As eleições municipais deixaram claro um fenômeno alarmante que expõe a profunda decadência do regime político brasileiro: a generalizada e escancarada compra de votos em várias regiões do país. Longe de ser um problema isolado ou restrito a casos pontuais, a compra de votos é uma prática disseminada, especialmente nas periferias e zonas rurais.
A imprensa burguesa, como de costume, preferiu tratar o assunto com silêncio ou minimizar sua gravidade. No entanto, a realidade é que a compra de votos foi uma das mais graves e significativas marcas desta eleição, revelando a falência do sistema político e a falta de legitimidade das instituições eleitorais.
O regime brasileiro, que se autoproclama democrático e republicano, tem nas eleições um de seus pilares fundamentais. Entretanto, quando essa prática é corroída pela corrupção escancarada, fica evidente que o próprio regime está em crise. A compra de votos não é apenas uma violação pontual das regras eleitorais, ela é o sintoma de um sistema político que não consegue mais se sustentar por meios legítimos e que recorre à fraude e ao clientelismo para sobreviver.
Em várias regiões do país, observou-se uma verdadeira indústria da compra de votos, com esquemas articulados e uma máquina eleitoral altamente eficiente, que faz uso do dinheiro e do controle local para garantir resultados nas urnas. Nas periferias das grandes cidades e nas áreas rurais, a prática foi particularmente intensa. Em alguns casos, como no Mato Grosso do Sul, o voto era comprado por 200 reais. Em comunidades de índios, por exemplo, candidatos utilizavam-se de recursos para manipular eleitores, explorando a situação de vulnerabilidade dessas populações para garantir votos a baixo preço.
Essa compra de votos não apenas distorce os resultados eleitorais, mas também representa uma violação direta da soberania popular. O eleitor, que deveria exercer seu direito de voto de maneira livre e consciente, é submetido a um processo de coação econômica, onde a necessidade imediata de sobrevivência se sobrepõe à escolha política. Esse fenômeno é ainda mais evidente nas regiões mais pobres do país, onde a extrema desigualdade social torna a população mais suscetível a esse tipo de manipulação. O processo eleitoral, nesse sentido, deixa de ser uma expressão da vontade popular e passa a ser um jogo de cartas marcadas, onde quem tem mais recursos financeiros e controle político sobre as máquinas locais é quem define o resultado.