O suposto atentado — fracassado e ainda não devidamente esclarecido — de um bolsonarista na Praça dos Três Poderes, em Brasília, ocorrido nesta quarta-feira (13), está sendo usado pela burguesia como pretexto para aumentar a repressão.
Alexandre de Moraes, o ditador do Supremo Tribunal Federal (STF), buscou associar o crime ao próprio ex-presidente Jair Bolsonaro e ao chamado “gabinete do ódio”. Ele também afirmou que o ocorrido não foi um “fato isolado”, relembrando a manifestação bolsonarista em Brasília em 8 de janeiro do ano passado, usada pelo STF para aumentar a perseguição política e fechar o regime.
“Nós não podemos ignorar o que ocorreu ontem. O que aconteceu ontem não é um fato isolado do contexto […] mas o contexto se iniciou lá atrás, quando o ‘gabinete do ódio’ começou a destilar discurso de ódio contra as instituições, contra o STF principalmente contra a autonomia do Judiciário”, disse ditador de toga durante evento no Conselho Nacional do Ministério Público na manhã desta quinta-feira (14).
“Isso foi se avolumando sob o falso manto de criminosas utilizações da liberdade de expressão. Ofender, ameaçar, coagir, em nenhum lugar do mundo isso é liberdade de expressão. Isso é crime. E isso foi se avolumando e resultou no 8 de janeiro.”
Agora, o próprio STF vai investigar o caso e, segundo a Folha de S.Paulo, os ministros do tribunal “avaliam que a relatoria caberá a Moraes”, que também é responsável pelo caso do 8 de janeiro.
Ainda segundo a Folha, os “deputados bolsonaristas afirmaram em grupos de WhatsApp que as explosões na praça dos Três Poderes, na noite desta quarta-feira (13), devem prejudicar a tramitação do projeto de lei que dá anistia aos condenados pelos ataques golpistas de 8 de janeiro na Câmara dos Deputados”.
O senador Ciro Nogueira, ex-ministro de Bolsonaro, afirmou, por outro lado, que “o ato isolado de um desequilibrado é o que é: um absurdo. Mas daí a extrapolar uma atitude mentecapta de um indivíduo para dar contornos institucionais a esse incidente abominável é dizer que nossa democracia não é sólida e resiliente como ela é”.
Afirmou ainda que “isso tem de ser tratado como o que foi: um ato de loucura, de uma pessoa, um ato inadmissível. Agora, o importante é que tudo seja elucidado por investigações absolutamente inquestionáveis e, além de lamentar o episódio, exaltar que não houve nenhuma vítima da explosão além do próprio autor, graças a Deus”.
Os bolsonaristas, então, percebem que o atentado fracassado de um homem deverá ser usado para aumentar a repressão do Judiciário. A imprensa burguesa, no que lhe concerne, defende que isso seja realizado. Um artigo do Estado de S. Paulo destacou que “explosões na Praça dos Três Poderes enterram as chances de anistia a acusados pelo 8 de Janeiro” e que “[o] episódio mostra que ameaças à Corte continuam vivas e tende a fortalecer as posições duras do ministro Alexandre de Moraes”.
Em outras palavras, o núcleo duro da burguesia, possivelmente, prepara o terreno para aumentar a repressão do regime político, usando os bolsonaristas como espantalho para tal. Mas o problema, em si, não é o bolsonarismo — que, de fato, é um amigo inconveniente da direita tradicional —, mas o próprio fechamento do regime.
Também no Estado de S. Paulo, um articulista publicou que “explosões em Brasília na véspera do G-20 vão afetar cúpula e exigir mais medidas de segurança”. Mas, afinal, o que o G20 tem a ver com o bolsonarismo? O jornalista Felipe Frazão, que assina a reportagem, informou que “um embaixador com papel central no G-20 afirmou que certamente o nível de segurança será elevado para a cúpula a partir de agora”.
Ele informa ainda que, além dos outros preparativos de repressão, “o presidente decretou o emprego das Forças Armadas no período de 14 a 21 de novembro, em Garantia da Lei e da Ordem, a GLO. O controle de espaços pelos militares já começaria nesta quinta, mas agora deverá ser elevado, segundo um embaixador”.
“O efetivo previsto era de 9 mil militares da Marinha, Exército e Aeronáutica, segundo o Ministério da Defesa. Eles atuarão na Marina da Glória, no MAM, Monumento a Estácio de Sá, hotéis da Orla do Leme à Barra da Tijuca, aeroportos Santos Dumont e Galeão (usado pelas comitivas com voos oficiais) e nos respectivos deslocamentos das autoridades.”
A pergunta deve ser feita novamente: o que os bolsonaristas têm a ver com a segurança do G20? Nada. A única mobilização que está sendo chamada durante a cúpula é a que está sendo organizada pelos Comitês de Luta, o Partido da Causa Operária (PCO) e outras centenas de organizações e dirigentes — incluindo membros da direção do Partido dos Trabalhadores.
Ao que tudo indica, o atentado servirá não para perseguir os bolsonaristas apenas, mas para aumentar a repressão em geral em território nacional. A esquerda não deve cair nessa armadilha e deve lutar contra a repressão, em defesa dos direitos de expressão e mobilização, contra a ditadura da burguesia.