As eleições presidenciais na Romênia, realizadas no último domingo, evidenciaram, mais uma vez, a crise do imperialismo e o descontentamento das massas com os políticos tradicionais que governam o país. Contra todas as expectativas adiantadas pelas pesquisas de opinião, que colocavam Călin Georgescu como um candidato marginal, o candidato crítico à OTAN e à submissão da Romênia à União Europeia, obteve 22,9% dos votos, com 99,9% das urnas apuradas, terminando o primeiro turno em primeiro lugar.
Georgescu agora enfrentará a candidata reformista de direita Elena Lasconi, que obteve pouco mais de 19%. O segundo turno está marcado para o dia 8 de dezembro.
O candidato conduziu sua campanha de maneira independente após romper com um partido de extrema direita Partidul România Mare (Partido da Grande Romênia), conseguiu mobilizar setores amplos da população ao denunciar a subordinação econômica e militar de Bucareste aos interesses do imperialismo europeu e norte-americano. Em sua campanha, que viralizou nas redes sociais, ele prometeu uma política de segurança alimentar voltada para os interesses nacionais, em oposição ao apoio financeiro e militar à Ucrânia, que classificou como uma política “desastrosa”.
Lasconi, por outro lado, é conhecida como uma ex-correspondente de guerra alinhada com o discurso pró-OTAN e favorável ao envio de recursos a Quieve. Ela representa os interesses da burguesia que ainda se beneficia das migalhas do imperialismo europeu, embora seu partido seja uma força em decadência, assim como o governo do primeiro-ministro Marcel Ciolacu, do Partido Social-Democrata (PSD).
Ciolacu, apontado como favorito antes do pleito, sofreu uma derrota acachapante, com menos de 19% dos votos. A insatisfação com seu governo reflete o descontentamento popular com a estagnação econômica e a alta inflação, que colocam a Romênia como o país mais pobre da União Europeia.
O resultado do primeiro turno também marca uma rejeição ao presidente Klaus Iohannis, um fiel aliado do imperialismo e figura central na política externa submissa do país. Iohannis, que tentou recentemente se tornar secretário-geral da OTAN e fracassou, representa um sistema político em colapso, incapaz de lidar com as contradições internas e externas do imperialismo.
Călin Georgescu já causou polêmica ao criticar publicamente a instalação da base antimísseis americana Aegis Ashore em território romeno, considerada uma ameaça à soberania do país e um ponto de tensão com a Rússia. Embora tenha elogiado a liderança de Vladimir Putin, o Kremlin procurou distanciar-se do candidato, rejeitando qualquer acusação de interferência no pleito.
A Romênia, do ponto de vista estratégico, é fundamental no contexto do conflito Rússia-Ucrânia. O fato de o candidato favorito para vencer as eleições ser nacionalista acentua a derrocada completa dos ucranianos, mesmo após um mar de dinheiro doado pelo imperialismo europeu e norte-americano.
Sobre o cenário político que se desenha na Romênia e em outros países, o presidente da agremiação trotskista Partido da Causa Operária (PCO), Rui Costa Pimenta, sintetizou:
“O problema é que a tensão interna do bloco imperialista é muito grande, né? Primeiro, uma rejeição popular. Você vê que os governos, portanto, estão todos caindo pelas tabelas. Não falamos disso ainda no domingo, né? Ele falou que o Lula apareceu aí como garoto-propaganda de uma massa falida política. O Macron perdeu a eleição. Perdeu a eleição, até um eufemismo, né? Ele foi atropelado na eleição. O Olaf Scholz, o governo dele, está caindo pelas tabelas. O Starmer, o governo dele, tem menos popularidade que o antecessor e não tem um ano de governo ali. Quer dizer, a crise é total, total e completa. Dos países mais diretamente envolvidos com a política imperialista, política neoliberal e tudo mais. Isso inclusive reflete uma rejeição popular a esses governos. Então você imagina em países onde o regime político é menos sólido do que esses. A crise é total. O caso mostra que o imperialismo caminha para a ditadura. É isso que nós temos visto. Para manter o seu poder político, ele vai ter que apelar para a ditadura.”