No último sábado, dia 3 de fevereiro, o PSTU publicou um artigo no portal de seu jornal, o Opinião Socialista, intitulado: SP: Marta como vice de Boulos revela opção do PSOL por uma gestão de colaboração com a burguesia. O título, que já é espantoso, demonstra o nível da confusão e falta de norte da bússola política do agrupamento.
Um naufrágio misterioso
Diz o PSTU:
“Após deixar o barco petista, que naufragava em 2015 — fruto do desgaste produzido por 13 anos de governos de colaboração com a burguesia e pelas gigantescas mobilizações de 2013 que colocaram o PT e a Nova República de conjunto numa crise — Marta durante o processo de impeachment de Dilma, em 2016, chegou a fazer coro com figuras da ultradireita, como Janaína Paschoal. Em seguida votou a favor da Reforma Trabalhista e do Teto dos Gastos do governo Temer, que atacaram duramente a vida dos trabalhadores brasileiros.”
Ou seja, em plena articulação já aberta do golpe de Estado, Marta teria feito certo em sair do PT, apoiando a ofensiva contra os trabalhadores, rumo ao então PMDB, um dos pilares do golpe. Toda a operação golpista que foi colocada em marcha já em 2014 teria sido na realidade “fruto do desgaste” da conciliação. Para o PSTU, não havia golpe de Estado em curso; o Partido dos Trabalhadores, do qual Marta Suplicy saiu, era meramente um partido que estava em crise pela sua própria política, e “naufragava”. Se naufraga como um navio torpedeado ou não, para o PSTU não faz diferença. Uma farsa.
A política das “campeãs nacionais”, empresas privadas subsidiadas para crescer no exterior, de redistribuição ainda que limitada de renda, em outras palavras, a política de conciliação não foi o que levou à crise, mas a impossibilidade da burguesia, do imperialismo, de manter tal conciliação. Por isso mesmo, o que se seguiu foi uma reversão de tudo isso. A Petrobrás e as grandes empresas privadas erguidas ao longo dos governos do PT foram desmontadas, e uma série de direitos trabalhistas e sociais foram simplesmente extintos.
É importante dizer: já no golpe, o ataque a essas empresas operava, pela operação Lava Jato, pela operação dos frigoríficos, demonstração de um plano arquitetado pelo imperialismo. Como diz o próprio PSTU, a Reforma Trabalhista e o Teto de Gastos são exemplos disso. Uma continuidade lógica e propósito central do golpe de Estado de 2016. Ainda, a crise provocada pela queda artificial do preço internacional do petróleo, orquestrada pelos EUA junto à Arábia Saudita, que deu base de sustentação, e foi o pano de fundo do golpe, não é mencionada pelo PSTU. Este fato ainda serviu para atacar uma série de inimigos mais diretos do imperialismo, sobre os quais não é pertinente entrar agora em detalhe, mas uma breve lista inclui Rússia, Venezuela e Irã.
“Para ser vice na candidatura de Boulos, Marta teve que se demitir do cargo que ocupava como secretária no governo do principal opositor de Boulos, o atual prefeito Ricardo Nunes (MDB), que tem o apoio do governador Tarcísio e de Bolsonaro.”
Aqui vemos outro ponto que demonstra o golpe. Qual seria o sentido de lançar uma golpista como candidata? Lógico, apenas uma pressão enorme conseguiria fazê-lo. De fato, Marta Suplicy não é petista, apesar de utilizar a legenda. O que vemos é uma tomada do cenário político pelas figuras do golpe. E Boulos?
Virada ou continuidade?
“Mas a escolha da vice é apenas um sintoma de uma mudança de postura de Boulos e do próprio PSOL que miram na administração da maior e mais rica cidade do país em conciliação com a burguesia.”
E aqui, um ponto chave. Guilherme Boulos se alçou à popularidade com os protestos golpistas do “Não vai ter Copa”, recebendo amplo espaço na imprensa burguesa, coluna na Folha de S.Paulo, e tudo mais. Vimos, de lá para cá, como Boulos é um verdadeiro queridinho da imprensa golpista. Para o PSTU, o boneco do imperialismo estaria mudando de postura. Mas o que mudou? Boulos surgiu como figura do golpe na esquerda, papel também desempenhado pelo PSOL e pelo PSTU, ainda que cada um à sua forma.
Nesse sentido, o reformismo rebaixado e burguês do PSOL e de Guilherme Boulos, incapaz de emitir opinião sobre a Palestina, ou de participar em qualquer campanha real, como apontado no próprio artigo do PSTU, são demonstrativos não de uma contradição com seu passado, mas de uma continuidade lógica do mesmo. O alinhamento de Boulos com Marta Suplicy é natural, não houve mudança de postura. O PSTU o afirma porque via o psolista com simpatia, mas ele é, e sempre foi, um projeto totalmente artificial de esquerdista fabricado sob medida pela burguesia.




