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Estados Unidos

Como o Judiciário interfere nas eleições norte-americanas

Ex-democrata Robert F. Kennedy Jr. vive situação surreal, de pedir a apoiadores para não votarem nele

O sistema judiciário norte-americano protagonizou uma situação extremamente insólita, mesmo para quem está acostumado com o baixíssimo padrão da justiça brasileira. Em decisão tomada no último dia 29, a Suprema Corte dos Estados Unidos negou o pedido feito pelo ex-candidato presidencial independente Robert F. Kennedy Jr. para que seu nome fosse retirado das cédulas de votação dos estados norte-americanos de Wisconsin e Michigan. Cômico à primeira vista, a decisão da justiça norte-americana, no entanto, atende aos interesses eleitorais do Partido Democrata, conforme denunciado pelo ex-candidato e ex-democrata Kennedy Jr., que, em seu perfil no X (antigo Twitter), pediu aos apoiadores para que não votassem nele, mas no republicano Donald Trump, a quem apoia:

“Infelizmente, hoje a Suprema Corte se uniu aos Secretários de Estado de Michigan e Wisconsin, ambos democratas, para minar a integridade das eleições e deixar meu nome na cédula de votação em ambos os estados. É um movimento puramente político na esperança de que as pessoas que, de outra forma, teriam votado em Trump, desperdicem seu voto votando em mim. Não deixe que eles prejudiquem esta eleição. Não se deixem enganar. Estou fora da cédula de votação em todos os outros estados dos quais tentei sair, com exceção de Michigan e Wisconsin. Portanto, se você estiver em Michigan ou Wisconsin, certifique-se de votar em Donald Trump – NÃO VOTE EM MIM. Juntos, faremos com que os Estados Unidos sejam saudáveis novamente!”

Tanto Wisconsin quanto Michigan são considerados estados-chave (os chamados swing states) para as eleições marcadas para 5 de novembro, o que torna a decisão menos misteriosa e mais clara no sentido da manipulação da justiça. Conhecidos como “muros azuis” pela força que os democratas têm nos respectivos estados nortistas, em ambos, Donald Trump venceu Hillary Clinton nas eleições presidenciais de 2016, consagrando-se presidente do país. No pleito deste ano, pesquisas de opinião apontam Kamala com uma ligeira liderança sobre seu concorrente nos dois estados, por 48% a 43% em Michigan e, no Wisconsin, 51% a 45%.

Tomando-se como verdadeiros os números das pesquisas e considerando-se a margem de erro padrão de dois pontos percentuais, tem-se um resultado bastante apertado. A importância do golpe organizado pelo judiciário reside na seguinte notícia: a rede norte-americana CNN publicou um artigo em seu sítio intitulado Pesquisa CNN: Kamala toma frente em Michigan e Wisconsin e empata na Pensilvânia, destacando que, “em Michigan, Kennedy tem 3% de apoio e em Wisconsin tem 1%”. A votação que Kennedy “roubaria” de Trump, portanto, pode ser decisiva para a vitória do Republicano.

Trump, no entanto, não é a única vítima dos golpes do Partido Democrata.

O Partido Verde precisou travar uma batalha judicial para garantir que a agremiação aparecesse nas cédulas do Wisconsin. Após a sentença, a porta-voz do Comitê Nacional Democrata, Adrienne Watson, expressou à agência de notícias Associated Press a visão dos democratas, de que o Partido Verde não deveria estar na cédula de votação.

Para o copresidente do Partido Verde de Wisconsin, Michael White, tal queixa é uma “marca do medo do Partido Democrata”. No X, a candidata do partido à presidência, Jill Stein, escreveu: “grande vitória contra a guerra do Partido ‘anti-Democrático’ contra a democracia e a escolha do eleitor! Os eleitores de Wisconsin ainda têm uma opção anti-genocídio, pró-trabalhador e de ação climática este ano!”.

Nos EUA, o sistema de votação varia amplamente de estado para estado, o que resulta em uma série de diferenças no funcionamento das cabines de votação. Cada estado tem autonomia para estabelecer regras e adotar tecnologias próprias, criando várias abordagens e sistemas, desde a forma como o eleitor visualiza o candidato até a tecnologia empregada para registrar o voto.

Essas diferenças, que incluem desde sistemas eletrônicos até cédulas em papel, ajudam a explicar por que alguns eleitores veem os nomes dos candidatos e outros não. Em estados onde o voto eletrônico é predominante, os eleitores usam máquinas que geralmente exibem o nome dos candidatos e até fornecem uma interface interativa.

No entanto, em algumas localidades, existe a possibilidade de votar sem precisar visualizar o nome do candidato individual. Isso acontece em lugares onde o voto por partido ou linha partidária é permitido, o que permite ao eleitor optar por todos os candidatos de um único partido com um único toque ou marcação. Nesses casos, o eleitor pode apenas escolher entre os partidos, sem ver o nome de cada candidato.

Essa prática é comum em estados onde a dominância de um partido é significativa, e a escolha pelo conjunto do partido pode ser mais atraente para os eleitores. Por outro lado, em sistemas que empregam cédulas de papel, o formato pode variar: em alguns, os candidatos estão listados diretamente sob os cargos que disputam; em outros, o eleitor pode precisar selecionar um número ou até mesmo uma alavanca associada ao partido de sua preferência, sem que o nome do candidato apareça explicitamente.

Essas diferenças não se limitam à aparência das cédulas ou ao tipo de cabine de votação. A legislação estadual permite que cada região adapte seu processo de votação às especificidades locais, o que impacta diretamente na forma como o eleitor se relaciona com o sistema e em como visualiza as opções.

A cada novo ciclo eleitoral, surgem discussões sobre a necessidade de padronizar ou modernizar o sistema, buscando diminuir as dúvidas e inconsistências no processo. Embora a descentralização seja uma característica do sistema eleitoral norte-americano, as diferenças entre as cabines de votação continuam a ser um ponto de divergência no debate sobre a transparência e a clareza do processo eleitoral nos EUA.

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