HISTÓRIA DA PALESTINA

Como o Hesbolá contribuiu para a vitória da Segunda Intifada

No ano 2000, pela primeira vez desde 1948, “Israel” era derrotada militarmente. Libaneses mostravam que é possível libertar a Faixa de Gaza e a Palestina

Em 24 de maio no ano 2000, o Estado de “Israel” sofreu a sua derrota mais humilhante até então. Um grupo de guerrilheiros xiitas do Líbano, organizados pelo Partido de Alá (Hesbolá) forçou o exército sionista a se retirar totalmente no sul do país. Acabava assim, pela força das armas, uma ocupação militar de 22 anos, que havia sido base de uma das guerras mais violentas da história do Oriente Médio. Quatro meses depois, no dia 28 de setembro, na cidade palestina de Jerusalém, começa um enorme levante de massas que levaria a outra derrota dos israelense, dessa vez na Faixa de Gaza, episódio que ficou conhecido como a Segunda Intifada (palavra árabe que significa “Insurreição”).

A luta no Líbano e na Palestina contra o sionismo caminha conjuntamente, pelo menos desde a década de 1970. A chamada guerra civil do Líbano foi, na verdade, uma guerra do imperialismo contra a luta armada da Organização Popular da Palestina (OLP) que tinha sua principal base nos campos de refugiados palestinos do Líbano. Em 1978, o Estado de “Israel”, agora com a extrema-direita no governo pela primeira vez, liderada por Menachem Begin, invadiu o sul do Líbano para atacar a OLP. A operação foi chamada pelos israelenses de Litani, pois tinha como objetivo tomar todo o território até o rio homônimo.

Mas isso seria apenas o início das operações, em 1982 uma invasão muito maior e mais lembrada aconteceu. Os israelenses em determinado momento chegaram a invadir a capital libanesa, Beirute. Além disso, o imperialismo dos EUA participou também dos ataques em menor escala. Além disso, o sionismo organizou e armou um partido fascista libanês, a Falange, fundada por um admirador de Hitler e de Franco ainda em 1936. Foi esse partido que realizou, como apoio de “Israel”, um dos massacres mais violentos da história: o de Sabra e Chatila, em 1982. Nesse mesmo ano foi fundado o Hesbolá.

A invasão em última instância atingiu seu objetivo com a destruição da OLP. Ela foi expulsa do Líbano para a Tunísia, ou seja, a direção da luta dos palestinos agora estava a 3 mil km de distância da Palestina. Isso levou também a capitulação política da OLP, em 1988 o principal líder da luta palestina Yasser Arafat em um discurso na ONU abdicou na luta armada. Pouco depois começaram a se discutir os acordos de Oslo, em 1993 a capitulação da OLP se cristalizou quando os acordos foram assinados. A direção da luta dos palestinos então passaria para o Movimento de Resistência Islâmica (Hamas).

O que “Israel” não sabia é que quando invadiu o Líbano para destruir a OLP criou um inimigo muito mais perigoso, o Hesbolá. Até o ano 2000, os sionistas nunca de fato haviam sido derrotados em uma guerra. As primeiras guerras em 1948, 1956 e 1967 eles haviam na prática vencido, apesar de que do lado dos árabes a luta não foi muito grande. Já em 1973 eles na prática perderam, mas dada a intervenção do imperialismo em apoio à “Israel” não houve derrota militar, a derrota se deu no âmbito político. No entanto, no ano 2000 os sionistas foram derrotados militarmente pela primeira vez, e ainda por um grupo guerrilheiro. Foi um ponto de virada para a luta dos palestinos. Ficou demonstrado que era possível a vitória.

O jornal imperialista The Guardian publicou ainda no dia 23 de maio, enquanto as tropas sionistas fugiam, o artigo “caos e humilhação enquanto Israel recua no Líbano”. O texto começa demonstrando a realidade, semelhante aos artigos sobre a retirada de tropas dos EUA do Afeganistão: “atiradores libaneses infligiram ontem uma humilhação final à ocupação de 22 anos de Israel no sul do Líbano, desencadeando um tiroteio acima de colunas de refugiados na fronteira e anunciando a chegada do inimigo à sua porta.” E eles continuam “ontem, começava a se desdobrar a magnitude do fiasco israelense”.

