Sabe-se que, na história do cinema, após o período pós-guerra, se estruturaram pomposos festivais como espaços de exibição de filmes para públicos internacionais. Nestes eventos, muito além de aspectos artísticos, os interesses visados eram políticos e diplomáticos. Como mostra a pesquisa de Figueiró (2023), após efeitos devastadores da 2ª guerra mundial, diversos países buscaram desenvolver iniciativas que permitissem o resgate da identidade nacional e o orgulho por ela, tornando tais festivais excelentes alvos.
Na esteira destas iniciativas, vale lembrar que, em 1933, foi criada a “Federação Internacional de Associação de Produtores de Filmes (FIAPF), uma organização internacional com sede em Paris que, teoricamente, tinha como objetivo representar interesses de associações de cinema nos festivais com respeito à política de direitos do autor, normas técnicas e liberdade de comércio. Contudo, como descrito na pesquisa de Figueiró, a função da FIAPF era classificar e censurar filmes “que fossem prejudiciais aos sentimentos de outras nações”, selecionando entradas e envios de filmes em diversos países. Também era de incumbência desta federação regular festivais em todo o mundo, mediante a criação de categorias de qualidade, segundo critérios tecnológicos e de outras naturezas.
No que diz respeito aos dias atuais, ainda se pode verificar fortemente a presença da FIAPF na sistematização de festivais de cinema e o concomitante uso da indústria cinematográfica para fins políticos e econômicos.
O famoso Festival de Cannes é um exemplo disso. Fundado em 1946, ocorre anualmente na cidade de Cannes, localizada na Riviera Francesa. O festival se tornou uma plataforma de destaque das mais poderosas indústrias cinematográficas, sendo a mais fotografada e coberta por grandes veículos de comunicação.
O pesquisador Romain Lecler (2015) afirma que, além da proposta de ser a maior vitrine internacional de cinema, o Festival de Cannes forjou para si o principal mercado mundial de direitos cinematográficos, exercendo papel crucial para autoridades públicas francesas estabelecerem suas relações de poder com os outros países, promovendo também uma “política audiovisual externa francesa” em seu próprio território, frente ao domínio das norte-americanas de Hollywood.
É nesta perspectiva que devemos ler matérias como a veiculada por um jornal tradicional de São Paulo, que trouxe uma reportagem sobre o diretor iraniano Mohammad Rasoulof.
Rasoulof, supostamente, tem sido perseguido e preso pelas autoridades iranianas devido aos filmes que dirige, cujo conteúdo principal é a crítica sobre questões sociais e políticas no Irã.
Mas, até mesmo nos EUA a perseguição é grande, diretores de esquerda basicamente estão banidos de produzir filmes. Ou seja, é apenas uma campanha cínica da imprensa burguesa que não defende os direitos democráticos, apenas os utiliza para atacar os países que estão na mira do imperialismo.
O Irã possui um governo que apoia diversas organizações da resistência armada no Oriente médio – como o Hesbolá no Líbano, as Forças de Mobilização Popular no Iraque, o Hamas e a Jiade Islâmica na Palestina. Tal apoio é visto pelo imperialismo e o sionismo, como ameaça.
Outro ponto a ser considerado é de que o Irã possui uma das maiores reservas de petróleo do mundo, ocupando o papel primordial no Oriente Médio, região de grandes interesses energéticos globais, razão da existência de fortes tensões políticas.