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Política internacional

‘Caos’ ou resistência à política do imperialismo?

Segundo youtuber, a incapacidade dos norte-americanos de estabilizar um governo pró-imperialista na Síria seria parte da estratégia do próprio imperialismo

No dia 9 de abril, o youtuber Jones Manoel publicou em seu canal um vídeo intitulado A verdade sobre Elon Musk!. No vídeo, o youtuber defende a tese de que teria “o caos” como parte de sua política de dominação. Isto é, para evitar que os seus interesses sejam postos a risco, o imperialismo conscientemente decidiria por implementar “o caos” em alguns países. Essa “teoria”, por sua vez, serviria para explicar a crise entre o dono do X, Elon Musk, e o Supremo Tribunal Federal (STF).

Vejamos seus argumentos, e como se contrapõem por si:

“É do interesse do Elon Musk criar um caos, uma desestabilização no Brasil.”

“Além do interesse estratégico no lítio brasileiro […] tem interesses estratégicos na Amazônia.”

Para exemplificar seu ponto, Manoel cita projetos da Starlink, empresa de Elon Musk, para o fornecimento de internet na Amazônia, além da promessa de pesquisa, desenvolvimento e formação de mão de obra na região. Além disso, aponta contrato fechado em dezembro de 2023 entre a Marinha do Brasil e a Starlink para conectar a internet de três navios.

O que nos leva ao questionamento: por que um bilionário que estaria sendo favorecido pelas políticas de um determinado governo, buscaria desestabilizá-lo? Parece estranho, mas vamos além. Para afirmar que Musk leva adiante tal política de desestabilização, seria necessário demonstrar como as medidas apontadas desestabilizam o Estado nacional.

Musk questiona Moraes, que abusa de seu poder como ministro e atropela a Constituição, a legislação e basicamente todas as prerrogativas legais do regime jurídico brasileiro. Nesse sentido, o agente de desestabilização seria Moraes, que age como um ditador. As ações de Alexandre de Moraes, ao mesmo tempo em que fortalecem juridicamente seu poder, e o das instituições jurídicas, as desmoralizam face à população, que não é adepta do regime de censura e perseguição defendido pelo ministro.

O fator de desestabilização, portanto, estaria não na ação de Elon Musk, mas a do próprio Alexandre de Moraes, que desmoraliza também aqueles setores que se alinham a tal política, como o governo Lula e o PT; portanto, o Executivo e o maior partido político do País.

“Caos” ou luta anti-imperialista?

Manoel então traz exemplos para ilustrar sua colocação:

“Uma das práticas mais recorrentes hoje no século XXI para o imperialismo manter seus interesses estratégicos é criar Estados falidos.”

“Algumas pessoas falam que a estratégia do imperialismo não deu certo na Líbia porque o país virou uma bagunça, ficou ingovernável porque virou um país balcanizado com cada região controlada por grupos paramilitares que ficam brigando entre si”, mas, afirma ele, não existe mais o governo Gadafi, que seria o fator fundamental.

Fato é que, para derrubar um governo, ou um regime, é preciso certo grau de instabilidade. Lógico, um regime estável é aquele que não cai facilmente. A política do imperialismo, portanto, contra seus inimigos, exige um grau de confusão política, de pressão sobre o regime político até que este se esgarce completamente ou até que seja derrubado o governo. Uma vez derrubado seu inimigo, o imperialismo busca em geral estabilizar a situação, justamente para garantir sua dominação.

Na Líbia, o imperialismo ainda hoje enfrenta uma resistência armada, daí vem o “caos”, os “grupos paramilitares que ficam brigando entre si”. O “caos” é uma forma de não identificar os agentes políticos que estão colocados numa dada situação concreta, o que impede a interpretação e portanto a ação sobre a situação política.

No mesmo sentido, diz o youtuber que o imperialismo pode ter sido derrotado na Síria, mas: “a Síria é um ex-país, hoje é uma nação balcanizada com seu território fragmentado, não existe um Estado nacional com soberania sobre o território, do ponto de vista econômico, militar, político, é um Estado totalmente enfraquecido e a Síria não é mais um problema que já foi em outras épocas para a estratégia imperialista.”

