“Nenhum casamento é suportável se as pessoas não se modificam, não mudam. Por isso, case-se várias vezes, de preferência com a mesma pessoa”.
Bem, essa história escuto desde minha infância. Nada de novo, inclusive a ideia de casar muitas vezes com o mesmo parceiro. A questão é que esta perspectiva sobre as uniões parte de uma visão religiosa do casamento, como se ele fosse um bem sagrado e por demais precioso, que precisa ser preservado a todo custo. É inegável a importância que as civilizações emprestaram à união dos casais, pois que o reconhecimento do Estado garantia compromissos de cuidado por parte dos maridos, e de fertilidade por parte das esposas. Estes são, sem dúvida alguma, valores primordiais, essenciais para a sobrevivência de qualquer grupo. Não à toa, as uniões são descritas como o ápice e o centro da estrutura social, pela sua importância na continuidade. Entretanto, é possível que hoje exista um exagero sobre esta forma de ver a vida “a dois”.
Talvez não seja tudo isso. Apesar da importância que ainda vemos – que pode ser medida pelos custos de uma cerimônia para as classes abastadas – é possível que o casamento como o conhecemos, que inclui os filhos, a monogamia, a coabitação, os projetos compartilhados, etc., tenha sido uma moda passageira na história da humanidade e tão somente um subproduto do patriarcado, criado para manter o controle sobre as mulheres, a procriação e a descendência. Criticados como nunca e questionados sobre seu real valor, para alguns parece evidente que os casamentos têm seus dias contados por não oferecerem aos casais a liberdade e a autonomia que tanto almejam. A lenta decadência do modelo patriarcal talvez leve consigo alguns elementos que hoje são comuns, mas que talvez se torne raridade no futuro: as parcerias eternas, os casais de velhinhos, o almoço de domingo na casa dos avós. Quem sabe que tipo de sociedade diferente vai surgir quando esta instituição sobrar apenas como uma vaga memória.
As pessoas da minha geração, em especial aquelas contaminadas pelo romantismo e que nasceram sob a égide da família nuclear, por certo não teremos a oportunidade, ou o tempo de vida suficiente, para testemunhar este mundo sem casais e sem juras de amor eterno; não teremos a chance de vivenciar as dores e os sabores deste mundo. Entretanto, é inevitável a curiosidade em saber se o modelo que virá para garantir o afeto e o cuidado das crianças terá tanto sucesso quanto o amor romântico teve na história do planeta.