Quando o Hamas lançou a operação Dilúvio de al-Aqsa e iniciou o processo que levará ao fim do Estado de “Israel” ficou claro para o mundo inteiro, e principalmente para o Estado sionista, que o território palestino ocupado da Cisjordânia seria uma enorme frente de batalha. A vitória em Gaza naturalmente levaria a libertação da Cisjordânia, mais cedo ou mais tarde, ou seja, o maior medo do Estado de “Israel”, a criação do Estado da Palestina. A frente da Cisjordânia nesse sentido, ao mesmo tempo que é a mais fraca de todas, é a mais perigosa.
A Palestina foi dividida entre Cisjordânia e Faixa de Gaza com a catástrofe de 1948, a limpeza étnica na Palestina. Em 1993 foram assinados os acordos de Oslo, que definiram essas fronteiras como o suposto Estado da Palestina governado pela Autoridade Nacional Palestina. Na realidade, foi um grande golpe dos EUA e do sionismo. Quem se opos a esse golpe foi justamente o Hamas. Com a Segunda Intifada, o Hamas conseguiu libertar a Faixa de Gaza da ocupação, no ano de 2005, mas a Cisjordânia não teve o mesmo destino.
Gaza então se tornou o epicentro da Resistência Palestina. As Brigadas al-Qassam do Hamas se tornaram quase um exército, os demais grupos também formaram grandes brigadas, como a Jiade Islâmica Palestina. Mas a Cisjordânia, desde o ano de 2021, havia se tornado o terror do Estado de “Israel”. Os grupos de resistência se tornavam cada vez maiores e mais organizados. O grande medo dos sionistas inclusive não era Gaza, era o levante armado da Cisjordânia.
Em 2023, antes do Dilúvio de al-Aqsa, a resistência de Jenin realizou uma enorme embosca contra os sionistas, foi uma das maiores humilhações de “Israel” em anos, a imprensa falou que lembrava as operações do Hesbolá na década de 1990, ou seja, o prenúncio de uma vitória militar total. O número de operações da resistência só cresceu nos anos de 2021, 22 e 23. O Estado de “Israel” então deixou grande parte de seu contingente na Cisjordânia, com medo dessa explosão.
A guerra de libertação da Cisjordânia
Quando começou a guerra na Faixa de Gaza, o Estado de “Israel” também lançou uma guerra violenta contra a resistência da Cisjordânia. Mais de 700 palestinos foram assassinados neste ano, e mais de 12 mil foram sequestrados pelas forças de ocupação israelense. As invasões das cidades de Jenin, Tulcarém, Nablus e muitas outras se tornou cada vez mais frequente e mais violenta. Mas a violência em momento algum conseguiu diminuir a força da resistência, pelo contrário.
O grande destaque foi o mês do Ramadã, entre março e abril. Os grupos da resistência ampliaram muito todas as suas operações contra os sionistas. Além das emboscadas das brigadas da resistência, há muitas ações individuais, inclusive como operações com facas, atropelamentos e operações com armas. Lá a grande vitória é justamente manter a resistência de pé. O Estado de “Israel” tem a supremacia total, mas não consegue derrotar pequenos grupos guerrilheiros.
No final de agosto, os sionistas organizaram uma enorme ofensiva militar contra diversas cidades da Cisjordânia. Foi a maior operação desde a Segunda Intifada e deixou dezenas de mortos. Além das tradicionais invasões com blindados “Israel” começou a atacar por ar também. O ataque mais violento de todos aconteceu no início de outubro, quando um café na cidade de Tulcarém foi bombardeado. A violência brutal, longe de ser uma demonstração de força dos sionistas, é mais uma ação desesperada.
Para entender as maiores vulnerabilidades de “Israel”, basta observar onde exerce mais força, Gaza, Cisjordânia e o Líbano. A intensificação da repressão na Cisjordânia revela um dos maiores medos de “Israel”: perder o controle desse território estrategicamente vital. Para a ocupação, a luta na Cisjordânia não é apenas mais uma frente no conflito com o Hamas, é uma batalha pela sobrevivência. Se “Israel” perder o controle da Cisjordânia, o próximo passo é a criação de um Estado da Palestina e isso é o fim da linha para o sionismo.
Os sionistas entram nas cidades palestinas com blindados, retroescavadeiras militares e destroem grande parte de suas estradas, demolem casas e outras construções. Sequestram dezenas de pessoas todos os dias, assassinam combatentes e palestinos comuns, incluindo crianças. Mas isso apenas aumenta a determinação da resistência. O Estado de espírito da juventude que compõe esses grupos e de revolução. E o povo também apoia a resistência.
A grande vitória política da resistência foi o acordo costurado por russos e chineses entre o Fatá, partido que lidera a Autoridade Palestina, e todas as organizações da resistência, principalmente o Hamas. Isso abre margem para o fim do governo lacaio do sionismo de Mahmoud Abbas e o início de um governo de unidade nacional com a ala esquerda do Fatá.
A resistência tem de lidar politicamente com a Autoridade Palestina que atua a serviço de “Israel” sendo supostamente a defensora dos palestinos. O aparato de repressão da AP é tão sionista que inclusive ataca diretamente a resistência, chegou a assassinar e prender combatentes. Os palestinos, no entanto, compreendem bem que abrir uma guerra com a AP é uma armadilha dos sionistas. Eles seguem mantendo sua luta com o inimigo real, a ocupação sionista.
Por fim, é preciso comentar um pouco sobre a Jordânia, o país que faz fronteira direta com a Cisjordânia. O governo pró-imperialista do rei Abdulá II é um pilar de sustentação da ocupação israelense. No entanto, no mês de setembro um partido que apoia a resistência, a Frente de Ação Islâmica, foi de longe o partido mais votado do país, sendo a maior minoria do parlamento. Em setembro também um jordaniano realizou uma operação na fronteira e eliminou 3 soldados sionistas.
A situação da Jordânia é uma demonstração do nível de radicalização dos palestinos fora de Gaza. A Revolução Palestina que tem seu epicentro na Faixa de Gaza já acontece na Cisjordânia ocupada e está chegando na população de palestinos da Jordânia, cerca de 3 milhões. Por enquanto a resistência parece muito longe de derrotar “Israel”, mas vale lembrar que em 2005 os sionistas se retiraram de Gaza quando o Hamas tinha muito menos armas do que hoje tem os palestinos da Cisjordânia.