Exceto que isso não é fato. A Síria está ocupada por forças norte-americanas diretamente, que organizam forças rebeldes sob seu controle contra o governo de Bashar al Assad. A capital síria, Damasco, é também frequentemente alvo de bombardeios, como o recente bombardeio da embaixada do Irã. Se o país está entregue ao caos, apesar de não totalmente, mas se “já não é um grande problema”, qual a necessidade de ter tropas operando em seu território, ou dos bombardeios frequentes à capital? Os fatos não batem. Até hoje a Síria representa um problema considerável para o imperialismo, que se mantém militarmente envolvido no país para garantir que não se levante. Em outras palavras, o problema na Síria, para o imperialismo, é também a resistência.

“Não precisa necessariamente dominar um país e fazer com que ele caminhe numa perspectiva planejada no sentido que o imperialismo quer. Dá pra simplesmente criar um caos generalizado que inabilite aquele país de ter qualquer posição de ator político no cenário internacional. […] Consequentemente se cria uma situação de caos tão grande que até a capacidade de ação das classes sociais seja reduzida ao máximo.”

Vemos então que, ao afirmar a política do imperialismo como a política do “caos”, que se estabelece justamente naqueles locais em que a dominação imperialista não consegue se estabelecer de maneira sólida devido à resistência local, Jones Manoel apaga a luta contra o imperialismo e seu papel político.

O “caos” e a busca pela estabilização

Ainda um outro exemplo, um tanto inusitado, é apontado por Manoel: a Argentina.

“Está funcionando agora com a Argentina, que vai virar uma ex-nação. Vai ser um tal nível de aprofundamento da dependência se o projeto do Milei, do Macri, não for derrotado. […] Mas a funcionalidade do processo, que é anular qualquer perspectiva de integração regional, latinoamericana, anular o processo de aproximação da Argentina com a China e com a Nova Rota da Seda está dando certo.”

Ora, mas o imperialismo trabalha para estabilizar a situação política. Se a política econômica imperialista é insustentável, e leva à deterioração do regime político, a busca por estabilizar a situação passa a se referir, para a burguesia, ao fechamento do regime político. Em outros termos, o estabelecimento de um regime de força, uma ditadura, justamente na busca por impedir o “caos” da oposição política radicalizada.

“No Brasil uma estratégia do caos também seria fantástica. Imagine esse país num processo permanente de desestruturação. A quantidade de riqueza que não dá para se apropriar balcanizando cada vez mais o ambiente social do Brasil, criando uma permanente guerra fratricida de superfície enquanto a classe dominante interna, e em primeiro lugar o imperialismo, se apropria de todos os recursos estratégicos que considera importantes.”

É justamente o contrário. A política imperialista para o Brasil é a estabilidade do regime, por isso a relativa oposição a Bolsonaro, figura polarizadora, e a Lula. Por isso a pressão sobre Lula para que não polarize, a disseminação da política de que “a polarização serve à extrema direita”. São ferramentas para frear uma mobilização da esquerda. Tal política está expressa na aliança de setores esquerdistas com Alexandre de Moraes. Jonel Manoel ao fim denuncia ainda mais sua política errada:

“Me parece que é útil ler a ação do Elon Musk também dentro de uma perspectiva de longo prazo e que está colocada no Brasil desde a Lava Jato, que é uma estratégia do caos. Criar uma disfuncionalidade generalizada neste país e fazer um processo de expropriação massiva […] e fazendo com que aqui não seja possível de estabelecer nenhum tipo de governança nacional porque tal nível de instabilidade foi alcançada, que cada grupo monopolista nacional e internacional garante ali seus interesses.”

A Lava Jato, cujo processo político levou Alexandre de Moraes ao STF, apesar de minar o regime político nacional, após a derrubada do PT, como que se desfez. O que se estabeleceu, e até hoje não plenamente, foi um regime político permeado pelo golpismo mas que politicamente não é capaz de se sustentar. O alinhamento da esquerda a Moraes, como coloca Manoel, portanto, pode ser considerada uma política de estabilização do regime, mas do regime golpista.

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