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Henrique Áreas de Araujo

Militante do PCO, é membro do Comitê Central do partido. É coordenador do GARI (Grupo por Uma Arte Revolucionária e Independente) e vocalista da banda Revolução Permanente. Formado em Política pela Unicamp, participou do movimento estudantil. É trabalhador demitido político dos Correios e foi diretor da Fentect (Federação Nacional dos Trabalhadores dos Correios)

Coluna

Centenário de um dos mais revolucionários movimentos de vanguarda

Manifesto do Surrealismo, de André Breton, buscou a libertação mais radical e profunda do homem

André Breton aprofundou seus estudos da psicanálise, ciência recém descoberta por Freud, durante seu trabalho tratando soldados traumatizados durante a 1ª Guerra Mundial.

Se a psicanálise foi a base fundamental para o Manifesto do Surrealismo, escrito por Breton em 1924, há exatos 100 anos, ela não foi o único ingrediente que fez surgir o manifesto e um novo e vigoroso movimento de vanguarda.

A crise social do início do século XX, a crise profunda na qual ingressou o capitalismo em sua fase terminal, o imperialismo, a efervescência cultural da época, gerada justamente por essa crise; tudo isso formou aquilo que talvez tenha sido o mais científico dos movimentos artísticos.

Na realidade, os surrealistas não queriam criar um movimento de arte, não queriam determinar uma estética, uma forma ou um conteúdo que fizesse. Nada disso. A preocupação de André Breton e de seus companheiros surrealistas era bem clara: 

“Automatismo psíquico puro pelo qual se propõe exprimir, seja verbalmente, seja por escrito, seja de qualquer outra maneira, o funcionamento real do pensamento. Ditado do pensamento, na ausência de todo controle exercido pela razão, fora de toda preocupação estética ou moral.”

Para os surrealistas, a poesia era a maneira de expressar essa libertação do pensamento. E poderíamos estender isso dizendo que a arte é a expressão da libertação do pensamento, portanto do homem.

Para Breton, essa libertação não era meramente individual. Por isso ele se liga também ao que de mais avançado há na ciência social, o materialismo histórico. Ele entende que a libertação do homem só pode ser compreendida como libertação da humanidade.

Não à toa, Leon Trótski recebeu muito bem André Breton e os surrealistas. Com sua profunda erudição política e cultural, Trótski percebeu que nas concepções artísticas de Breton e seus aliados estava a chave para uma concepção livre da arte, o que ganhava importância na luta contra as barbaridades stalinistas.

O chamado “realismo socialista”, criado pela burocracia stalinista para controlar a produção artística, era o exato oposto do surrealismo. Enquanto este defendia a libertação total do homem através da libertação do pensamento, da expressão liberta da razão, a burocracia stalinista defendia o controle absoluto da criação artística.

O surrealismo não defende uma estética própria, não exige uma forma nem um conteúdo. O surrealismo é avesso a qualquer “estilo”, pois ele se vulgariza em fórmulas e receitas prontas.

Breton encontra Trótski exilado no México e juntos vão publicar o Manifesto por uma arte Revolucionária e Independente, criando a FIARI (Federação Internacional dos Artistas Revolucionários e Independentes). Ali, Trótski e Breton lançam as bases da arte revolucionária, explicando que ela não é necessariamente a arte que fala da revolução, mas a arte que é a expressão genuína do artista, contrária aos controles externos.

Se no manifesto surrealista Breton definiu os preceitos do movimento artístico que fundou, no manifesto da FIARI, Trótski e ele colocam as premissas gerais para os artistas e a arte. Arte como libertação da humanidade.

Lembrar dos 100 anos do Manifesto do Surrealismo, é lembrar do que talvez tenha sida o mais revolucionário dos movimentos de vanguarda do século XX. Isso não é pouca coisa diante tantas correntes vanguardistas revolucionárias produzidas na época.

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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