Presidente do Irã desde 2021, Saiid Ebraim Raisol-Sadati faleceu no último domingo (19) após queda de helicóptero, deixando, porém, um legado importante para o imperialismo, cujo sucesso pode ser medido através de calúnias como a seguinte matéria de O Globo:
“O presidente do Irã, Ebrahim Raisi, morto aos 63 anos após a queda de um dos três helicópteros de seu comboio presidencial no domingo, tem um histórico sombrio no que se refere aos direitos humanos. Foi acusado e recebeu sanções dos Estados Unidos por sua supervisão administrativa da execução de menores e repressão violenta a protestos. Mas foi seu papel em execuções em massa de prisioneiros políticos nos anos de 1980 que, além de constituir crime contra a Humanidade, conferiu-lhe a alcunha de ‘carniceiro de Teerã’.” (“Morte do presidente do Irã, o ‘carniceiro de Teerã’: Veja as acusações de violações de direitos humanos contra líder morto”, 20/05/2024).
Além do diário carioca, a rede estatal britânica BBC, um dos principais órgãos de propaganda do imperialismo no mundo, publicou matéria informando que “Raisi tinha muitos inimigos, e muitas pessoas ficarão felizes com sua morte” (“3 perguntas cruciais sobre morte do presidente do Irã”, 20/05/2024), destacando ainda que “nos anos 1980, ele efetivamente assinou a sentença de morte de milhares de dissidentes, principalmente esquerdistas”, escreveu o órgão inglês. “Desde que assumiu a Presidência em 2021, ele esteve envolvido em uma repressão severa”, conclui.
A campanha de calúnias promovida pelos piores inimigos da humanidade não é outra coisa, mas reflexo da grandeza política do líder iraniano. O imperialismo tinha muitas razões para celebrar a morte deste contundente inimigo, uma vez que para os povos oprimidos, Raisi será lembrado como o homem que liderou a chamada integração das três forças asiáticas: Rússia, China e naturalmente, o Irã. O jornalista brasileiro Pepe Escobar, lembra em artigo assinado a razão dos ataques do imperialismo ao falecido presidente iraniano:
“Nos quase três anos desde que Raisi assumiu a presidência do Irã, a integração eurasiática e o impulso em direção à multipolaridade passaram a ser conduzidos fundamentalmente por três atores principais: Rússia, China e Irã” (“Raisi led the charge for Russia–Iran–China’s ‘new world order’”, The Cradle, 22/5/2024), escreveu Escobar, acrescentando que, “não por acaso, são as três principais ‘ameaças existenciais’ ao poder hegemônico.”
Em uma linha similar a do jornalista brasileiro, Ghassan Ben Jeddou, presidente do Conselho de Administração da rede libanesa Al Mayadeen, destacou o papel de liderança da República Islâmica sob seu governo, “ao nível regional e internacional” (“Irán, la revolución y el Estado de instituciones”, 20/5/2024). Segundo Jeddou, o Irã perdeu “um símbolo do Estado, do governo, do futuro, do amor do povo e um amante da causa palestina”.
Jeddou também descreveu Raisi como “um amigo dos árabes por excelência” e lembrou novamente que, quando assumiu a presidência, enviou “mensagens de amor aos países da região.” “Raisi se juntou à causa palestina porque é um revolucionário e sua crença é revolucionária”, disse ele, lembrando a presença de líderes da Resistência Palestina em posição de destaque na cerimônia de sua, “algo nunca visto antes”, observou.
Ouvido pelo Al Mayadeen sobre o impacto do acontecimento, o professor de sociologia Saif Da’na, da Universidade de Wisconsin (na cidade norte-americana de Chicago), destacou que “o pesar pela morte de Ebrahim Raisi não é apenas para o Irã, mas para todo o eixo de resistência”, disse, lembrando que sua perda é particularmente marcante “neste momento em que eles estão envolvidos na Batalha do Dilúvio de al-Aqsa”.
“Há 40 anos”, acrescentou, “a República Islâmica era mais um país do sul alinhado com o Ocidente, usado como um policial ocidental para proteger a região árabe, em defesa da entidade ocupante [‘Israel’]”, disse, lembrando, porém, que “a Revolução Islâmica [1979] transformou o Irã em um importante polo de mudança, enfrentou o cerco e as sanções e formou um círculo de fogo em torno da entidade ocupante”, disse Da’na, concluindo que graças à sólida estrutura institucional oriunda da revolução de 1979, o Irã “acomodará a ausência de qualquer personalidade”, concluiu.
A solidez do regime oriundo da revolução iraniana é percebida também por opositores. É o caso de uma identificada como Laila e estudante de 21 anos pelo jornal imperialista brasileiro Folha de S. Paulo, que reproduzindo entrevista da agência de notícias Reuters, creditou à mulher a frase: “estou triste porque mesmo com a morte de Raisi, esse regime não mudará”. (“Morte de presidente é recebida com luto contido e celebração disfarçada no Irã”, Folha de S. Paulo, 20/5/2024).
Ainda assim, é preciso reconhecer o enorme valor dos serviços prestados por Raisi, personagem central de uma das mais importantes crises de toda a história do imperialismo. Sob seu governo, o Irã tornou-se membro do bloco econômico dos principais países atrasados do mundo, o BRICS+, membro pleno da Organização de Cooperação de Xangai e um dos principais organizadores da União Econômica da Eurásia (EAEU).
Com Raisi, o governo iraniano estreitou laços com os principais países árabes e africanos, incluindo a Arábia Saudita, histórica inimiga do Irã. Na África, países como Egito, Líbia, Sudão e Jibuti tornaram-se importantes aliados da luta anti-imperialista em coordenação com o governo iraniano, que ainda sob o seu governo, realizou a mais importante e sofisticada operação militar contra “Israel”, disparando drones e mísseis do território iraniano, em um episódio que evidenciou o protagonismo da nação no Oriente Próximo como a principal força militar.
Os feitos de Raisi em sua curta passagem pela presidência do Irã são realmente notáveis, no campo da política interna e externa, sem esquecer o aspecto militar da luta anti-imperialista. As reações extremas provocadas pelo líder, das calúnias infames pelo lado do imperialismo e o ardor na defesa de seu papel de destaque na luta contra a ditadura imperialista são um reflexo de sua importância ímpar. Será sempre lembrado pelos motivos que o tornaram tão atacado: por ser um destacado aliado do povo palestino, dos povos árabes e um grande combatente dos povos oprimidos.