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PL do Aborto

Combater os evangélicos ou combater a direita?

Setores da esquerda se alinham à Rede Globo ao invés de defender uma luta independente dos trabalhadores

O PL 1904, apresentada pela extrema direita no Congresso Nacional, propõe o aumento da pena para mulheres que realizem abortos com mais de 22 semanas de gestação. É um claro ataque aos direito das mulheres que serão ainda mais reprimidas pelo Estado por uma questão que é, na realidade, de saúde pública. No entanto, esse PL se tornou uma disputa política não entre as trabalhadoras e a direita, mas sim entre dois setores da direita, o bolsonarismo e a chamada direita tradicional, os “democráticos”. A esquerda pequeno-burguesa, como de costume, se tornou um apêndice desse último setor. Um dos expoentes dessa política foi Ricardo Nêggo Tom em sua coluna no Brasil 247: O evangelho dos estupradores, segundo a bíblia bolsonarista.

Ele começa: “há muito tempo venho escrevendo nesta coluna que o fundamentalismo religioso precisa ser abortado da sociedade brasileira. Sobretudo, o neopentecostalismo evangélico, um partido político travestido de religião, que defende interesses neoliberais e imperialistas dentro da nossa sociedade”.

O texto, portanto, é um ataque ao movimento neopentecostal no Brasil, e não propriamente uma defesa dos direitos das mulheres, algo defendido, mas secundário. Ele alega que os neopentecostais têm relações diretas com o imperialismo, o que é verdade, mas na direita tradicional, essa relação é muito maior e mais destrutiva para a vida das mulheres e de todos os brasileiros.

Em outras palavras, a Rede Globo, muito pior que as igrejas evangélicas brasileiras, está em confronto com esse setor usando demagogicamente a defesa das mulheres. Mas quem realmente acredita que a Rede Globo é defensora das trabalhadoras? Quem não lembra o que fizeram com a única presidenta da história do Brasil? E o que aconteceu com todos os trabalhadores do país após o golpe de Estado de 2016? Manter o ataque ao bolsonarismo sem ter uma posição de esquerda, ou seja, um ataque também a essa direita tradicional, não é uma defesa real das mulheres.

Ele continua afirmando que a política do bolsonarismo “é ratificada no posicionamento oficial da CNBB, ao emitir uma nota em apoio ao PL 1904, aliando-se ao neopentecostalismo no processo de encarceramento das liberdades individuais no país”.

Ou seja, o ataque à Igreja Católica deveria ser tão forte quanto aos evangélicos, elas são aliadas nesse sentido e tem um efeito de certa forma ainda mais danoso. Dois casos demonstram isso. Em 2018, a CNBB exigiu que Haddad não defendesse o aborto em sua campanha. Outro caso é a Nicarágua, um país com uma esquerda muito forte que mesmo assim não legalizou o aborto devido à pressão da Igreja Católica.

E como a Igreja Católica, o resto da direita também não é grande defensor dos direitos das mulheres. Basta ver que na campanha atual, em nenhum momento se levanta a reivindicação da legalização do aborto em qualquer circunstância, com única exigência sendo a vontade da mulher. O aborto deveria ser fornecido gratuitamente no SUS em todo o território nacional. A direita tradicional apenas ataca o bolsonarismo de forma demagógica, sem defender as mulheres.

O colunista segue: “sim, estou propondo uma revolta popular contra a bancada evangélica e contra a ordem teocrática que pretende se estabelecer. Se o governo não pode comprar essa briga por questões políticas, nós, o povo que o elegeu, podemos. Afinal, até o poder dessas igrejas emana do povo que garante o seu sustento e a vida luxuosa de seus proprietários. E muitos evangélicos não concordam com a marmotagem ungida praticada pelos lobos vorazes que representam o segmento”.

Um levante contra as igrejas, especificamente, é uma tática absurda. É preciso lutar pelas reivindicações dos trabalhadores, um movimento vitorioso desse tipo faria os evangélicos apoiarem representantes dos trabalhadores no governo, e não líderes religiosos que representam a direita. A revolta, portanto, deve ser contra toda a política da direita, e não apenas contra a bancada evangélica.

O autor então comenta: “o que não se explica é ainda termos boa parte da sociedade se permitindo guiar moralmente pela desonestidade política, intelectual e religiosa da extrema-direita brasileira, disfarçada de igreja evangélica no parlamento. Ou seria da desonestidade religiosa da igreja evangélica neopentecostal disfarçada de extrema-direita política?”.

Isso é simples. As organizações operárias se desmobilizaram completamente após o governo FHC. As Igrejas Evangélicas ocuparam esse espaço, obviamente com um financiamento da direita. Com essa prevalência social entre os trabalhadores, eles ganham um poder político. As organizações religiosas reacionárias sempre trabalharam dessa forma. E os trabalhadores várias vezes se desprenderam delas para lutar por seus direitos. Na Revolução Russa, a esmagadora maioria da população era cristã ortodoxa. E o que fez a revolução? Legalizou o aborto.

Ele conclui com as propostas: “CPI das igrejas evangélicas, fim da imunidade tributária para elas e proibição de candidaturas de líderes religiosos aos parlamentos, já seria um bom começo. Aliás, seria o fim do ‘poder de Deus’ sobre a política brasileira”.

Aqui, aparece o grande problema. Ao invés de defender uma luta nas bases do movimento neopentecostal, conquistando os trabalhadores para a esquerda, Neggo Tom defende uma atuação parlamentar. Ele acredita que vai combater esse enorme poder econômico com uma CPI.

Isso mostra que o combate ao “poder de Deus” não deve ser uma linha principal da luta política. A esquerda deve lutar por salário, trabalho, terra, revogação das reformas trabalhista e da previdência, estatização da Petrobrás e da Eletrobrás, e reindustrialização. Essas reivindicações podem conquistar os trabalhadores e afastá-los da influência direitista da religião. Combater a religião, em si, nunca foi um método de luta da classe operária.

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