– Por Everton Barboza, militante do PCO na cidade de Pelotas-RS
O acirramento da luta de classes em todos os continentes mostra que vivemos um momento diferenciado na história da humanidade. A ofensiva raivosa das forças imperialistas contra todo foco de resistência no planeta, demonstra uma desenvoltura cada vez maior dos opressores no cometimento de crimes gravíssimos contra a vida e a dignidade humana.
O genocídio do povo palestino, executado diante dos olhos de todos, com assassinatos e torturas de mulheres e crianças na Faixa de Gaza de maneira cruel e covarde, é um exemplo disso. “Israel” e o seu governo nazista, tendo à frente o genocida primeiro-ministro Benjamin Netaniahu, desrespeita, sem pudores, a soberania de diversos países, realizando todo tipo de provocação e ataque no território de nações como Irã e Líbano. A retórica vendida pela imprensa burguesa de que a irresponsabilidade que consolida um perigo latente de assassinatos em massa estaria nas mãos dos “loucos” islâmicos só pode ser referendada pela boca dos oportunistas que estão diretamente a serviço do imperialismo. Diante dos atos mais bárbaros de “Israel”, aqueles que observam os fatos com um pouco de atenção percebem com facilidade que, se há irresponsabilidade no Oriente Médio, essa é exclusividade do Estado sionista.
O governo de “Israel” demonstra não se preocupar em carregar em suas costas o número crescente de assassinatos, inclusive de milhares de mulheres e crianças. Ao mesmo tempo, esse governo ignora por completo a falsa narrativa do imperialismo que “prega” cautela, para que não ocorra uma escalada de conflitos no Oriente Médio. Ao contrário, provoca e agride tudo e todos que se colocam em uma posição de denúncia e de resistência contra os seus covardes crimes. O recente martírio do líder do Hamas, Ismail Hanié, em território iraniano, horas depois de executar um bombardeio na capital do Líbano, demonstra isso, assim como comprova todo tipo de descaso e desrespeito por parte de “Israel” aos acordos internacionais, à obrigação de respeitar a soberania e o território de outros países, entre muitas outras coisas.
Já na América Latina, a vitória de Nicolás Maduro nas eleições presidenciais da Venezuela colocou em marcha uma já planejada tentativa de golpe. Alegando fraude nas eleições, com suporte e financiamento do imperialismo, a direita e a extrema direita venezuelana mobilizam manifestações, ataques midiáticos e atos de sabotagem, buscando criar as condições de instabilidades necessárias para fragilizar Maduro e perpetrar um golpe de Estado pró-imperialista. Até o momento em que este texto foi escrito já se contava o número de 11 mortos em consequência desse movimento golpista.
Não há a menor sombra de dúvida de que esta ofensiva contra a Venezuela busca, além de levar ao poder um governo títere do imperialismo, que entregue o petróleo e toda riqueza que a Venezuela possa oferecer ao império norte-americano, busca também executar um duro golpe na luta anti-imperialista da América Latina. Luta esta que há décadas resiste e se espraia pelo continente, tendo à frente a importante liderança da Venezuela e do chavismo.
Há em comum entre o genocídio do Estado terrorista de “Israel” e o duro movimento golpista contra Maduro e o povo venezuelano o fato de tanto um, quanto o outro, serem fruto do desespero do imperialismo, duramente afetado pela crise do capitalismo. É nesse momento de desespero em que o imperialismo vê sua hegemonia ameaçada, talvez como nunca, desde que os EUA assumiram o posto de potência imperialista hegemônica, que, tanto na luta de resistência do povo palestino quanto na luta de resistência do povo venezuelano e latino-americano, observamos notadamente a covardia da esquerda pequeno-burguesa.
