Em 2023, o órgão iraniano em inglês Tehran Times entrevistou Sayyid Haidar, um dos generais da Resistência Islâmica e organizadores da vitória histórica conquistada pelo Hesbolá contra “Israel” (“Hajj Qassem at the Forefront “, Sondos Al-Asaad, 13/8/2023). A entrevista marcava os 16 anos do feito e sua importância na estratégia geral do Eixo da Resistência. Pela segunda vez, o enclave imperialista invasor do Mundo Árabe era derrotado pelo partido revolucionário libanês, evidenciando sua incapacidade de enfrentar uma força política mais organizada, mesmo que de um país atrasado e completamente devastado como o Líbano. Um dos personagens principais dessa importante conquista, foi o mártir Hajj Qassem Soleimani, major-general iraniano da Guarda Revolucionária Islâmica, assassinado pelos EUA em 2020. Em sua memória, sua importância foi lembrada por Haidar, que destacou o fato de Soleimani estar “na linha de frente” e ter permanecido com a Resistência no local do confronto até a vitória. Disse ao TT o general Haidar:
“Durante os primeiros dias da guerra de julho de 2006, o mártir Qassem Soleimani transmitiu uma mensagem verbal urgente do líder supremo da Revolução Islâmica, Sayyad Ali Khamenei, para Sayyed Hassan Nasrallah, declarando: ‘esta guerra será dura, mas confie em Deus, e você deve permanecer firme. Temos plena confiança na vitória da Resistência. Além disso, temos certeza de que essa resistência vencerá e se transformará em uma força regional.’ Hajj Qassem estava presente ‘na linha de frente’, como disse Sayyed Nasrallah, sob o bombardeio de Israel, depois que ele insistiu em estar presente nos subúrbios ao sul de Beirute, apesar das preocupações de Sayyed Nasrallah. No entanto, HajjQassem insistiu em manter-se a par de todos os detalhes relacionados à agressão e garantir todo o apoio necessário à Resistência em vários níveis. A guerra terminou e ele só saiu depois que o cessar-fogo forçado pela Resistência entrou em vigor, para assumir a missão de abrigar os desabrigados e reconstruir suas casas até que se tornassem ‘mais bonitas do que eram’.”
Tratado como “mestre dos mártires pró-Resistência”, Soleimani foi o arquiteto do Eixo da Resistência, tendo colaborado ativamente com organizações que operam em Líbano, Iraque, Síria e Iêmen. Destes, o partido libanês é o modelo mais desenvolvido de organização, com uma milícia estimada em 30 mil combatentes, que, especula-se, supera as próprias forças armadas do Líbano. Nas duas guerras pela libertação do país árabe contra a ofensiva de “Israel”, foi o Hesbolá a grande força que empreendeu o enfrentamento militar contra as forças sionistas, e Soleimani, o homem chave para o sucesso do partido libanês.
Conhecida como “Guerra de Julho”, o conflito começou no dia 12, após um ataque do Hesbolá. Na entrevista, Haidar dá detalhes da operação:
“Exatamente às 8h45 do dia 12 de julho de 2006, uma equipe da Quinta Brigada Sionista saiu com seus veículos Hummer em uma patrulha regular, ao longo da cerca da fronteira com o Líbano, até chegar ao ponto em que a Resistência havia plantado um dispositivo explosivo. Um canhão sem recuo que havia sido posicionado em uma colina, fora da cidade de A’aita-el-Saha’b, disparou um projétil diretamente na parte traseira da patrulha. Ao mesmo tempo, munições médias foram disparadas contra os dois veículos do mesmo local. Dois sionistas foram mortos na retroescavadeira, enquanto o terceiro foi morto ao tentar fugir. Minutos depois, dois projéteis foram disparados contra o Hummer da frente a uma distância de 40 metros, de modo que ele mergulhou cerca de 20 metros e parou. Os sionistas admitem que dois membros da tripulação do segundo Hummer fugiram, enquanto o Hesbolá se retirou com seus soldados sionistas capturados, ou seja, o comandante da patrulha e o motorista. O grupo de assalto da Resistência, que estava entre as árvores da floresta, abriu rapidamente a porta do Hummer e puxou os dois soldados para um veículo com tração nas quatro rodas que estava esperando do outro lado da fronteira, enquanto outro grupo de apoio explodia a cerca com um dispositivo explosivo que permitia mover os soldados com facilidade. Em suas investigações militares publicadas posteriormente, a inteligência do inimigo reconhece suas falhas, pois não notou dezenas de combatentes de elite do Hesbolá que estavam esperando a patrulha israelense.”
