A guerra na Palestina está prestes a completar um ano. O Estado de “Israel” em desespero absoluto começa a realizar ataques cada vez mais violentos no Líbano, tentando criar uma nova conjuntura de guerra e atrair os EUA para atacar o país. Mas será que é o Líbano o próximo palco da guerra no Oriente Médio? A Síria, vizinha dos libaneses, que pouco aparece na imprensa burguesa, é onde todas as peças se armam para a guerra. Mas por que a Síria?
Em primeiro lugar, pois na Síria as forças do imperialismo atuam indiretamente e isso permite a maior escalada imperialista possível. Há o Estado Islâmico e a Hayat Tahrir al-Sham, organizações muçulmanas ligadas aos EUA. Há também as Forças Democráticas da Síria (FDS), uma milícia liderada pelos curdos também controlada pelos. No território Síria das Colinas de Golã está o exército de “Israel”, também controlado pelos EUA. E por fim os ucranianos começaram a aparecer em peso na Síria, o seja, mais uma força de procuração dos EUA.
Do outro lado, a resistência toda está na Síria. O próprio governo Assad, o Hesbolá, a Guarda Revolucionária do Irã, algumas organizações palestinas como a FPLP, a resistência iraquiana e recentemente há notícias de que os iemenitas desembarcaram aos milhares na Síria. Outro ator muito importante é a Rússia, que tem bases militares na Síria. Isso também mostra porque a Síria é um foco da guerra, ela é o ponto de junção entre a guerra de Gaza e a guerra da Ucrânia, as principais guerras do imperialismo hoje.
Do ponto de vista da resistência, começar a guerra na Síria também faz sentido. Está claro que o imperialismo irá escalar a guerra em algum momento, nesse sentido o Eixo da Resistência, que joga xadrez, está montando o tabuleiro para definir onde será o próximo avanço do imperialismo. No Líbano, no Iraque e no Irã a intervenção seria diretamente dos EUA, que é indesejado. Na Síria a guerra é contra “Israel” e os lacaios dos norte-americanos, isso aparenta ser a melhor opção.
Além disso, já há uma luta na síria para melhorar a posição e Assad. Os iranianos e os russos estão dialogando com a Turquia para que ela deixe o território sírio, o que seria uma enorme vitória para o governo. Ao mesmo tempo, a população síria, principalmente das tribos, está se aglutinando com Bashar al-Assad. Neste mês de setembro, um encontro de dez mil lideranças tribais definiu apoio total ao governo. Ainda em 2024 havia uma luta para definir se apoiaria Assad ou as FDS.
Os iranianos também atuam diretamente em conversas com os curdos, já preparam o terreno para eles abandonarem os EUA. A principal discussão é com os curdos do Iraque, mas os curdos da Síria já se demonstram preocupados com essa aliança. Eles tentaram realizar eleições duas vezes e o governo norte-americano vetou. Ou seja, o imperialismo já consideram que no voto popular perderam o norte da Síria.
Em agosto se abriu uma frente de batalha entre as tribos de Deir Ezzor e as FDS em que essas foram surpreendidas e perderam um importante campo de petróleo. Isso mostra que a crise política já se reflete também na questão militar. Ou seja, a situação dos EUA na Síria é muito ruim e o Eixo da Resistência está em um trabalho intenso para minar seu poder, isso só aparece para os que acompanham a situação de perto.
O possível plano do Eixo da Resistência
A grande armadilha que a resistência pode estar armado é uma guerra nas Colinas de Golã. Este território é o ponto mais fraco de “Israel”, pois possui uma grande concentração de tropas sionistas e 25 mil colonos sionistas. Mas o que as torna tão perigosas? É um território considerado internacionalmente como Síria e, portanto, legalmente a resistência tem o direito de atacar as Colinas de Golã para retomar esse território.
Se o tabuleiro for armado de forma perfeita, “Israel” pode cair em uma armadilha muito perigosa. Lutar no Golã contra todos os grupos da resistência, incluídos os iemenitas (que parece parte crucial desse plano), neste território. A opinião pública mundial, que já esta totalmente contra “Israel”, continuaria contra o país, pois seria uma guerra em defesa dos árabes da Síria. A derrota não teria grande consequência militar direta, mas seria uma vitória política gigantesca. A ocupação de “Israel” seria derrotado pela terceira vez. A primeira em 2000 no sul do Líbano, a segunda na Faixa de Gaza em 2005 e agora a terceira em Golã. Só restaria de ocupação a Cisjordânia.
O grande problema desse plano é como impedir que o imperialismo se envolva diretamente na guerra. Os EUA já estão no norte da Síria com bases militares. Um fator que faria total diferença seria um veto dos russos no espaço aéreo da Síria, isso impediria que os israelenses pudessem bombardear as principais cidades do país e concentraria a guerra onde deseja a resistência. A Rússia em 2015 esteve disposta a intervir na Síria contra a vontade do imperialismo, passados 9 anos e uma guerra na Ucrânia, não é impossível que ela tome ações mais impactantes.
A situação é complexa. Mas uma coisa é certa, há um plano muito bem montado da resistência para impor uma grande derrota a “Israel”. Resta saber se ele acontecerá com foco na Síria, como especulado nesse texto, ou começara em outra região do Oriente Médio.