Com relação ao Oriente Médio, a esquerda pequeno-burguesa se deixa pressionar pela narrativa sionista e, temendo as perseguições dos cúmplices de “Israel” (mídia, empresas, organizações, lideranças, etc.), evita denunciar o genocídio que está sendo imposto ao povo palestino, assim como demonstra uma falta de coragem para dizer a verdade. Os representantes da pequena burguesia fazem força para que não se diga que governo sionista é, sim, nazista, genocida e que está cometendo crimes contra um povo que nem direito a reconhecimento internacional de um Estado tem, ou seja, um povo que não tem exército regular reconhecido. É um genocídio cometido por um Estado bem equipado, financiado pelo imperialismo, contra um povo no geral pobre e mal equipado, e que está munido apenas de coragem e combatividade. Como é possível que aqueles que se dizem de esquerda deixem de falar, de denunciar o que está ocorrendo? Simples! Nos ensina o marxismo que a pequena burguesia não é revolucionária, é sim individualista e conservadora. Para ela, o que importa é que o genocídio seja contra os palestinos, lá no Oriente Médio, sendo isso um problema deles. Como um câncer que, em essência, é, ela acredita que se não se meter, será poupada. Ingenuidade, oportunismo, conivência, cumplicidade… A história cobrará de todos aqueles que se calam diante desta e de todas as barbáries que estão ocorrendo!
Da mesma forma, na Venezuela, a esquerda pequeno-burguesa cobra de Maduro a divulgação das atas do processo eleitoral, fortalecendo a narrativa de dúvidas sobre a legitimidade do processo. Calam-se diante das mentiras da mídia golpista. Mesmo cientes, deixam de informar o povo que o atraso nas atas se dá por uma tentativa de ataque hacker contra as urnas venezuelana durante o processo eleitoral, perpetrado pelo imperialismo em conluio com a direita e extrema direita do país (tentativa essa que já se sabe ter partido do território da Macedônia do Norte).
A esquerda pequeno-burguesa acusa Maduro de ser um ditador, comprando como de costume a ideia da democracia como um valor universal, como se, nos EUA, por exemplo, em que um candidato pode ser eleito com menos votos que o “derrotado” (como muitas vezes já ocorreu) fosse um exemplo de democracia. Sem falar que o marxismo nos prova que todo Estado é uma ditadura. No sistema capitalista, sempre teremos uma ditadura da burguesia. Mas, os representantes da ideologia pequeno-burguesa não questionam a democracia burguesa (que, como já dito, nada mais é do que a ditadura da burguesia), porém, voltam com afinco as suas baterias contra a democracia venezuelana, acusando Maduro de ser um ditador sem igual.
Seguindo a mesma lógica subserviente ao imperialismo, acusam Maduro de propagar a fome e o caos para o povo venezuelano, mas não levantam nem minimamente a voz para exigir os fins das sanções impostas à Venezuela pelos EUA e seus aliados, para denunciar os atos de sabotagem orquestrados pela burguesia interna e externa ao país latino-americano, impondo uma situação de crises e dificuldades a serem superadas pelo país caribenho. Todo caos e dificuldade enfrentados pelo povo venezuelano se deve à atuação imperialista e de seus capachos para desestabilizar de todas as formas possíveis, no campo militar, político e econômico, a resistência anti-imperialista venezuelana e latino-americana.
O que um quadro como este nos ensina é que, se quisermos verdadeiramente garantir que a crise imperialista traga avanços, ou seja, que ele tenha como consequência o fortalecimento da luta proletária pelo socialismo no mundo todo e, assim, pelo fim do imperialismo, precisaremos romper urgentemente com a concepção reacionária da pequena burguesia. Este esforço deve ter o intuito de nos aglutinar em uma organização revolucionária, combativa e forte, a qual se tornará a ser indiscutivelmente uma ferramenta real na luta anti-imperialista. Só assim, teremos o impulso necessário e a força suficiente para interferir na luta de classes, contribuir significativamente na luta anti-imperialista e atuar na luta pela emancipação do proletariado.
Ismail Hanié, Presente!
“Aos nossos mortos nenhum minuto de silêncio, mas uma vida inteira de combate!”
“Os poderosos podem matar uma, duas ou três rosas, mas jamais conseguirão deter a primavera inteira!”