No início do mês, uma crise se estabeleceu quanto ao sistema carcerário israelense. A libertação (1 de julho) do diretor do hospital Al-Shifa, Dr. Mohammed Abu Salmiya, sequestrado em novembro pelos sionistas, levou a uma série de revelações e declarações públicas de autoridades daquele país. Este Diário cobriu em detalhe as repercussões imediatas após a série de declarações do diretor Salmiya, das quais destacamos a seguir:
“Até os médicos israelenses lá [nas prisões] tratam os prisioneiros com crueldade e os espancam… Esta ocupação [‘Israel’] abandonou todos os valores humanos”, ressaltando ainda que os palestinos “são submetidos a suplícios físicos e psicológicos diários”.
O desenvolvimento da situação levou o chefe do Shin Bet, serviço de segurança de “Israel”, Ronen Bar, a enviar uma carta ao primeiro-ministro Netaniahu, revelada ainda no dia 2 de julho, afirmando que o número de palestinos presos em seus verdadeiros centros de tortura chega à casa dos 21 mil, e não em torno de 13 mil, como antes se estimava. A capacidade prisional seria de no máximo 14.500 pessoas. Como publicamos naquele momento, a carta tinha por objetivo atribuir a repercussão após a libertação de Salmiya a outras esferas institucionais que não o próprio Shin Bet. Entre os pontos ressaltados por Bar, destacamos:
“A crise de encarceramento constitui uma verdadeira crise estratégica.”
“Também pode colocar em perigo altos funcionários israelenses no exterior e expô-los a tribunais internacionais”, dado que as condições e o tratamento em relação aos palestinos nessas prisões ‘beiram o abuso’”.
“A legislação de emergência permite a superlotação de prisões quase sem limites.”
“Após o ataque de 7 de outubro, Israel negou direitos aos prisioneiros que eram aceitos antes da guerra, incluindo aqueles que são obrigatórios de acordo com a lei internacional [por exemplo, visitas da Cruz Vermelha].”
Na sequência, também noticiada por este Diário, o ministro da Defesa Pública de “Israel”, Itamar Ben-Gvir, confirmou o que é de conhecimento notório: as prisões israelenses são centros de tortura.
“Desde que assumi meu cargo de Ministro [da Defesa Pública], uma das minhas principais prioridades tem sido piorar as condições dos terroristas nas prisões e reduzir seus direitos ao mínimo exigido por lei (…). Esse foi um compromisso que assumi com meus eleitores e com o povo de Israel durante as eleições, quando anunciei minha intenção de assumir essa função”.
Frente ao problema da superlotação, devido às prisões aleatórias e em massa de palestinos perpetradas pelas forças sionistas, Ben-Gvir propôs que, ao invés da soltura, se adotasse a pena de morte: “nunca pensei em libertar terroristas da prisão porque ela está lotada para eles”, “a pena de morte para terroristas é a solução certa para o problema do encarceramento, até lá – fico feliz que o governo tenha aprovado a proposta que apresentei” de construção de mais espaços de detenção.
Não apenas isso, a Comissão Especial da ONU para Investigar as Práticas Israelenses que Afetam os Direitos Humanos do Povo Palestino e de Outros Árabes nos Territórios Ocupados publicou documentos que acusam as Forças de Ocupação de “Israel” de estuprar, degradar e desumanizar homens, mulheres e crianças palestinos sob sua custódia. A comissão apontou ainda que os militares sionistas compartilham “publicamente e sem vergonha fotos em plataformas de mídia social que violam a privacidade e a esfera íntima das mulheres palestinas, com o objetivo de ridicularizá-las, envergonhá-las e humilhá-las”.
As diversas declarações se somam à libertação de outros presos, que apareceram em vídeos pela internet, em claro estado de choque, com sinais de terem sofrido todo tipo de torturas.
No dia 9, última terça-feira, foi liberto Muazaz Ebayat, e um vídeo foi replicado nas redes a partir do portal The Cradle demonstrando suas condições, o qual reproduzimos a seguir. Muazaz foi transformado de um atleta num inválido, o que fica claro pelas imagens chocantes do antes e depois de seu sequestro pelo sionismo.
O presidente da Comissão de Assuntos dos Detentos (CDA), Qaddura Fares, foi categórico a respeito do caso:
“O detento liberto Ebayt foi sujeito a espancamento e torturado durante sua detenção, como tinha fraturas e foi deixado sem qualquer atenção médica, tratamento ou medicação. O Sistema Prisional Israelense praticou terrorismo organizado pela gangue bárbara de Netaniahu contra ele, e esta é a situação de milhares de detentos que são sujeitos a uma morte lenta numa base diária”.
A mesma comissão já denunciou que os presos estão sujeitos a suplícios sem qualquer regulação, segundo as mudanças de humor dos carcereiros, com a imposição de penas sem qualquer justificativa, e sem direito a defesa. Não há real processo contra os palestinos, de fato sequestrados pelas forças sionistas.
Nesta situação, em artigo do dia 9 da Comissão de Assuntos dos Detentos, se informou que apenas na Cisjordânia ao menos 670 crianças haviam sido sequestradas para os centros de tortura sionistas, com 250 delas ainda encarceradas.
Os prisioneiros ainda sofrem por privação de sono, frio, dormem no chão sem cobertores e muitas vezes tem que lavar suas roupas e colocá-las ainda molhadas, pois suas outras roupas são confiscadas. Há também denúncias de que eles têm suas cabeças pisoteadas como forma de agressão e humilhação. Ademais, o acesso a notícias, a reza e o chamado à reza são proibidos, as celas não têm janelas e são lotadas, o que impede a entrada de luz solar e a circulação do ar, e o confinamento solitário é de uso comum, entre muitas outras denúncias.