No dia 9 de junho, o Estado de São Paulo publicou um editorial que mostra que a política da esquerda de apoiar medidas antidemocráticas em nome do combate à extrema direita falhou de maneira retumbante. Intitulado Anistia inaceitável, o artigo afirma que “está em curso um plano de reabilitação de Jair Bolsonaro para permitir que ele concorra à Presidência em 2026”.
“Fossem estes tempos normais, esse cenário seria um devaneio dos apoiadores mais fervorosos do ex-presidente. Mas estes não são tempos normais, não do ponto de vista institucional. E o bolsonarismo, como se sabe, vampiriza sua força da atimia das instituições – seja pela tibieza, falta de espírito público ou desvios de comportamento de alguns de seus membros”, afirma o editorial.
O artigo também faz críticas ao atual governo de Luiz Inácio Lula da Silva, acusando-o de estar “alheio à realidade do País”. “[Lula] Governa como se tivesse sido eleito por folgada maioria de ditos ‘progressistas’, fechado que está em seus interesses mais imediatos e na fracassada agenda do PT”, declara o Estadão.
Além disso, o Supremo Tribunal Federal (STF) é citado como uma instituição que tem prejudicado sua própria imagem, não apenas entre os bolsonaristas. “Ministros têm se comportado como se fossem maiores do que a própria Corte, minando a legitimidade que não apenas é o esteio do Poder Judiciário, mas do próprio Estado Democrático de Direito“.
Diante do que o jornal golpista considera ser um “contexto de desordem institucional”, ele cita algumas ações que visam, segundo o Estadão, “anistiar o maior vândalo político que esta República democrática conheceu nos últimos 35 anos” — título que, diga-se de passagem, já deve ter sido atribuído a uma dúzia de políticos.
Uma dessas medidas é a designação, pela presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, Caroline de Toni (PL-SC), do deputado Rodrigo Valadares (União-SE) como relator de um projeto de lei que concede anistia aos envolvidos nos atos de 8 de Janeiro. “Como ambos são bolsonaristas de quatro costados, não é difícil imaginar como serão os trabalhos na CCJ e o relatório final“, comenta o Estadão. O editorial critica duramente a iniciativa, sugerindo que ela deveria ser chamada de “emenda Bolsonaro”, já que seu objetivo principal seria livrar o ex-presidente da Justiça e reabilitá-lo eleitoralmente.
Outra manobra considerada oportunista pelo Estadão é a decisão do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), de desengavetar um projeto de lei de 2016 que impede a homologação judicial de acordos de colaboração premiada feitos por colaboradores presos e pune a divulgação de seu conteúdo. Para o jornal golpista, trata-se de uma tentativa de Lira de cortejar o Partido Liberal (PL), crucial para sua pretensão de fazer seu sucessor na presidência da Câmara.
Além disso, este projeto pode anular a delação do tenente-coronel Mauro César Cid contra Bolsonaro. “Lira sacou de seu baú de maldades mais um instrumento para fustigar Lula, que agora não tem mais qualquer interesse nesse projeto, a fim de manter o governo em rédea curta. Não à toa, Bolsonaro declarou publicamente que apoiará ‘o nome do Lira’ à presidência da Câmara em fevereiro de 2025“, afirma o Estadão
O artigo em questão mostra aonde está indo a política fantasiosa da esquerda pequeno-burguesa de que as instituições do regime varreriam totalmente o fascismo do Brasil. A depender do andamento da situação política, é possível que Bolsonaro nem mesmo permaneça inelegível.
Estes setores da esquerda apoiaram a censura, apoiaram todo tipo de desmando judicial, afirmaram veementemente que os manifestantes que entraram no Congresso e depredaram o local eram golpistas que estavam em meio a um golpe de Estado. Enfim, comprometeram completamente a sua política e prometeram a todos que as instituições resolveriam o problema da extrema direita.
Se Bolsonaro recuperar seus direitos políticos, estaremos diante do maior fiasco da política nacional, possivelmente, de todos os tempos. Uma demonstração, além disso, de que a esquerda vivem em outra realidade.
Não se sabe se as medidas citadas pelo editorial do Estadão conseguirão livrar Bolsonaro de suas condenações. Entretanto, fato é que o raciocínio do editorialista é concreto: o PL quer que os Projetos de Leis sejam aprovados ao mesmo tempo, em que Lira precisa do PL para as eleições na Câmara. Logo, o autor, que, tratando-se do Estadão, é muito bem informado, indica que já existe um acordo para “anistiar” o ex-presidente.