O artigo continua: “O Sr. Barak [primeiro-ministro] desejava ardentemente uma retirada ordenada, com uma força de paz ampliada das Nações Unidas assumindo o controle das áreas de fronteira. No entanto, com a ESL [tropas libaneses apoiadas por “Israel”] em desordem, um influxo de refugiados que pegou o governo de surpresa e a rápida chegada do Hesbolá muito antes de Israel ter tempo para concluir sua cerca eletrificada e outras defesas, essa perspectiva se dissipou”. Foi uma humilhação gigantesca, uma humilhação vista por toda a população de palestinos da Cisjordânia e na Faixa de Gaza, ambas ocupadas por “Israel” desde 1967.

Em julho, esse mesmo Barak falhou em costurar um acordo com Yasser Arafat em Camp David em relação aos territórios ocupados palestinos, seu governo estava completamente derrotado. Em 28 de setembro, Ariel Sharom, o líder da oposição membro do partido de extrema-direta Likud, invadiu a mesquita de al-Aqsa em Jerusalém ocupada. Era a gota d’água para o povo palestino, um enorme levante popular se iniciou, a Segunda Intifada só acabaria no ano de 2005. Uma organização palestina, inspirada na conquista do Hesbolá, teria o maior destaque nesse levante, o Hamas.

Muito menor e menos organizado que atualmente, o Hamas ainda se desenvolvia de forma semelhante ao Hesbolá na década de 1980. No entanto, levaria os palestinos a obter a sua maior conquista desde a fundação do Estado de “Israel”. No ano de 2005, pela primeira vez desde 1948, o exército sionista se retirou de uma parte do território palestino. O Hamas conquistou uma pequena liberdade que nunca havia sido alcançada. A Faixa de Gaza estava ocupada desde 1967, após 38 anos o Hamas a libertou. O Estado de “Israel” não permitiu uma liberdade completa, impôs um cerco genocida, destruiu os portos e aeroportos, mas foi o primeiro passo, o que permitiu que a luta se desenvolvesse até o estágio atual.

Quando o Hamas tomou o controle da Faixa de Gaza, iniciou a fundação real do que seria o primeiro Estado palestino. O próprio governo de “Israel” admite isso. Na crise atual, o governo Netanyahu já se pronunciou diversas vezes que não aceitaria a criação de um Estado Palestino, a justificativa? A Faixa de Gaza demonstra o que é o Estado Palestina e “Israel” não aguentaria a existência de um Cisjordânia governada pelos próprios palestinos. Após expulsar os sionistas em 2005, o Hamas impôs a primeira derrota propriamente militar ao exército de “Israel” na invasão de 2014, já em 2023 invadiu “Israel” pela primeira vez. É um desenvolvimento gigantesco da luta dos palestinos, nunca alcançado anteriormente.

O Hesbolá, portanto, mostrou aos palestinos que é possível derrotar os sionistas, que é possível tomar de volta o seu território. Quem primeiro conseguiu essa conquista foi o povo de Gaza. E agora o povo de Gaza, liderado pelo Hamas, mostra para o povo da Cisjordânia que é possível derrotar “Israel”. Uma Terceira Intifada se aproxima e ao que tudo indica ela será mortal para o sionismo. O Hesbolá foi, e será, peça essencial na destruição da aberração que é o Estado de “Israel”.

Gostou do artigo? Faça uma doação!

Rolar para cima

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Diferentemente de outros portais , mesmo os progressistas, você não verá anúncios de empresas aqui. Não temos financiamento ou qualquer patrocínio dos grandes capitalistas. Isso porque entre nós e eles existe uma incompatibilidade absoluta — são os nossos inimigos. 

Estamos comprometidos incondicionalmente com a defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo pobre e oprimido. Somos um jornal classista, aberto e gratuito, e queremos continuar assim. Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Diferentemente de outros portais , mesmo os progressistas, você não verá anúncios de empresas aqui. Não temos financiamento ou qualquer patrocínio dos grandes capitalistas. Isso porque entre nós e eles existe uma incompatibilidade absoluta — são os nossos inimigos. 

Estamos comprometidos incondicionalmente com a defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo pobre e oprimido. Somos um jornal classista, aberto e gratuito, e queremos continuar assim. Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.

Quero saber mais antes de contribuir

 

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.