal nacionalista que preserve a propriedade da burguesia industrial alemã”.

Isso é uma inversão da realidade. A esquerda tradicional abdicou de defender os trabalhadores, de defender que a indústria não seja destruída pelo neoliberalismo, impulsionando o crescimento da extrema direita, que em parte, é contra essa política econômica. O BSW também é contra, de forma ainda mais contundente.

É preciso lembrar que esse partido surge também dos setores da antiga Alemanha Oriental, ou seja, dos antigos comunistas, que defendiam a economia estatal. É uma política muito mais à esquerda do que defender a destruição econômica causada pela política da OTAN.

“Wagenknecht propõe um nacionalismo reacionário de velho recorte, arreigado à conciliação de classes e que assume as linhas de choque que a direita conseguiu impor na agenda – energia, imigração e ‘costumes’ – para tocar versões do repertório conservador e supremacista alemão da extrema-direita”.

O BSW não propõe o nacionalismo reacionário, que em um país imperialista, significa apoiar a política de guerra contra os países atrasados. Ou seja, os apoiadores da OTAN são os que apoiam esse nacionalismo e a ampliação do aparato militar alemão. Energia barata obviamente é uma política de esquerda, já sobre a imigração a esquerda também tem uma política tradicional.

Os banqueiros e demais capitalistas europeus defendem a imigração sob a base de uma política que culmine em ataque aos trabalhadores. Isso porque milhões de imigrantes entrando em um mercado de trabalho sem um plano que implique na redução da jornada, tem como consequência rebaixar os salários dos operários e assim aumentar os lucros dos empresários.

A esquerda defendeu sempre que a imigração só pode ser feita sem redução de salários e de direitos, defendendo também a necessidade de garantir que os países oprimidos não sejam destruídos por guerras e golpes de Estado, fatores responsáveis pela onda de imigração. Ou seja, existe uma oposição a imigração pela esquerda.

Onde este supremacismo nacionalista alemão se expressa mais claramente é na questão climática: ‘não apoiamos a destruição da nossa indústria automóvel, tornando obrigatórios os carros elétricos apenas para cumprir uns limiares arbitrários de emissões. Ninguém que hoje esteja vivo verá as temperaturas médias voltarem a descer, independentemente de quanto se reduzam as emissões’.”

É mais um argumento ridículo, destinado a justificar que o BSW seria quase fascista. Primeiro, é preciso lembrar que o Partido Verde é o que mais defende os nazistas da Ucrânia. Segundo, mais uma vez é uma defesa do emprego, que deve estar acima do meio ambiente. O autor pode não gostar, mas isso é uma política de esquerda, assim como a posição internacional do BSW:

O slogan ‘por um mundo multipolar’ traduz a visão de uma esquerda que se vê como parte do xadrez geopolítico. Nesse xadrez, enfrentam-se o campo imperialista e os ‘pólos’ seus adversários e resta à esquerda optar entre ser um peão branco (alinhado com o liberalismo ocidental) ou um peão negro e, neste caso, assumir a retórica de Putin quanto à guerra da Ucrânia, fechar os olhos aos torcionários do Irão e da Síria ou tratar a fraude eleitoral venezuelana como um mal necessário.”

Nesse momento fica claro quão reacionário é o Esquerda.Net. Ele ataca todos os países que lutam contra o imperialismo, Rússia, China, Irá e até a Síria e a Venezuela. Nesse sentido essa é uma das políticas mais progressistas do BSW, que não adere ao tradicional internacionalismo marxista, mas ao defender o chamado “mundo multipolar”, está abandonando a política do imperialismo alemão, algo crucial para qualquer partido de esquerda em um país imperialista. Isso mostra como o partido é diferenciado e o motivo que ele cresce.

O autor então levanta a ideia absurda de que o suposto financiamento da fronteira seria equivalente a mandar tanques para a OTAN: “mas este posicionamento não traduz um antimilitarismo coerente. Pelo contrário, a política de imigração do BSW implica a militarização da fronteira sul da Europa contra os trabalhadores estrangeiros que tentam chegar ao continente, a manutenção dos campos de concentração pagos pelos cofres europeus, tal como a continuação das mortandades no Mediterrâneo e no deserto do Sahara, entre outras”. Como dito acima, a política do fortalecimento do chamado multipolar seria o caminho para diminuir a imigração, melhorar a situação no Oriente Médio principalmente.

Por fim, o texto tenta afirmar que a não adesão do identitarismo indicaria que o BSW é de direita. Mas o identitarismo é a política da direita imperialista, o governo Biden, de Macron e o sionismo. O que o autor mostra ao atacar o BSW e o que um setor da esquerda ficou tão pró-imperialista que ao ver uma esquerda que mantêm as tradições a considera de direita.

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