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HISTÓRIA DA PALESTINA

Como o stalinismo defendeu ONU durante a catástrofe Palestina

A criação do Estado de “Israel” foi uma manobra muito arriscada, um dos fatores que a possibilitou foi o apoio total da União Soviética ao movimento sionista

Após o fim da Segunda Guerra Mundial, o imperialismo começou seu plano de partilha da Palestina. Era uma jogada arriscada que por pouco não funcionou. Um dos seus grandes trunfos era que a esquerda, dominada pelo stalinismo, não se colocou contra a divisão, mas pelo contrário: apoiou a criação do Estado de “Israel”. Isso se refletia tanto na posição da URSS, que enviou armas para os sionistas, quanto na ação dos partidos comunistas do mundo, inclusive de Palestina.

O jornal Workers International News, ligado ao movimento trotskista, publicou o artigo “Palestina – A Comissão Anglo-Americana de Inquérito” em 1946, dois anos antes da oficialização da partilha. Eles destacam o problema de classe no país: “do ponto de vista social, um grande abismo separa a liderança sionista dos líderes feudais árabes. Um grande abismo separa seus objetivos políticos respectivos, mas ao mesmo tempo há uma forte semelhança em sua abordagem política. Ambos têm uma abordagem nacionalista estreita. Ambos tentam ofuscar a luta de classes. Ambos oferecem seus serviços ao imperialismo sob a condição de serem escolhidos como seus principais agentes. Essas semelhanças não são de modo algum acidentais. Ambas as posições surgem de um terreno comum. Ambas as posições se reciprocamente fortalecem”.

Ou seja, o imperialismo cooptava as lideranças feudais árabes e o movimento sionista. Este era uma criação do própria imperialismo inglês e era controlado diretamente por ele. O movimento operário, portanto, deveria se colocar contra ambos, a não ser que alguma liderança árabe de fato enfrentasse o imperialismo, como aconteceu 10 anos antes na Revolução Palestina de 1936. Nesse caso o correto era lutar ao lado dos poucos líderes tradicionais árabes que estavam contra os britânicos e os sionistas.

O artigo destaca como o sionismo é um entrave ao movimento operário: “a política sionista de boicote baseada na discriminação racial impede a cristalização da consciência de classe entre os trabalhadores árabes e desvia todo o ódio acumulado contra o feudalismo árabe para um canal diferente. É assim que a classe feudal na Palestina conseguiu manter seu papel dominante e líder, enquanto na Síria, Líbano e Egito está em rápido declínio. Por outro lado, a posição dominante dos reacionários árabes ajudou os líderes sionistas a impedir que o trabalhador judeu se unisse com seu irmão de classe – o trabalhador árabe”. Ou seja, o sionismo sempre foi extremamente reacionário, fortalecendo a classe dominante pró-imperialista, algo que existe até hoje com países como Jordânia e Arabia Saudita.

O stalinismo, linha auxiliar do sionismo

O Partido Comunista, diante do maior ataque do imperialismo ao país, foi totalmente incapaz de atuar. O artigo destaca: “o PC que pretende ser o partido que representa os interesses das massas palestinas nem sequer levanta em suas evidências a necessidade de lutar contra o sionismo e o feudalismo, os bastiões da reação. Deve-se destacar que, entre todas as outras evidências, a do PC foi a menos nacionalista”. E segue: “segundo o PC, todo conflito judeu-árabe é nada mais do que o “fruto da incitação e intriga imperialista britânica.” Não há uma palavra em sua evidência sobre a contradição de classe sobre a qual essa incitação se baseia e sem a qual o imperialismo britânico nunca teria conseguido em seu trabalho vergonhoso. Não há sinal do termo ‘classe’. A palavra ‘sionismo’ nem sequer foi mencionada!

O encobrimento do sionismo já revela que a política de Stalin seria de uma aliança com os sionistas. É possível que ele acreditasse que “Israel” poderia ser uma aliança importante da URSS no Oriente Médio, uma tese totalmente absurda. Poucos anos após a criação de “Israel” ele se tornaria o maior inimigo dos aliados da União Soviética na região, afinal era um entreposto do imperialismo.

O texto coninua: “a divisão entre os stalinistas árabes e judeus era apenas uma questão interna? A atitude em relação à imigração e a um lar nacional judeu, que é o ponto de discórdia, é uma mera questão organizacional interna? Isso é uma mentira e uma evasão miserável que os stalinistas oferecem como uma ‘solução comunista’ para o problema. E de que maneira o PC pensa em alcançar uma solução? Será através de uma guerra de classes das massas contra o imperialismo? Deus me livre! ‘A abolição do mandato britânico e a transferência imediata do problema palestino para o conselho de segurança da ONU – este é o único caminho nas condições atuais para garantir a independência do nosso país e prevenir a perturbação da paz nele”.

Ou seja, a tese do stalinismo para resolver a questão nacional Palestina é entregar nas mãos da ONU. Isso em 1946, dois anos depois a ONU implementaria o plano de partilha da Palestina e da criação do Estado de “Israel”. A tese stalinista aconteceu na prática e foi o maior desastre do povo da Palestina e do Oriente Médio em geral de todo o século. E durante a implementação do plano da ONU, o governo de Stalin mandou armas para os sionistas contra os árabes que lutavam. Isso foi crucial para o estabelecimento de “Israel”, que por pouco não perdeu a guerra.

O texto termina com o caminho da luta dos palestinos: “as massas da Palestina devem tomar seu destino em suas próprias mãos. Através da luta de classes, a solidariedade internacional será alcançada”.

E conclui: “a solução para a Palestina, assim como a solução do problema judaico, não virá ‘de cima’. Virá apenas com a ascensão da onda revolucionária na Europa e no Oriente Árabe. Mas mesmo então, apenas um Partido Comunista Revolucionário saberá como enfrentar as provocações imperialistas que visam minar a ascensão das massas através de um conflito judeu-árabe e transformar a Palestina em um segundo Maidenak (um dos campos de extermínio). Apenas um partido internacionalista que se baseia nos interesses de classe das massas, na necessidade de uma guerra de libertação nacional e social salvará a Palestina de um beco sem saída de ódio nacional”.

A posição do grupo é a posição tradicional da esquerda, o sionismo não é e nunca foi a solução para a perseguição dos judeus. Ao mesmo tempo, a libertação da palestina se dá por meio da luta contra o imperialismo e contra o sionismo. Naquele momento, quanto ainda havia uma colônia inglesa e não o Estado de “Israel” ainda era muito concreta a possibilidade de união entre palestinos e trabalhadores europeus judeus contra os britânicos. Ou seja, uma organização que defendia a partilha deveria ser muito reacionária.

O stalinismo ocupou esse papel, foi mais uma vez a ferramenta da contra revolução. Para os palestinos foi a catástrofe a Naqba. Os trotskistas, por sua vez, sempre se posicionaram contra o sionismo. Os bolcheviques inclusive têm uma longa trajetória de embate com o sionismo na própria Europa, mas isso é assunto para outro artigo.

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