“É o fim da ‘guerra fria’ entre São Paulo e o Brasil”, assim interpreta o colunista do portal Brasil 247, Alex Solnik, em artigo publicado nesta sexta-feira (2).
Solnik refere-se ao episódio em que Lula recebeu, em evento no Porto de Santos, o governador bolsonarista de São Paulo, Tarcísio de Freitas. No palanque, após vaias da plateia contra o governador, Lula o defendeu afirmando que a “democracia deveria ser respeitada” e coisas do tipo. O discurso do presidente foi encerrado com: “Parabéns às relações democráticas entre o Brasil e São Paulo”.
Alex Solnik ficou maravilhado com o acontecimento: “Além de encerrar o discurso, a frase encerra o estranhamento inicial entre o governador de São Paulo, eleito pelo bolsonarismo, e o governo federal.”
Primeiro precisamos dizer que falta a Solnik malícia política. Obviamente que nem Lula, nem Tarcísio creem realmente serem grandes amigos. São falas de mera aparência, como é típico da política burguesa que infelizmente Lula copia.
Tarcísio é bolsonarista e ser bolsonarista não significa simplesmente ser amigo de Bolsonaro. O essencial não é isso, mas o fato que Tarcísio é um elemento da extrema direita. Mas Tarcísio é também amigo de Bolsonaro.
Se Lula não ganha nada fingindo ser amigo de Tarcísio, menos ainda ganham a esquerda e o povo. No entanto, há um problema mais grave.
Ao procurar uma conciliação com um elemento bolsonarista, a ponto de defendê-lo da justa indignação dos presentes no evento que vaiaram o governador, Lula desarma seus apoiadores.
Já o bolsonarismo, com ou sem Tarcísio, não para de armar suas fileiras. Bolsonaro e a extrema direita não querem saber de conciliação, não querem saber de Lula, nem da esquerda.
Solnik cita Lula: “Presidente da República não pode ter inimigos”, “isso que o Brasil espera de um estadista”, completa o articulista.
Se é fato que um “estadista” precisa saber conversar com vários setores, não é fato que ele não terá inimigos.
O que há no Brasil, a polarização política no País, existe e é uma guerra que está latente. Lula pode até não querer promover tal polarização, mas não será desse modo que acabará com ela. Ele precisa mobilizar seus apoiadores e o povo em geral para questões políticas concretas, que dizem respeito aos interesses reais da população.
Eliminar a polarização – ou a “guerra fria”, como diz Solnik – só é possível acabando com a extrema direita por meio de uma luta política. Dar sermão em seus apoiadores que estão dispostos a essa luta apenas enfraquece sua base e a confunde.
Enquanto isso, o povo continua sofrendo nas mãos dos bolsonaristas e da burguesia em geral.