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América do Sul

Com 3% de ‘aprovação’, Boluarte endurece ditadura no Peru

Reprovada por mais de 95% do povo peruano, Dina Boluarte aposta no endurecimento da ditadura que comanda, ameaçando até mesmo reintroduzir a pena de morte no país

A presidente golpista do Peru, Dina Boluarte, encerrará 2024 com a mais baixa aprovação de seu governo, atingindo apenas 3%, de acordo com uma pesquisa recente realizada pela empresa Datum a pedido do jornal peruano El Comercio. O levantamento, feito entre os dias 6 e 10 de dezembro com 1.222 entrevistados, aponta que inacreditáveis 95% dos peruanos desaprovam o governo de Boluarte, representando um crescimento de dez pontos percentuais no descontentamento popular em comparação com os primeiros meses do ano, quando a rejeição era de 85%.

Os dados revelam que o maior índice de desaprovação se concentra entre os peruanos de 35 a 54 anos, que registram apenas 1% de aprovação. Geograficamente, a situação é ainda mais crítica nas regiões centrais e sul do país, onde o apoio ao governo golpista atinge apenas 1% e 2%, respectivamente. Entre as principais razões para a baixíssima popularidade estão a frustração da população com a gestão da mandatária e a percepção de indiferença em relação aos problemas fundamentais do Peru. Um terço dos entrevistados, ou seja, 33%, afirmaram sentir-se decepcionados com o governo de Boluarte, enquanto 20% manifestaram indignar-se com a postura da presidenta frente às demandas reais da população.

Boluarte chegou ao poder em dezembro de 2022 após um golpe de Estado realizado pelo Congresso peruano e responsável por encerrar o mandato do então presidente Pedro Castillo, que diante de um parlamento hostil, tentou dissolver o legislativo e convocar uma Assembleia Constituinte. Desde que assumiu a chefia da Casa de Pizarro (sede do governo peruano), Boluarte mostrou-se incapaz de dar uma solução à crise iniciada no final da década passada e retomada após a queda de Castillo, protagonizando escândalos como o chamado “Rolexgate”, envolvendo presentes recebidos, além de sofrer investigações sobre a participação de seu irmão em atividades criminosas.

Ainda, a truculência diante de manifestações populares, que resultaram em dezenas de assassinatos, somado às polêmicas envolvendo suas cirurgias estéticas, aprofundaram a percepção de um governo distante da população e alheio às reais necessidades do país. O último escândalo deve-se a uma cirurgia feita no nariz, o que levou a acusações de que a mandatária cometera “crime de abandono de cargo” por não informar a realização do procedimento. Reforçando o faroeste que vive o país andino, o Ministério Público peruano não abrirá investigações contra a presidente devido ao caso.

A crise política e o colapso da aprovação de Boluarte coincidem com uma verdadeira convulsão social no Peru. O descontentamento popular é respondido com medidas de exceção, como o Estado de Sítio em 14 distritos de Lima e Callao. A medida, decretada inicialmente em 27 de setembro e prorrogada para mais 45 dias em 27 de novembro, envolve a participação das Forças Armadas no patrulhamento das ruas, sob o pretexto de combater a criminalidade. Os distritos atingidos incluem regiões populosas como San Juan de Lurigancho, Los Olivos, Puente Piedra, Comas, San Martín de Porres e Villa El Salvador.

Assinado por Boluarte, o presidente do Conselho de Ministros, Gustavo Adrianzén, e os ministros do Interior e da Defesa, o decreto impõe restrições a direitos constitucionais como a liberdade de reunião, o trânsito e a inviolabilidade do domicílio. A ditadura de Boluarte, que se apresenta como defensora da ordem, aplica a fórmula clássica de regimes autoritários: sob o disfarce de “combate ao crime”, o governo restringe as liberdades civis e reprime violentamente as manifestações da própria população.

Enquanto a presença militar nas ruas se amplia, a ditadora anuncia leis ainda mais bárbaras contra a população. Em 10 de dezembro, Boluarte propôs a reintrodução da pena de morte no país, abolida em 1979 como resposta ao caso do assassinato de uma menina de 12 anos, que teria sido violentada em um bairro pobre de Lima. Em um ato oficial perante a Força Aérea do Peru, Boluarte defendeu que “chegou a hora” de debater a pena capital para estupradores de menores, afirmando que “não devemos ter nenhum tipo de contemplação com quem se atreve a tocar em nossos meninos e meninas”, o que, naturalmente, não se trata de outra coisa além de um pretexto para fechar o regime

A proposta depende de uma reforma constitucional a ser aprovada pelo Congresso, mas encontra resistência por entrar em conflito com acordos internacionais assumidos pelo Peru contra esse tipo de punição. Apesar da legislação atual prever prisão perpétua para crimes de estupro contra menores de 14 anos, Boluarte aposta em medidas ainda mais repressivas para endurecer o regime peruano. Nos últimos 30 anos, pelo menos oito propostas similares foram engavetadas pelo Poder Legislativo peruano.

Desde o golpe contra Castillo, o Peru tem vivido sob um regime de terror que reprime violentamente a população. Até fevereiro de 2023, os dados oficiais registravam 69 civis assassinados, um policial e seis soldados.

Além das mortes, 1.881 pessoas ficaram feridas e 608 foram presas em protestos contra a ditadura. Esses números são apenas os oficiais e indicam a brutalidade do aparato repressivo instalado no país desde a ascensão de Boluarte ao poder.

Sob a justificativa de “combater o crime”, Dina Boluarte governa o Peru como uma ditadura escancarada, sem qualquer preocupação em esconder sua verdadeira natureza. Enquanto sua popularidade se aproxima do núcleo duro da rejeição, o governo intensifica a violência contra a população e aposta em medidas autoritárias, aprofundando ainda mais a crise política e social no país.

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