Lula não tem mesmo sossego. Seu governo é acossado por dois grupos de oposição, que, cada vez mais, se fundem, mostrando sua verdadeira face. Pelo jeito, os adversários vão continuar jogando cascas de banana no seu caminho.
Há algumas semanas, a imprensa burguesa ocupou-se de noticiar com alarde a sucessão de cancelamentos unilaterais de planos de saúde, uma estratégia das operadoras para expulsar os clientes que elevam sua taxa de sinistralidade, ou seja, os que ficam doentes e precisam de tratamentos mais caros. Nesse grupo, estão majoritariamente os idosos e crianças com transtorno do espectro autista, além de pacientes em tratamento de câncer.
A grita foi imensa; o número de queixas de consumidores se avolumou na Agência Nacional de Saúde. As operadoras, por sua vez, vieram a público com as próprias queixas, reclamando do excesso de judicialização, que as obriga a cobrir tratamentos caros, e das fraudes no sistema, que oneram seus custos etc. etc.
Ato contínuo, o presidente da Câmara, o glorioso Arthur Lira, reuniu-se com os representantes das empresas de planos de saúde e anunciou que os cancelamentos de planos estariam suspensos até segunda ordem. Um acordo “de boca” entre o Arthur Lira e os empresários da saúde seria a garantia de atendimento dos usuários.
Várias dessas empresas desrespeitaram o “acordo de cavalheiros”, e os advogados disseram nada poder fazer a respeito, pois não havia validade legal no anúncio de Lira e seus camaradas. Enquanto isso, uma ventilada CPI da Saúde ia para as calendas. Artigos para cá, artigos para lá, colunistas e editorialistas de jornal mantinham o assunto em evidência, sendo que o Globo, o Estadão e o Eduardo Cunha (aquele mesmo), que é colunista do Poder 360, pediram o envolvimento do governo na questão, considerado por eles “omisso”.
As coisas vão indo até que a ANS divulga o lucro líquido das operadoras no primeiro trimestre do ano, que bateu nos R$ 3,3 bilhões. Era de esperar que a grita aumentasse, pois os cancelamentos de planos pouco lucrativos e os altos reajustes, que tanto prejudicam os usuários, pareciam perder sua única justificativa, ou seja, a iminente bancarrota das empresas, que estariam operando no vermelho. É certo que boa parte desse imenso lucro advém de aplicação do dinheiro no mercado financeiro…
De qualquer forma, o valor “deveria” revoltar ainda mais os articulistas e editorialistas de jornal, mas não foi o que aconteceu. Pelo contrário, o assunto esfriou e toda a imprensa voltou sua atenção para o PL Antiaborto ou PL do Estuprador ou PL da Gestação Infantil, seja qual for o apelido que melhor descreva a outra casca de banana jogada no caminho do governo. Agora Lula teria de se manifestar sobre a mais tradicional das pautas de costumes.
Aparentemente, o tiro saiu pela culatra, pois o projeto chegou ao exagero de pedir equiparação de aborto de feto com mais de 22 semanas ao crime de homicídio, sem considerar que os casos de interrupção de gestação nessa fase já são, em si, dramáticos, fruto de situações perversas, como estupro de meninas que só se descobrem grávidas depois de muito tempo.
Ao que tudo indica, a bancada evangélica, bolsonarista, quis dar uma resposta ao ministro Alexandre de Moraes, que invalidou uma resolução do também bolsonarista Conselho Federal de Medicina, a qual proibia a assistolia fetal. Moraes liberou o procedimento, que é usado exatamente nos casos de indução de aborto depois da 22ª semana para assegurar que o feto expelido não tenha sinais vitais, caso em que não se configuraria um aborto, mas um nascimento.
Lula saiu-se com um “sou contra, mas sou a favor”, que, na verdade, coincide com a opinião da maioria da sociedade, ao que parece. Em suma, ninguém quer fazer aborto; isso está longe de ser uma diversão. Ocorrem, porém, diversas situações, absolutamente dramáticas, que levam a esse desfecho. Um pouco de humanidade cai bem.
De qualquer forma, o que parece é que o noticiário é pautado para tumultuar o governo. Empresas cancelam planos de saúde, como se fossem uma espécie de pirâmide (o usuário paga enquanto está saudável e, quando precisa, é cancelado), sob o argumento que o negócio vai mal, mas seus lucros são exorbitantes; depois, um projeto de lei retrógrado é tirado do bolso do colete – uma coisa e outra só servem para tumultuar o ambiente desnecessariamente.
O interesse popular é manipulado para prejudicar o governo. E tome casca de banana. Qual será a próxima?