Um dos primeiros confrontos significativos ocorreu na batalha de Maroun al-Ras, uma vila libanesa estratégica, próxima à fronteira com “Israel”. Nesta batalha, entre 12 a 20 de julho, os militantes revolucionários repeliram o avanço das forças sionistas com uso de táticas de guerrilha combinadas a fogo de artilharia. O Hesbolá mostrava uma capacidade de resistência que surpreendeu os sionistas pelo uso eficaz de mísseis antitanque e explosivos. A batalha destacou não apenas a moral elevada dos militantes do partido, mas também a eficácia de seu armamento, já sensivelmente superior ao visto em 2000.
Outro momento crucial foi a batalha de Bint Jbeil, ocorrida entre 20 de julho e 1 de agosto, considerada um dos principais redutos dos revolucionários no sul do Líbano. A cidade tornou-se um campo de batalha intenso, com forças israelenses tentando capturá-la em uma série de combates urbanos prolongados. Com conhecimento profundo do terreno, o Hesbolá conseguiu infligir pesadas baixas às tropas israelenses, elevando ainda mais o moral dos revolucionários, ao mesmo tempo em que minava o da invasão.
Finalmente, na cidade portuária de Tyre (também um centro estratégico para o Hesbolá), uma luta intensa se desenvolveu entre os dias 12 de julho e 14 de agosto, com a cidade castigada por severos bombardeios aéreos israelenses. Essa batalha foi significativa não apenas por sua localização, mas também porque tal como “Israel” faz hoje na Faixa de Gaza, um grande número de civis foi afetado.
Estima-se que cerca de 200 civis foram mortos, e milhares ficaram feridos em Tyre. Além disso, aproximadamente 25 mil pessoas foram deslocadas devido aos combates e bombardeios intensos na região. A cidade sofreu grandes danos à infraestrutura, afetando gravemente a população civil.
A participação do general iraniano Qassem Soleimani foi fundamental ao longo do conflito. Como comandante da Força Quds, unidade de elite do Corpo da Guarda Revolucionária Iraniana, Soleimani não apenas forneceu treinamento e equipamentos, mas também coordenou operações e estratégias durante a guerra.
A guerra culminou em um cessar-fogo assinado em 14 de agosto de 2006 e mediado pela ONU, mas não antes de causar um alto custo humano e material. O Líbano sofreu extensos danos em sua infraestrutura, com milhares de mortos, feridos e deslocados. Ainda assim, os libaneses e os demais povos árabes prestaram uma autoridade ao Hesbolá ainda maior, reafirmando a importância do partido no Oriente Médio. Assim como Soleimani, enaltecido como um verdadeiro herói pelos povos oprimidos da região.
A importância da vitória libanesa em 2006, como destacado por Haidar, é decisiva para a compreensão da atual luta contra a entidade sionista. O general libanês destaca, por exemplo, como as lições dessa vitória foram assimiladas pelo Hamas e demais partidos da Resistência Palestina, que vem empreendendo uma tenaz resistência ao genocídio do povo palestino, impondo derrotas militares a “Israel”:
“Inegavelmente, a Resistência Palestina aprendeu as maiores lições da guerra de 2006, pois aumentou rapidamente seu nível de combate em mais de um confronto, especialmente nas recentes batalhas de Jenin. Aqui, é necessário fazer referência às táticas de combate que foram desenvolvidas pelo Hesbolá durante a Guerra de Julho e depois assimiladas pela Resistência Palestina, principalmente: combate em túneis, manobras de lançamento de mísseis e técnicas de comunicação por fio que frustraram significativamente as capacidades cibernéticas do inimigo. No mínimo, a entidade temporária não está mais em uma posição de superioridade, ataque e iniciativa. Assim, ela passou de uma posição vulnerável para uma posição defensiva. A guerra de julho de 2006 derrubou os acordos escandalosos de Oslo, em 1993, Wadi Araba, em 1994, o Acordo do Século, seguido de sanções satânicas, cercos brutais e revoluções coloridas, às vezes por meio de ideologias takfiristas e, outras vezes, por meio de canais de TV antirresistência, com o objetivo de semear a discórdia entre sunitas e xiitas, entre árabes e persas e entre a Resistência e seu ambiente.”