Em 15 de outubro de 2024, a Causa Operária TV (COTV), canal do YouTube que mais produz conteúdo em defesa da Palestina e de sua resistência no Brasil, voltou a ser alvo de censura pelo YouTube. Três vídeos foram removidos da plataforma, que alegou “apologia de organizações violentas ou terroristas”. Como resultado, o canal está temporariamente impossibilitado de fazer transmissões ao vivo, enviar vídeos ou até mesmo fazer publicações na seção de comunidade.
Os vídeos removidos foram:
- Lançamento do livro O Hamas conta seu lado da história – vídeo que apresentava o lançamento de uma obra que propõe mostra o lado do Hamas na luta contra a ocupação sionista;
- “Iêmen bombardeia Telavive e navios dos EUA em defesa da Palestina” – noticiava ataques conduzidos pelo Iêmen em apoio à causa palestina.
- “Hesbolá manda 250 soldados israelenses para hospitais” – conteúdo que abordava uma ofensiva do grupo libanês Hesbolá contra forças israelenses, com ênfase no número de feridos.
Justificativa da plataforma
A justificativa central do YouTube foi que os vídeos promovem “apologia de organizações violentas ou terroristas”. Tanto o Hamas quanto o Hesbolá são considerados organizações terroristas por países como os Estados Unidos e membros da União Europeia. No entanto, essa interpretação não se aplica ao Brasil.
Um caso que mostra isso foi o arquivamento do processo contra Ieri Braga, militante do PCO que foi acusado de fazer apologia ao crime por usar uma camiseta com o nome do Hamas na Câmara dos Deputados. O juiz Alessandro Marchió Bezerra Gerais decidiu, com base em parecer do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), que o uso da camiseta não configurava crime, uma vez que o Hamas não é oficialmente classificado como organização terrorista no Brasil.
Em um caso anterior de censura imposta ao canal pelo mesmo motivo, o presidente nacional do PCO, Rui Costa Pimenta, chamou a atenção de que se tratava de um “atentado à soberania nacional”. Disse ele: “estamos sendo censurados com base na definição do governo dos EUA. Ou seja, o Brasil não é um país de verdade. O governo dos EUA vem e censura o que querem”.
Histórico de censura
O ataque à Causa Operária TV (COTV) em outubro não foi um evento isolado. O YouTube já havia censurado o canal em diversas ocasiões ao longo de 2024. No dia 26 de maio de 2024, a plataforma removeu 37 vídeos e desmonetizou não apenas a COTV, mas também seus canais parceiros, como Rádio Causa Operária, Diário Causa Operária (DCO) e Partido da Causa Operária (PCO).
Em 6 de março de 2024, o canal Cortes da COTV foi desmonetizado pelo YouTube. O canal, que publicava diariamente trechos de programas como Reunião de Pauta, Resumo do Dia, Plantão Palestina e Análise Política da Semana, foi censurado sem explicações concretas.
Cabe ressaltar que o canal Cortes da COTV surgiu durante a censura imposta pelo Supremo Tribunal Federal (STF) ao PCO em 2022, após o partido denunciar a política fascista do ministro Alexandre de Moraes. A partir dessa restrição, a COTV transformou o canal em uma ferramenta alternativa para publicar os trechos de seus programas, que eventualmente também foi alvo de censura.
Cerco à liberdade de expressão
O caso da COTV não é isolado. O cerco às plataformas e o ataque à liberdade de expressão têm se tornado uma prática comum. No dia 1º de setembro de 2024, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), tomou uma decisão inédita suspendendo a plataforma X no Brasil, afetando diretamente 20 milhões de usuários. Essa ação gerou repúdio em todo o País e foi considerada um ataque sem precedentes à liberdade de expressão.
Além disso, o TikTok foi banido dos Estados Unidos sob alegações de segurança nacional, e o fundador do Telegram, Pavel Durov, foi preso na França, acusado de permitir práticas criminosas em sua plataforma.
Esses casos indicam uma crescente repressão à imprensa alternativa que se recusa a seguir a política imperialista. Finalmente, esses ataques à liberdade de expressão ocorrem como parte de uma contraofensiva do imperialismo contra os povos. O imperialismo, que está em crise e perdendo força, intensifica suas atrocidades em várias regiões do mundo, o que faz com que a censura aumente de forma sistemática.
O exemplo mais claro dessa política de censura foi a repressão recente no Líbano, onde, em outubro de 2024, dispositivos eletrônicos foram detonados por forças imperialistas, resultando em milhares de vítimas civis. Esses atos foram glorificados pela imprensa imperialista como “heroicos”, embora tenham exposto o terrorismo de Estado promovido pelos Estados Unidos e seus aliados sionistas.
Além disso, a imprensa imperialista enfrenta uma crescente rejeição mundial. Em 14 de outubro de 2024, Tim Davie, diretor-geral da BBC, admitiu que a emissora está perdendo terreno entre os países imperialistas. Órgãos como a RT (Rússia) e a CGTN (China) estão ganhando a confiança de populações na África, Oriente Médio e América Latina, desbancando veículos tradicionalmente dominantes. Davie lamentou os cortes no financiamento da BBC World Service, que abriram espaço para que veículos russos e chineses conquistassem a confiança de milhões de pessoas nesses mercados.