Nesta semana, a Folha de S.Paulo publicou um artigo, de autoria de Betty Milan, membro da Academia Paulista de Letras, intitulado Sobre os ataques a Monteiro Lobato. Embora tenha sido positivo que a autora saísse em defesa de um dos mais importantes escritores do século passado, Milan, ao criticar os identitários, acaba, ela própria, cedendo à pressão daqueles que querem acabar com a cultura nacional, fazendo concessões ao identitarismo.
Ainda que imprecisa, Milan acerta quando diz que “militar contra o racismo é fundamental, mas, quando não há discernimento, tal prática é nociva e pode ser uma forma de barbárie“. Isto é, que, quando em nome de um suposto combate ao racismo, se atira obras literárias como as de Monteiro Lobato na fogueira, tem-se, então, a volta da Idade de Média. Ou seja, a barbárie.
A única conclusão possível diante disso é: os inquisidores de Monteiro Lobato devem ser mandados às favas! E ponto final. O único julgamento que se poderia fazer de Lobato é do ponto de vista literário. Sua obra tem qualidade ou é uma porcaria? Sensibiliza alguém ou não passa de uma produção puramente comercial? Do ponto de vista da política ou da ideologia, a questão não merecia comentário algum.
Mas eis que, para Betty Milan, algum comentário há de ser feito. Sua divergência, no final das contas, não é se a obra de Monteiro Lobato deve ou não ser punida, mas somente com a intensidade com a qual deve ser punida. Diz ela:
“Não faz sentido banir Monteiro Lobato das leituras escolares. Basta contextualizar as passagens racistas e criticar.”
Banir seria um exagero para a autora. Mas ela admite, no entanto, que a obra de Lobato não poderia ser lida tal qual ela é. Precisaria de notas de rodapé e de explicações de pessoas que não possuem 1% do talento de Lobato, mas que se acham moralmente superiores. A autora pode sinceramente achar que é contra a censura ao defender que os livros de Lobato não sejam banidos, mas, quando fala em “contextualizar”, está abrindo a porteira para que entre a patrulha identitária.
Mas não é apenas nesse ponto que a autora capitula diante da pressão identitária. Também chama a atenção os seus motivos para classificar Monteiro Lobato como um “racista”. Incapaz de citar um trecho da obra do autor, Milan diz:
“Verdade que Monteiro Lobato fez a apologia à Klu Klux Klan e foi membro da Sociedade Eugênica de São Paulo.”
Quanto à acusação de Lobato ser um “eugenista”, reproduzimos aqui o que disse a tradutora e editora Vanete Santana-Dezmann:
“Lobato foi o único escritor brasileiro a escrever um romance inteiro para mostrar os malefícios que a aplicação da eugenia negativa (a eugenia darwinista) poderia gerar. Ver o romance O choque das raças ou o presidente negroe ver também a diferença entre eugenia darwinista e eugenia lamarquiana (esta, considerada positiva; nela se englobam, por exemplo, as ações de imunização artificial da população por meio de vacinação).”
Quanto à suposta apologia à Klu Klux Klan, refere-se a cartas que teriam sido descobertas recentemente, mas que ainda não foram analisadas. No entanto, não muda nada: se o objetivo é indicar um desprezo de Lobato pelos negros, tal coisa não existe. E, para comprovar isso, citamos, uma vez mais, Vanete Santana-Dezmann:
“Lobato foi o primeiro escritor brasileiro a denunciar a situação degradante a que escravizados foram submetidos e a que ex-escravizados continuavam sendo mesmo três décadas após a assinatura da Lei Áurea. Ver os contos ‘Os negros’ e ‘Negrinha’, respectivamente.”
A pergunta que fica então é: por que uma escritora decidida a criticar os identitários calunia Lobato com tais acusações? Porque é incapaz de entender que o motivo da censura a Lobato. As acusações de “racismo” não são o resultado de uma histeria identitária coletiva, ela é parte de uma campanha orquestrada pelo imperialismo.
Uma campanha que visa não apenas destruir o patrimônio cultural brasileiro, mas também caluniar aquele que foi um dos grandes defensores dos interesses nacionais do Brasil – em especial, a exploração de seu petróleo.