O portal Brasil 247 publicou em 8 de fevereiro um texto de Slavoj Zizek: “A lição de Lênin”, uma verdadeira aberração que deturpa o pensamento do principal líder da Revolução Russa.
Zizek, para quem não o conhece, é um defensor da OTAN e do regime nazista ucraniano, chegando inclusive a elogiar Zelensky. Em seu artigo “O terreno escorregadio das ocupações”, diz que o presidente ucraniano lutava contra a corrupção em seu governo!
Voltemos, então, ao seu mais recente artigo. O “pós-marxista” escreve que “já se passou um século desde a morte de Vladimir Lênin; já se passaram mais de três décadas desde que seu projeto bolchevique ruiu. Mas, embora grande parte de sua vida política tenha sido altamente problemática do ponto de vista de hoje, seu pragmatismo sem remorso, como se poderia chamá-lo, ainda tem validade”.
Acontece que Lênin não era ingênuo a ponto de acreditar em um ‘projeto’. Sua vida girou em torno da construção de um partido proletário e no enfrentamento com a burguesia. Os marxistas sabem que a história não anda em linha reta. A Comuna de Paris, por exemplo, sucumbiu, mas teve uma importância enorme para as lutas seguintes. O mesmo podemos falar sobre a Revolução Russa, que feriu gravemente o imperialismo. Uma revolução não é um processo acabado.
Em que Zizek considera a vida política de Lênin altamente problemática se vista nos dias de hoje? Lênin foi o grande do teórico do imperialismo, da questão do Estado, da formação de um partido revolucionário. Suas considerações se mantêm atuais.
Para Zizek, um pretenso “pragmatismo sem remorso” seria o legado de Lênin. Reduzir a obra política de Lênin a um ‘pragmatismo’ revela a indigência intelectual de Zizek. Lênin era um profundo conhecedor de Hegel, de Lógica; conhecia arte, comentava Shakespeare, para ele, teoria e prática revolucionária eram indissociáveis.
A questão do ‘pragmatismo sem remorso’ é utilizada como argumento porque Zizek, para justificar a própria posição pró-imperialista, acha que tudo pode ser mudado de acordo com as circunstâncias, como escreve: “a única maneira de permanecer verdadeiramente fiel a um princípio – permanecer “ortodoxo” no sentido positivo do termo – é mudar a própria posição diante da mudança da realidade”. Na continuidade, diz o seguinte: “em 1922, tendo vencido a guerra civil contra todas as probabilidades, os bolcheviques abraçaram a “Nova Política Econômica”, dando um espaço muito mais amplo para a propriedade privada e para o mercado.”. – grifo nosso.
Zizek tenta falsificar a realidade a seu favor; Da maneira como escreve dá-nos a impressão de que Lênin estaria promovendo o capitalismo, e não se trata disso. A NEP foi pensada em uma economia arrasada pela guerra civil, havia uma grave crise de abastecimento. A reorganização da economia não tirava o controle do Estado, antes o contrário, procurava dar um “um passo atrás, para depois dar dois passos adiante”.
Enquanto Lênin, diante da adversidade, pensa como recuar estrategicamente para depois avançar no socialismo, Zizek utiliza o fim da União Soviética para aderir ao capitalismo: “Depois do “desastre obscuro” de 1989, que pôs fim definitivo à época iniciada com a Revolução de Outubro de 1917, já não se pode querer qualquer continuidade ao que significou “a esquerda” nos últimos dois séculos”. Para ele “uma nova abordagem é mais importante do que nunca dantes fora já que o capitalismo global se tornou a única verdadeira força revolucionária.”.
Slavoj Zizek defende abertamente o capitalismo, diz que “o que resta da esquerda é o obsessivo esforço em proteger as velhas conquistas do Estado de bem-estar social, um projeto que ignora em grande parte o quanto o capitalismo mudou a textura de relações de nossas sociedades nas últimas décadas”. – grifo nosso.
Como todo acadêmico burguês, Zizek precisa recorrer ao academiquês para sustentar suas posições reacionárias. O que seria uma mudança na textura de relações? Por acaso foi abolida a luta de classes?
Em seu texto, Zizek escreve que Ami Ayalon, um ex-líder do Shin Bet (espécie de FBI israelense), teria dito seguinte em favor da paz: “Nós, israelenses, só teremos segurança quando eles, palestinos, voltarem a ter esperança. Essa é a equação que precisamos resolver.”. Que Ayalon pede a soltura Marwan Barghouti, preso desde a Segunda Intifada, pois ele seria “o único líder que pode levar os palestinos a construir um Estado ao lado do Estado de Israel. Primeiro porque ele acredita no conceito de dois Estados e, segundo, porque ele ganhou sua legitimidade mesmo atuando dentro de nossas cadeias”.
Marwan é tratado como uma espécie de Mandela palestino, está preso há mais de vinte anos, e Zizek não mostra um mínimo de indignação contra mais esse crime dos sionistas.
Ninguém leva a sério a proposta de dois Estados, os sionistas jamais aceitarão, não pacificamente, que os palestinos tenham um Estado soberano, pois isso implicaria na formação de um exército regular. Os palestinos poderiam concluir acordos militares com o Irã, com a Rússia, e isso os colonizadores israelenses dizem que está fora de questão.
Zizek aproveita seu texto para enaltecer Valeriy Zaluzhnyi (ex-chefe do exército ucraniano), que teria dito que a Ucrânia necessitava de “criar um sistema estatal completamente novo de rearmamento tecnológico (…) a melhor maneira de a Ucrânia evitar ser arrastada para uma guerra posicional, onde não [possui] vantagem”. Delirando, Zizek diz que vê “o breve comentário de Valeriy Zaluzhnyi como uma intervenção leninista (isto é, pragmática, sobre como lidar com princípios) em circunstâncias adversas”. – grifo nosso.
Nas palavras de Zizek, “Valeriy Zaluzhnyi combinou habilmente a fidelidade ao objetivo (manter a independência e a integridade territorial ucranianas como um Estado democrático) com uma análise concreta da situação no campo de batalha”. Zizek transforma um nazista em um político preocupado com a “democracia”.
Slavoj Zizek tem amplo espaço na grande imprensa e no mundo acadêmico. Não se pode esperar algo diferente, visto que suas posições ultrarreacionárias estão de total acordo com a política fascista do imperialismo.