No último dia 8, o cerco à embaixada argentina em Caracas foi suspenso após um período de tensão que envolveu o corte de energia elétrica e controle no acesso à embaixada. A situação foi desencadeada pela fuga de Edmundo González, opositor venezuelano e derrotado nas eleições de julho, que havia se abrigado na embaixada dos Países Baixos após uma ordem de prisão ser emitida contra ele. González fugiu para a Espanha, com apoio do imperialismo europeu, e o cerco das forças venezuelanas só foi retirado após sua saída do país.
A crise escalou após o rompimento do acordo entre os governos brasileiro e venezuelano, que permitia ao Brasil manter a custódia da embaixada argentina, após o rompimento de relações entre Argentina e Venezuela. O presidente Nicolás Maduro alegou ter provas de que a embaixada estava sendo usada para planejar atos terroristas e assassinatos, embora essas alegações não tenham sido comprovadas publicamente. O Brasil, até então, havia mantido a custódia, mas a ruptura unilateral por parte de Maduro gerou desconforto diplomático, evidenciado pela reunião de emergência convocada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para discutir a crise.
Esse episódio ganhou um novo contorno internacional com a declaração do secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, que, em uma publicação na rede social X feita no último domingo (8), declarou:
“Os venezuelanos votaram por mudança. A repressão pós-eleitoral de Maduro já matou e prendeu milhares, e o candidato vencedor Edmundo González continua sendo a melhor esperança para a democracia. Não podemos deixar Maduro e seus representantes agarrarem-se ao poder pela força. A vontade do povo deve ser respeitada.”
Essas declarações acirraram ainda mais o clima de hostilidade, enquanto as tensões entre Venezuela e o Brasil se intensificavam.
A política do governo Lula, em vez de apaziguar a crise, tem alimentado ainda mais o incêndio ao se render aos interesses do imperialismo. O país vizinho já sofre há anos com o cerco econômico e político dos EUA, e vê sua soberania atacada também pelo principal parceiro do regime chavista no subcontinente, o Brasil. A posição adotada pelo governo brasileiro, ao propor um acordo entre Maduro e a oposição, enfraquece a luta venezuelana contra os golpistas, colocando o Brasil como um intermediário que, na prática, apoia os interesses norte-americanos.
A tentativa de mediação brasileira ignora o fato de que a oposição venezuelana, encabeçada por figuras como Edmundo González, foi instrumentalizada pelos EUA. Não se trata de uma oposição legítima, mas sim de peões da guerra imperialista contra a Venezuela. Qualquer acordo que não passe pela aceitação da vitória de Maduro é, na realidade, uma derrota do regime bolivariano e das amplas massas que dão sustentação social ao chavismo, sendo, portanto, uma vitória do imperialismo. Além disso, o Brasil, ao tentar impor suas condições, perde qualquer autoridade para atuar de forma soberana e independente na política externa regional.
É importante notar que a política de submissão de Lula frente à crise venezuelana é um reflexo direto de sua incapacidade de sustentar uma posição firme em defesa da autodeterminação dos povos da América Latina. Ao propor “acordos” entre governo e golpistas, Lula não faz outra coisa além de enfraquecer o chavismo, encorajando o imperialismo a seguir com seu plano de cerco e desestabilização.
O Brasil deveria estar na linha de frente da defesa da soberania venezuelana, mas age como um sabujo dos interesses norte-americanos. A capitulação é evidente: ao invés de apoiar o governo legítimo de Nicolás Maduro, Lula busca uma postura conciliatória que apenas fortalece o plano dos EUA para a América Latina. A tentativa de reorganizar a região, com a Venezuela como um dos alvos prioritários, não é uma questão distante do Brasil. Ao não se posicionar firmemente contra os interesses imperialistas, Lula coloca o próprio governo brasileiro na mira de futuros golpes.
A única solução possível para evitar que o Brasil se torne a próxima vítima do imperialismo é abandonar imediatamente essa política vacilante e se unir à luta de resistência venezuelana. Somente apoiando o chavismo e se opondo abertamente ao imperialismo, Lula poderá evitar que seu governo seja arrastado para o mesmo ciclo de desestabilização que já destruiu outras nações do continente. A política de conciliação com os inimigos da soberania dos povos oprimidos da América Latina tende, inevitavelmente, a impulsionar uma onda de desestabilizações e golpes de Estado ainda maiores e mais radicalizadas do que as observadas na década passada, quando o próprio governo do PT caiu.